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Raquel P deixou a montra do Makani para fugir do preconceito

Fotos: Rui Oliveira/Global Imagens

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Ela está agora na orla da costa marítima do Porto, fala do episódio com melancolia, diz que é uma tristeza, teve que desistir. Mas antes: Raquel P é a cara tal qual de Nicki Minaj, a cantora de “Whole lotta money” e de “Tusa” que também é parecida com Cardi B, que por acaso também se parece com Megan Thee Stallion, a rapper acobreada do som descomunal de “WAP”, uma canção de devassa, toda indecorosa, deliciosa. Ela ri. “Sim, já me chamaram Nicki, uma ou duas vezes, talvez três, nem gosto muito do som dela, ouço mais Van Morrison, Wu Tang, Michael Kiwanuka, Isaac Hayes, tenho vinis em casa para mostrar.”

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Imagem e edição de Sofia Marvão

Raquel tem uma história breve, esteve cinco meses no Makani, uma plataforma de serviço digital “à la carte” como o Only Fans, onde ela metia as suas fotos de nus artísticos, muito cuidados, relimados ou então ornamentada em lingerie insinuante, hialina, bem ornada, de bom gosto, fotografias para atear fantasias, nada de mais.

“Não era mesmo nada de especial, basicamente era só para mim, gosto de me ver, sempre gostei, gosto de fotografia também, não me importo de posar, é tudo para a minha autoestima. Mas como não tenho nada a esconder, resolvi aderir ao Makani e publiquei umas fotografias. Apareceram fãs, compravam, cheguei a fazer 500 euros por mês, mas não dei grande importância ao assunto, ali ninguém fica milionário, é um mito.” E a coisa assim ficou.

Mas um dia, ela percebeu logo mal entrou, a coisa descambou e chegou a estrondear. Os colegas da empresa onde ela trabalha, uma firma cheia de homens e trogloditas, descobriram a página da Raquel. “Primeiro ouvi os boatos, os mexericos, tudo a olhar, aos risinhos, aos grupinhos. Foi péssimo, foi um desconforto dias seguidos. Senti-me vulnerável, desrespeitada, humilhada, desmoralizada, fui assediada, parecia que eu é que era a anormal.”

Raquel apagou logo a página, mas aquilo que entra na Internet, é como em Vegas, fica para sempre na Internet e ela via as cópias das suas fotos a circular. “Foi pavoroso. As cópias eram ilegais, eu devia era processá-los, aquilo tem direitos de autor, mas não quis descer ao nível deles, as ações deles ficam com eles. Para mim aquilo é arte, é bonito, é a minha visão. Mas para eles, que são ignorantes, não sabem mais, aquilo era pornografia e eu fui tratada como tal. Foi uma tristeza, foi o que foi.”

Não perdeu a compostura, Raquel, só provisoriamente deixou de sorrir. Mas o orgulho dela não esvaeceu, aguentou-se, o namorado e as amigas nunca a deixaram cair, já se reergueu. “Isso já está lá atrás, eles é que são pequeninos, eu sou da altura que quero ser, não lhes devo nada, nem a ninguém, orgulho, só tenho orgulho naquilo que sou” – e ela engole um palavrão que só quando fica sozinha é capaz de bramar. A vingança vai servi-la fria: vai obviamente voltar a publicar, esse dia está quase a chegar.

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