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Mãe, quero ser um yogui!

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O yoga não é só para adultos. Fomos assistir a uma aula desta modalida­de para bebés dos 2 aos 4 anos e a uma outra para crianças em fase escolar. Sem choros ou birras, eles e elas levam os pés ao nariz, fazem o pino e até caçam leões.

Ana levanta-se, ajeita os pés em cima do tapete azul-água. «E, agora, vamos fa­zer o nosso pino?», diz nu­ma voz entre o doce e o ma­roto. São 11h40 e, na sala, não há olhos de sono, nem bocejos, nem choros. Joana, 20 meses, ou­ve a professora e fica eufórica. A bebé bate palmas, pula com os dois pés, puxa a cami­sa da mãe. «Ora, então, vamos lá. Quero os papás e as mamãs de pé! E o vosso bebé de­ve ficar deitado de costas para o chão. Quem não está à vontade com o exercício, já sabe, não acompanha».

Joana é bebé, mas apesar do vestido cin­zento e dos collants com bolinhas, exibe uma destreza e uma coragem que fariam corar de vergonha muita gente grande. Ana Luí­sa, a mãe, ri-se divertida e é ela quem se vê em apuros para estar à altura da filha. É que en­quanto os colegas tentam, com a ajuda dos pais, fazer o seu melhor pino, Joana, que fre­quenta as aulas de yoga para bebés desde os 7 meses, faz uns dez. «Mãe, mais! Mais!», re­pete. «Ela adora! Lá em casa, passa a vida a pe­dir-nos para fazermos o pino. Depois do ba­nho ou ao final do dia, quando temos tem­po, fazemos sempre alguns», conta, a rir, Ana Luísa, 37 anos, assistente comercial, inscrita na atividade na Escola Nuno Delgado, no Par­que das Nações, em Lisboa.

O pino é, por aqui, uma espécie de «bicho-papão» que faz pais e mães torcer o nariz ou fazer um olhar felino quando lhes é pedido que segurem no seu bebé e o virem de cabe­ça para baixo. «Os exercícios mais temidos e desafiantes para os pais não o são necessa­riamente para os bebés», diz Sandra Matos, 38 anos, que após completar formação nos EUA lançou o conceito, em janeiro de 2006, em Portugal. «Os bebés adoram cambalho­tas e estar no ar. Há pais que nos dizem: “Eu já não fazia um pino há mais de trinta anos!”

O Babyoga é isso mesmo: uma linguagem muito própria entre pais e filhos», explica a professora e fundadora da Escola Babyo­ga Portugal. O medo e a desconfiança desa­parecem depressa. «Quando percebem que os seus bebés estão entregues ao exercício e bem, os pais adoram…», diz Sandra, que faz yoga há mais de 15 anos e tem como fiéis «alunas» as três filhas Zoe, de 10 anos, Yas­min, de 6, e Gaia, de 2.

Ana Sofia Barrias, 37 anos, que dá aulas há seis anos e se rendeu à prática do Babyo­ga quando Miguel, o seu primeiro filho, ti­nha 2 meses, assume o orgulho no que faz e garante que os benefícios para os bebés são «todos». «O yoga trabalha todo o organis­mo em diferentes vertentes, sejam físicas ou mentais. Ajuda na construção de um vínculo afetivo entre pais e filho e ensina várias técnicas para acalmar o bebé. Muitas mães procuram-nos com alguma ansiedade porque não percebem por que é que ele está a chorar, e, aqui aprendem que, às vezes, chorar é essencial. O que fazemos nas aulas ajuda a reduzir muito o nível de stress e ansiedade dos pais.»

 

Celina Duncan com a filha Ema. Ao fundo Joana, com a mãe, Ana Luísa.

Celina Duncan, 31 anos, despede-se. Não vai voltar à escola. Dentro de uma semana, regressa ao Brasil, após dois anos a acompanhar o marido, piloto da força área brasileira, que veio trabalhar em Portugal. Mãe de duas meninas, Alicya, de 18 meses, e Ema, de 4, conta que começou a fazer Babyoga há muito tempo. «A minha filha Alicya tinha apenas dois meses e vi logo benefícios, desde o início. Começou a gatinhar muito cedo, era um bebé muito agitado e que dormia muito pouco…E passou a ser mais calma». Ana está tão fã da modalidade que vai agora dar aulas no Brasil. «Lá o Babyoga não é como aqui. Não é uma aula cem por cento voltada para o bebé.»

O marido, Dénis Duncan, embala Ema. Ele perdeu a vergonha e por amor às filhas juntou-se às aulas. «A minha primeira vez aqui foi quando a Alicya fez a terceira aula. Hoje reconheço que tenho outra relação com a Ema porque aprendi a manusear o meu bebé. Melhorei muito a maneira de segurar a coluna, o pescoço e a cabeça dela», conta. «Vale a pena experimentar. Às ve­zes, os homens têm maior dificuldade em in­teragir com os filhos e esta é uma forma de ajudar e acalmar o seu bebé. Tudo o que se aprende aqui, pode ser repetido em casa. Eu já me sinto um pai campeão», diz.

«Atenção, atenção! Uma história vai co­meçar, quero os olhos bem abertos e as orelhas no ar! E que história é que eu irei hoje contar?», pergunta Ana despertan­do a curiosidade na sala. «É a história do índio», responde com prontidão Íris, de 6 anos, que é uma das quatro alunas do Funyoga 1 – uma aula para crianças ligei­ramente mais velhas. De fitas postas na ca­beça, mães e crianças são, agora, índias e, por isso, «viajam» até uma floresta. Sara Tanackovic, de 37 anos, e a filha Íris entre­gam-se à brincadeira e repetem os movi­mentos. Imitam um cão, o rastejar de uma cobra. Íris revela-se perfeita a imitar o ru­gir do tão procurado leão.

 

Aula de Funyoga, indicado para crianças em idade escolar.

 

Tanto nas aulas de Funyoga como nas de Babyoga, miúdos e graúdos afinam a voz e cantam, do início ao fim, enquanto cum­prem cada uma das atividades. «O cantar da mãe é importante para o bebé. Os bebés gostam de lhe ouvir a voz. E ouvem sem­pre melhor algo que tenha ritmo do que al­go verbal», explica a Ana Sofia Barrias. Praticar Funyoga, indica a professora, traz be­nefícios que vão desde «o reforço do sistema imunitário ao reforço da autoestima. Nes­tas idades é importante que a criança se sin­ta segura, até por causa dos resultados esco­lares. Temos crianças de 8 e 9 anos que têm ataques de ansiedade antes de fazerem os testes… No yoga, damos precisamente essas ferramentas para poderem utilizar no seu dia a dia, seja na escola seja em família».

Se o bebé ou a criança em causa é en­vergonhado, irrequieto ou choramingas, não há razões para os pais desistirem da prática, avisa a professora Sandra Matos: «Aquilo que fazemos é identificar, antes de tudo, o ponto em que está o bebé ou a crian­ça que nos chega, e é a partir daí que apre­sentamos os conteúdos do yoga. Nada é im­posto ao bebé. As crianças são muito inte­ligentes e só nos dão atenção se estiverem interessadas».

Gabriela, fã assumida da Hello Kitty, tem apenas 4 anos mas traz no rosto – como Joa­na, Alicya e Íris – a alegria de ser uma yogui. «A Gabriela adora o yoga desde muito peque­nina. Em casa, faz os pinos e canta as músicas. Muitas vezes vou dar com ela a repetir as posi­ções quando está a brincar com os Nenucos…», partilha a mãe, Bárbara Pina da Câmara, de 40 anos, educadora de infância.

Mas não foram só os bonecos que lá por ca­sa viraram yogui, sem opção. Os adultos já não escapam de ouvir: «Vá lá, pai, respira. Vais ver que te vais sentir melhor. Mas respira devaga­rinho, como diz a Ana.»

 

INFORMAÇÕES ÚTEIS

O Babyoga é praticado em conjunto, pais e bebés, e resulta de uma mistura de po­sições do yoga clássico com outras, criadas especificamente para estimular uma me­lhor integração sensorial do bebé. As aulas dividem-se em níveis: Babyoga 1 é dirigido a bebés dos 2 aos 8 meses; o 2 dedicado aos que têm entre 9 e 24 meses, e, por último, o 3 para bebés dos 2 aos 4 anos. O Funyoga, por seu lado, é dirigido a crianças em idade escolar. Mistura histórias, jogos, relaxamen­tos e visualizações que ajudam a estimular o desenvolvimento e as emoções. Divide-se em dois níveis: Funyoga 1, dos 5 aos 9 anos e o 2, dos 10 aos 12.

As aulas de Babyoga e Funyoga estão dis­poníveis em Lisboa, Porto, Algarve, Açores e Madeira. Os valores variam de região para região. Em Lisboa, e no caso do Babyoga, rondam os 15 euros por aula, que inclui dois adultos e a criança. No Funyoga, os valores são os mesmos, mas se for só a criança são 10 euros. A Escola Babyoga Portugal cede apoio a crianças com necessidades espe­ciais, e tem parcerias com escolas públicas e privadas. Para mais informações consultar: www.babyogaportugal.com