Publicidade Continue a leitura a seguir

Pais recém-nascidos

Publicidade Continue a leitura a seguir

Solteiros, divorciados, casados. Jovens ou mais velhos. A viver a experiência da paternidade pela primeira, segunda ou terceira vez. Nada disso importa. Ser pai não é um estado. Ser pai é uma avalancha de emoções. Que se repete uma e outra vez. Sempre que um filho nasce. Em véspera do Dia do Pai, demos a palavra a cinco homens. Todos pais acabados de nascer.

JOSÉ LUÍS MENDES, 52 ANOS, CASADO, EMPRESÁRIO
Isto é magia!

Ser pai já não era novidade para mim. Mas voltar a ser pai aos 52 anos tem uma força e uma intensidade diferentes. A responsável por esta obra é a Ana, a mãe da Carolina. A Ana tem 33 anos. Vivemos juntos há quatro, casámos há ano e meio. Tive alguns receios. Mas não podia negar a ma­ternidade a uma mulher de 30 anos, que eu amava. A Caroli­na é o resultado deste amor bom que me aconteceu depois de um divórcio complicado. É a minha terceira filha. Nasceu de cesariana. Às 07h50 da manhã, dia 8 de julho de 2013. Pesava 2,880 quilos, media 48 centímetros. Eu estava lá.

Três gravidezes, três nas­cimentos, três vidas nasci­das também de mim. Todas me marcaram. Cada uma à sua maneira. É verdade que já passou muito tempo e se ca­lhar não recordo todos os por­menores das manas mais ve­lhas. Mas lembro-me do im­portante. O nascimento da Mariana, que tem 22 anos, foi a novidade, a descoberta de um amor novo e diferen­te. Com a Leonor, agora com 18 anos, veio a confirmação de que esse amor imenso pe­los filhos se multiplica e que é mesmo possível amar tanto a segunda como a primeira. Com a Carolina, o que aconteceu foi magia. Senti-me afortunado por voltar a sentir um amor incondicional. Esta bebé mexeu imenso comigo. Só quero que ela seja feliz. E que cresça saudável.

Estive presente nas três gravidezes, sempre atento às con­sultas e aos pormenores das ecografias, assisti aos três partos, vi a vida acontecer três vezes. Cada momento foi único e to­cante. Mas com a Carolina houve um envolvimento diferen­te. Começou ainda na gravidez da Ana. Hoje a tecnologia está tão avançada, as imagens têm tão boa resolução que, na eco­grafia das sete ou oito semanas, fiquei meio embasbacado. Um ser com tão poucos milímetros e com tanto potencial. Mar­cou-me, a vida que havia ali. Foi uma imensidão de emoções. Fiquei arrepiado.

E quando a vi nascer, voltei a sentir arrepios. As batidas car­díacas aumentaram, a respiração acelerou, passaram-me pelo pensamento uma série de valores. Integridade, bondade, hu­mildade. Os médicos estavam com a atenção centrada na mãe e na bebé mas, com era uma cesariana, também estavam de olho em mim. Se calhar, pensavam que eu não me ia aguentar.

A Carolina nasceu no Hospital da Luz, em Lisboa. E eu fi­quei lá com ela e com a mãe de segunda-feira, o dia em que nas­ceu, até quinta, quando tiveram alta. Mamou sempre muito bem. Como se tivesse nascido com um software que a instruía a procurar o seu sustento. Achei logo que era a cara chapada da Ana. Os mesmos olhos achinesados.

Às vezes, penso que ter mais idade é uma vantagem para ser pai. Saboreamos mais e melhor. Vivemos cada momento de forma mais calma e serena. Sem stress. Sem outras preocu­pações que não sejam viver bem e intensamente. Outras ve­zes penso na minha idade e acho que, se calhar, não vou estar cá para assistir ao crescimento dela. Também a imagino ado­lescente de 15 anos, e eu já com 67. Mas que importa isso, dian­te das transformações que vão acontecer neste tempo que aí vem? Vamos mas é aproveitar e viver cada momento como se fosse o único.

ANTÓNIO ZARCO LUZ, 22 ANOS, SOLTEIRO, ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO
O teste surpresa

Às 07H00 da manhã do dia 1 de agosto de 2012, eu já estava acorda­do à espera da notícia que chegou por sms: «Fiz o teste, deu positivo.» A informação, curta e poderosa, deixou-me sem reação por alguns momentos. Já esperava. Maria, mãe do Martim e minha namorada há pouco mais de um mês, estava diferente. Sonolenta e sempre com vontade de comer bolas-de-berlim. Estava grávida. E agora? Liguei–lhe e ela confirmou. Nessa altura, abriu-se um mundo novo diante de mim, com boas hipóteses e más também. Que fazer?

Estávamos de férias, cada um com a respetiva família. Eu na Fi­gueira da Foz, ela no Algarve. Tínhamos de nos encontrar para fa­lar. Arranjámos uma desculpa e dois dias depois viemos para Lis­boa. Entretanto, comecei a pensar que queria ter o bebé. Estava no último ano da licenciatura [Economia, no Instituto Superior de Economia e Gestão] e, pronto, tinha de me fazer à vida. Como um adulto. Mas ela achou que não. Que eu, com 21 anos, era demasiado novo para ser pai. A Maria, na altura com 26, estava no último ano de Medicina Veterinária.

Depois de muita conversa, decidimos que o melhor era ir à gine­cologista. Era a prova dos nove. E o que eu sinto é que aquela con­sulta e a confirmação médica fizeram toda a diferença para a mãe: decidimos ter a criança. E voltámos para as férias, cada um para as suas famílias. Tínhamos de lhes contar.

Comigo foi tudo relativamente fácil. Tenho uma grande empa­tia com a minha mãe e por incrível que pareça ela adivinhou o que se passava. Depois do jantar, estávamos no terraço, e ela disse-me: «Conta lá António. Vais ser pai, não vais?» Foi um alívio dizer-lhe e sentir que ela me apoiava. Entretanto, chamou o meu pai e disse-lhe: «Ouve lá o que o nosso filho tem para dizer.» E eu avancei: «Pai, vou ser pai.» Ele ficou surpreso, mas também reagiu bem. Disse-me que ser pai não era a morte do homem e que eu tinha de perceber que a minha vida ia mudar. A seguir fomos os três a um bar beber um copo e comecei sentir-me confortável. Com a família da Maria, a primeira abordagem foi um pouco mais difícil, mas o choque passou rápido.

Os meus pais fizeram tudo o puderam. Continuam a fazer. Eu ain­da estou a estudar [mestrado em Marketing, no ISEG] e dependo de­les. Em 2012, antes de o Martim nascer, fui viver para casa da Ma­ria, em Benfica. E claro que estive presente em todas as consultas e ecografias e fiz a preparação para o parto. Aprendemos imenso os dois. Eu era o pai mais jovem das aulas, mas o que fazia mais pergun­tas. Assisti ao parto e sofri imenso por não poder fazer nada duran­te aquelas 17 penosas horas, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Depois da preocupação com a mãe, veio o medo pelo Martim. Nas­ceu depois de um esforço imenso. Foi puxado com ventosas e tinha a cabeça em forma de cone. Mas o pior foi o cordão à volta do pesco­ço, a cor estranha que tinha e o facto de não chorar. Foi aí que senti o que é ser pai. Nunca me tinha preocupado tanto com alguém e agora estava desfeito sem saber como é que estavam aqueles três quilos de gente. Os poucos minutos que passaram até o trazerem de volta pa­receram uma eternidade. Mas estava tudo bem e quando mo puse­ram nos braços e ele olhou para mim… foi brutal. Foi nesse momento que senti que tinha um filho, foi aí que eu nasci como pai!

O peso da responsabilidade só o senti à saída do hospital. Quan­do fechámos a porta do carro e ficámos os três sozinhos. O Martim aconchegadinho no ovo e eu a pensar na segurança da condução. Fo­mos para casa da Maria e começámos uma nova etapa. Com mui­ta mudança. Com um bebé a ser o centro das nossas atenções e deci­sões. Um ano depois continua a ser assim, mas a nossa vida é melhor. Eu e a Maria continuamos a namorar e a estudar. A única alteração é que voltei a viver em casa dos meus pais. Para eu e a Maria continuarmos a estudar é mais fácil assim. O Martim fica uma semana comi­go, outra com a mãe. Alternadamente. Mas todos os dias eu e a Maria estamos com o Martim. E aos fins de semana estamos todos juntos.

PAULO FARINHA, 39 ANOS, SOLTEIRO, VIVE EM UNIÃO DE FACTO, JORNALISTA
Filho és, pai serás

Eu sabia que a partir das 24 semanas de gravidez, aproxima­damente (basta a primeira consulta para passarmos a falar em «semanas», coisa que era chinês para qualquer homem antes de sonhar ser pai), o bebé dentro da barriga da mãe começa a identificar os sons do que se passa cá fora. Por isso, tenho a cer­teza de que as minhas filhas já conheciam a minha voz quando nasceram. Por várias vezes, durante a gravidez, falei com elas. Disse disparates, contei-lhes histórias, numa ou outra ocasião até cantei. Mal, claro.

«Olá filha, eu sou o teu pai.» Esta foi a primeira frase. Foi pensada, ensaiada e depois sussurrada aos pequenos ouvidos das minhas filhas, poucos minutos depois de nascerem, en­quanto tentava não me engasgar por causa do choro. O meu choro. Foram as primeiras palavras que eu queria que elas ou­vissem da minha boca. O resto veio de improviso.

Tal como tantos outros pais, farto-me de tirar fotografias às minhas filhas. Hoje, com os telemóveis e as máquinas digitais, tenho centenas de imagens que se calhar nunca vou organi­zar. Mas, no caso da Madalena, a mais nova, há cinco fotogra­fias de que gosto particularmente: com uma hora, com um dia, com uma semana, com um mês e com dois meses. Na verdade há uma sexta imagem. Anterior às outras. Tirada umas dez ou onze horas antes do parto, regista o momento em que a Caro­lina riscava a barriga da mãe com marcadores. «Faz um dese­nho para a mana», pedimos-lhe. E ela fez. Foi o último dia da Carolina como filha única. Durou apenas 17 meses. No dia se­guinte, foi promovida a irmã mais velha.

A Carolina nunca se vai lembrar de como era a vida dela an­tes de chegar a Madalena. É muito pequenina. E isso, apesar de me encher o coração, também traz alguma apreensão: será que fizemos bem? Será esta tão curta diferença de idades boa para elas? Para nós é uma violência de cansaço. A falta de ho­ras de sono durante a noite é terrível para o humor durante o dia. Mas isso vai passar. Os 17 meses de diferença que elas têm é que será sempre igual. Será que conseguiremos dar a devi­da atenção às duas?

Penso nisto muitas vezes. Na verdade, eu penso muito. De mais, talvez. São tantas as dúvidas que me atravessam a ca­beça, quando olho para estas criaturas. Tantas. Será que vou gostar tanto da Madalena como gosto da Carolina, que já levanta os braços para mim e me diz «papá»? Afinal, a pri­meira é a primeira… À noite, quando lhes dou banho, pri­meiro à Madalena, depois à Carolina, de manhã, quando dou o biberão à mais velha, à hora de jantar, quando invento uma história para ela comer brócolos, a meio da noite, quan­do deito a mais nova sobre o meu braço para lhe acalmar as cólicas… Em tantos desses momentos, não paro de pensar que elas vão crescer. E que vão conhecer pessoas. E que te­rão namorados. Ou namoradas. E que um dia vão sofrer e te­rão corações partidos. E também vão partir corações. E vão dar beijos. E vão-se entregar a alguém. Trocar intimidade. Ahhh, bolas, um dia elas tomarão decisões por elas e eu não serei tido nem achado. Como é que as preparo para isso? Co­mo é que preparo o caminho? Como é que as educo para os afetos? Como é que as posso ensinar a dizer «amo-te» só nas alturas certas, mas sem nunca deixarem de o dizer quando for mesmo importante?

Às vezes pergunto se o meu pai teve estas dúvidas. Os tem­pos eram outros e sei que ele, apesar de ter tido duas filhas e um filho, não deu tantos ba­nhos como eu e não mudou tantas fraldas como eu (já dis­se que, entre uma bebé de 2 meses e uma bebé de 19 me­ses, todos os dias saem des­ta casa 12 a 16 fraldas sujas?). Mas se ele não teve estas, te­ve outras dúvidas quaisquer, aposto. E momentos de incer­teza. Todos os pais têm. Te­nho de lhe perguntar. Nunca tive coragem para o fazer, na verdade…

Um dia vai saber bem ver as minhas filhas a brincar juntas e a ser companheiras. Dizem que a Madalena vai desenvol­ver-se mais depressa por causa dos estímulos da Carolina, mas… eu não quero que ela cresça depressa. Eu quero que elas cresçam devagar. Devagarinho. Para eu aproveitar.

JORGE POMBO, 50 ANOS, DIVORCIADO, VIVE EM UNIÃO DE FACTO, AGENTE DE NAVEGAÇÃO MARÍTIMA
Impossível viver sem ele

Ter um filho – e ter um filho aos 50 anos – não era um projeto que eu tivesse pla­neado para a minha vida mas, um mês passado sobre o nascimento do Filipe, a ver­dade é que já não me imagino a viver sem ele. A minha vida é melhor. A minha vida com a Raquel, minha companheira e mãe do Filipe, também é melhor. Vivo uma sensação de ternura incontrolável. Ainda pergunto como é que um ser tão peque­nino, que acabou de entrar nas nossas vidas e que quase não interage connosco, po­de fazer eclodir tanto carinho dentro de nós. Com a chegada dele também vieram as transformações. Estamos numa fase de reorganização das rotinas, dos horários, dos sonos. Sem sobressaltos. Um filho, afinal, é uma coisa normalíssima na vida das pessoas. Vamos fazendo as coisas da maneira mais natural possível e tentamos le­var o dia-a-dia com algum humor. Só que, no trabalho, dou por mim a pensar nele.

A gravidez do Filipe foi muito tranquila. Ele começou por ser pensado e deseja­do pela Raquel, 36 anos. Foi ela que me puxou para esta serena aventura. Duran­te a gravidez, olhava com espanto para as imagens das ecografias, ouvia curioso as batidas cardíacas, via e sentia o vigor dos movimentos do Filipe na barriga da mãe. Achava piada, mas nada disso me comovia. A minha preocupação era saber que es­tavam bem. E depois havia aqueles sentimentos contraditórios. Por um lado, a feli­cidade. Por outro, a responsabilidade e a dúvida. Teria tomado a decisão certa? Ho­je sei que sim. Mas a verdade é que só me senti pai na noite em que o Filipe nasceu.

Foi de madrugada. Passavam cinco minutos da meia-noite do dia 7 de fevereiro de 2014. Depois de um tra­balho de parto de 12 horas, os médicos reuniram e deci­diram fazer uma cesariana. Por isso não assisti ao nas­cimento. Foi no Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa. Quando vi o Filipe, já depois da uma da manhã, ele estava vestido e tinha um barretinho na cabeça. A Raquel estava no recobro. Foi estranho. Uma sala enorme. Pareceu-me fria. O médico que me acompa­nhou falou imenso, mas eu não me lembro de nada. Só registei que o Filipe tinha um índice de Apgar 10 [o pri­meiro «teste» feito aos recém nascidos e que avalia a vi­talidade ao primeiro e ao quinto minutos de vida]. Que­ria dizer que estava bem.

Um filho deve entrar naturalmente na vida do casal. Connosco tem sido assim. Tranquilo, sem desassosse­go. Até na partilha das tarefas. É a Raquel que o alimen­ta, dá-lhe mama. Eu dou-lhe banho e faço o que for preciso. Por razões que têm que ver com o meu trabalho, não vamos partilhar a licença. Às vezes gosto de ter o Fi­lipe ao colo e de ficar só a olhar para ele. Quando ele crescer, quero ser um pai que o ensina e que o espicaça a ter gosto pelo conhecimento. Arte, literatura, música, ciência. Acima de tudo, quero que o meu filho possa fazer as coisas de que gostar.

JOSÉ RODEIA, 42 ANOS, CASADO, MILITAR DO EXÉRCITO
Um amor que cresce

ASSIM QUE a minha mulher ficou grávida da Maria Carolina dei por mim a viver de novo todas as emoções da paternidade. Sou pai repetente, mas talvez por esta gravidez só ter aconte­cido 13 anos depois da do Miguel, o nosso primeiro filho, voltei a viver cada momento como se fosse a primeira vez. Envolvi–me muito. Envolvo-me sempre. Eu não participo, eu sou par­te. De tudo o que uma mãe pode fazer, eu só não a tive e não lhe dei mama. Mas estou sempre em ação. Nas consultas e ecogra­fias, no crescimento da barriga, na visita à maternidade [Hos­pital de Cascais], no parto, todos os dias depois do parto.

A Maria Carolina nasceu de cesariana. Estava sentada, não deu a volta, acho que não queria ver o mundo ao contrário. Por essa razão, só a vi dez ou 15 minutos depois de nascer. Perfei­ta, como todos os bebés que nascem sem esforço. Linda, a mais linda. Pequenina, com 2,625 quilos e 42 centímetros. O pedia­tra diz que se enganaram a medi-la, pois, na primeira consul­ta, oito ou dez dias depois do nascimento, já media 51 centíme­tros. Por muito mimada que seja, ninguém cresce tanto numa só semana, pois não?

Quando vi a minha filha pela primeira vez emocionei-me tanto que as lágrimas escorriam cara abaixo. Senti-me tão grato por poder receber e responsabilizar-me por um ser tão pequenino e indefeso. Um recém-nascido é tão dependente dos pais que, só por isso, nos obriga a renascer de novo. Hoje gosto mais dela do que quando ela nasceu. Gosto cada vez mais dela. O amor pelos filhos aumenta todos os dias. Também foi assim com o Miguel.

A nossa filha podia ter nascido mais cedo. Eu e a minha mu­lher não queríamos ter os filhos com idades muito próximas, mas também não tínhamos pensado em 13 anos de diferen­ça. Mas aconteceu assim. E está bem. O Miguel já é completa­mente autónomo, ama-a muito e sabe cuidar da irmã. A nos­sa idade é que é outra. Eu já passei os 40 anos e a Isabel tem 39. Ter um filho antes dos 30 e outro depois dos 40 não é a mesma coisa. E se o Miguel nunca nos deu uma noite ruim, ela já deu muitas. Voltar às fraldas, aos carrinhos, aos biberões, às papas e às sopas é muito bonito mas não me venham dizer que é fá­cil. Obriga-nos a fazer de novo muitas concessões pois os be­bés estão sempre em primeiro lugar.

O facto de não termos uma rede familiar próxima – somos os dois de Faro do Alentejo, no concelho de Cuba, e vivemos em São Domingos de Rana, na Parede – e de eu ser militar e ter estado durante anos deslocado também pesou na decisão de retardar o nascimento do segundo filho. Agora, durante três meses, estou a fazer um curso nas Caldas da Rainha. Só venho a casa aos fins de semana. É temporário, mas já acon­teceu noutras alturas. Preocupa-me que a Isabel fique muito sobrecarregada. Às vezes vêm cá os meus pais dar uma ajuda e os dela também.

Quando o Miguel nasceu, fui eu que fiquei de licença de pa­ternidade. Por razões profissionais, a mãe só ficou um mês em casa. Com a Maria Carolina, fizemos licença partilhada. Além dos vinte dias de licença exclusiva do pai, o último mês foi só meu. Não há nada no mundo dos bebés e dos filhos que eu des­conheça. Faço e dou biberões, mudo fraldas, dou banhos, faço sopa, brinco, adormeço, cuido dela. Com o Miguel que, além da escola, tem os treinos de futebol no Belenenses, tem jogos e torneios, faço o mesmo. Sou um pai presente. E um marido também. Importa não esque­cer esse papel.

Eu sou um pai protetor. E sou meigo e amigo dos meus filhos. Mas não assumo o papel do pai amigo. O pai tem de ter autoridade, é um orientador. É normal que os filhos discor­dem de nós, mas os pais devem incutir-lhes os valores que acham importantes. Tenho si­do assim com o Miguel e vai ser assim com a Maria Caro­lina. Como ela é menina, sus­peito de que ainda vou ser mais protector. Coisas de pai!

[Publicado originalmente na edição de 16 de março de 2014]