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Rubrica "A vida como ela é", de Margarida Rebelo Pinto.

Namorar é o estado ideal para quem gosta de aprofundar o prazer, contrariando o toca-e-foge estéril e limitado. Além disso, faz bem ao coração e à pele.

Nem tudo é mau na realidade alternativa a que o Mundo chama realidade virtual. Em tempos de tirania das redes sociais, a criação de hashtags ao serviço das mais variadas causas ajuda a propagar ondas de solidariedade. Não acredito na sua eficácia a ponto de mudar mentalidades, ainda assim, o Mundo pode avançar na direção do bem. Há menos de meia dúzia de anos, apercebi-me como as redes sociais estavam a afetar as estruturas emocionais. Traições, separações, vidas duplas, fixações e mais uma mão-cheia de comportamentos disruptivos e tantas vezes destrutivos vieram ao de cima. Trair, enganar e mentir fazem parte da génese humana. Com as redes tudo se tornou mais evidente e, ao mesmo tempo, mais denso e complexo. A aparente facilidade do contacto por meios virtuais proporciona uma falsa sensação de proximidade: não há nada mais fácil do que ficar horas à palheta com um quase desconhecido ou com o antigo namorado da universidade que, qual Fénix renascida entre as cinzas, surge na bruma da solidão empunhando uma bandeira de esperança.

Com o aumento da oferta de contactos e potenciais flirts, homens e mulheres foram tirando partido desse grande viveiro que pode dar origem a aventuras fugazes, casos por tempo indeterminado e paixões assolapadas, daquelas que nos deixam de olhos abertos às três da manhã a ver lindos arco-íris desenhados no escuro. Nada contra, se não partíssemos do pressuposto errado que é acreditar que estamos a comunicar, quando na verdade estamos apenas em contacto. Comunicar ultrapassa em muito as palavras escritas entre duas pessoas que estão em realidades diferentes. Falta o olhar, a linguagem corporal, a temperatura, o sorriso, o tempo dos silêncios que tanto diz. Numa palavra, falta a presença, aqui e agora, numa conversa a quatro olhos.

Perante isto, se o princípio já induz ao erro, os tropeções sucedem-se e as narrativas repetem-se: elas queixam-se de falta de consistência ou de interesse, eles reclamam que elas vivem na busca eterna de uma relação estável e duradoura. Caros senhores, em nome do eterno feminino, salvaguardando as clássicas exceções, seria bom que entendessem que as mulheres preferem quase sempre namorar. As mulheres realizam-se na continuidade, pois é nela que crescem, se fortalecem e procriam.

O homem é por natureza caçador e lutador, enquanto a mulher é cuidadora e recoletora. O homem é sexualmente intermitente, a mulher é continuamente erótica. Por outro lado, o vínculo traz segurança à mulher, perante si mesma e perante os outros. Não há nada de errado em querer namorar, desejando uma relação com futuro, ou pelo menos com a possibilidade de algum futuro. De outra forma, se facilitarmos a vida à rapaziada, as relações tendem a perder-se em episódios lúdicos, quais voltinhas nos carrinhos de choque, com embates mais ou menos aleatórios e menos ou mais violentos, consoante os níveis de carência e os graus de expectativa.

Na linha contrária à atual tendência para o caos emocional, criei este hashtag do qual muito me orgulho. Namorar é o estado ideal para quem gosta de aprofundar o prazer, contrariando o toca-e-foge estéril e limitado. Além disso, faz bem ao coração e à pele.