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80 anos desde o primeiro voo entre Portugal e Inglaterra

O avião, abastecido desde o dia 3 de fevereiro, permaneceu essa noite ao ar livre. Só poderia voar no dia seguinte.
Muitos entusiastas da aviação acorreram ao aeródromo de Sintra para assistir às manobras de aterragem do pequeno aparelho de três motores.
E outra multidão, tão grande ou maior do que aquela que assistiu à chegada, quis ver com os seus próprios olhos a partida do Lisboa, a fazer história na aviação comercial.
O Sr. Crilly, diretor da companhia que explora a carreira, assistido pelos seus funcionários, acompanhou interessadamente os preparativos da largada.
A pista enlameada, ainda muito encharcada pelas últimas chuvas, impediu o trimotor de descolar a 3 de fevereiro.
Dentro e fora do trimotor, as verificações acontecem a cada instante para que nada falhe na inauguração das carreiras entre Lisboa-Londres, exploradas pela Crilly Airways.
Pormenor de uma roda do pequeno avião enterrada no chão cheio de lama da pista.
A prepararem-se para descolar, os responsáveis por levarem o Lisboa a bom porto estudam o boletim meteorológico.
Segundo a carta meteorológica entregue pelo capitão Caldeira Pires ao piloto, a descolagem era permitida sem apreensões.
A 4 de fevereiro, o trimotor pôde finalmente descolar do aeródromo de Sintra para Croydon, a sul de Londres, com paragem em Madrid.
A honra de "amadrinhar" o trimotor coube a Maria do Carmo Carmona Costa – neta do então presidente da República Óscar Carmona –, que partiu a garrafa de champanhe com que se fez o batismo do Lisboa.
Um momento histórico como foi esta inauguração das carreiras aéreas entre Portugal e Inglaterra justificou toda a pompa e circunstância do primeiro ao último dia.

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Texto Ana Pago | Fotografia Arquivo DN

Era o inventor Leonardo da Vinci quem o jurava a pés juntos: uma vez que alguém tenha experimentado voar, andará pela terra com os olhos voltados para o céu, onde esteve e para onde deseja voltar. Quase de certeza que o piloto do trimotor Lisboa se terá lembrado muitas vezes desta frase, a 3 de fevereiro de 1936, quando o pequeno avião não pôde descolar do aeródromo de Sintra para Croydon, a sul de Londres, em resultado de os pneus do trem de aterragem se afundarem na lama da pista, ainda muito encharcada pelas últimas chuvas.

«Ontem de manhã [3 de fevereiro] estava tudo preparado para a descolagem do trimotor Lisboa que, conforme noticiámos, ia inaugurar as carreiras entre Lisboa e Londres, exploradas pela Crilly Airways», contava o Diário de Notícias, atento às manobras do piloto.

Às 8h30, os três motores do aparelho começaram a funcionar.

Ele até queria voar para bem longe, com o avião abastecido desde a véspera, mas naquele dia não deu – desapontando os entusiastas da aviação que acorreram a Sintra para assistir às manobras. Foi só a 4 de fevereiro que se fez história, com a partida do Lisboa a avançar, finalmente, este passo na aviação comercial.

«Às 8h30, os três motores do aparelho começaram a funcionar. Passado o tempo indispensável para “aquecer” e depois de consultado o oficial de serviço, sr. tenente Costa Macedo, acerca do melhor piso da pista, o Lisboa apontou em direção ao centro do terreno e pronto se elevou no espaço, efetuando uma descolagem impecável», relatava ainda o DN.

Às 8h50, o trimotor desaparecia no horizonte levando a bordo malas do correio com três mil cartas.

Às 8h50, o trimotor desaparecia no horizonte levando a bordo malas do correio com três mil cartas, destinadas a Londres e aos países do norte da Europa. Toda a gente se elevou com ele.

TAP
Fundada em 1945 (chamava‑se Secção de Transportes Aéreos), a TAP começaria a transportar passageiros regularmente para Londres em 1949.