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Flashback: os portugueses que partiam para Angola

Antes, em 1936, o mesmo quadro. O mesmo adeus. A mesma esperança num futuro promissor.
Bagagens. Embarques e desembarques. Pais com crianças ao colo. A azáfama antes de cada partida estendia-se sempre até à rua.
Pela parte que lhe tocava, a tripulação comprometia-se a dar o melhor acolhimento possível a todas as famílias que partiam.
Dos bens que cada família recebeu constavam duas vacas leiteiras, duas juntas de bois, 100 hectares já semeados de milho e feijão prontos a colher, terras de regadio para horta, mato para pastagem e um cercado com árvores de fruto.
A bordo do Benguela, 22 famílias das zonas rurais do concelho da Guarda sonhavam já com a chegada.
A 11 de março de 1953, pelas 15 horas, subiam também a bordo o ministro e o subsecretário do Ultramar, Sarmento Rodrigues e Raul Ventura.

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Texto de Ana Pago | Fotografias do Arquivo DN

Talvez tenha havido lágrimas ao saírem das suas casas para virem para Lisboa, 22 famílias das zonas rurais do concelho da Guarda a caminho de colonizarem Angola. Despedidas certamente que as houve. E promessas, tantas. E muita saudade.

Agora, porém, prestes a embarcarem no navio Benguela da Companhia Colonial de Navegação, com o colonato de Cela no horizonte, só conseguem pensar que seria um grande disparate não terem vindo. Santo Deus, que aventura maravilhosa e louca será esta viagem só de ida.

Ao todo, 123 pessoas fizeram-se ao mar nesta leva de colonos, entre 74 crianças e 49 adultos.

«As primeiras famílias rurais do Continente que vão estabelecer-se no planalto do Amboim, em Angola, partiram ontem alegres, risonhas e confiadas no auxílio que o Estado lhes oferece», relatava o DN de 12 de março de 1953, atento à movimentação de gentes e bagagens.

«Nem um só apresentava expressão de incerteza ou de preocupação quanto ao seu destino. Sabem que um novo lar os acolherá confortavelmente numa terra distante que, embora desconhecida, é o prolongamento da pátria portuguesa.»

Lá longe, nos novos aldeamentos, esperava-os uma casa rural com as dependências necessárias a uma pequena exploração agrícola.

Ao todo, 123 pessoas fizeram-se ao mar nesta leva de colonos, entre 74 crianças e 49 adultos, dos quais «cinco velhotes que acompanham os filhos casados».

Lá longe, nos novos aldeamentos, esperava-os uma casa rural com as dependências necessárias a uma pequena exploração agrícola, um terreno com área para uma família de agricultores, as alfaias e ferramentas para exploração do contrato que lhes foi confiado, gado e criação.

De resto, eles sabem que «com o seu próprio esforço, com a sua robustez física e moral, terão de trabalhar a terra que será o seu pão e o seu título de honra».