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Filhos: os clientes mais difíceis com quem temos de negociar

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– Pai, tenho uma ideia.
– Contas-me no carro, anda. Já te calçaste?
– Não. Ainda não acabei de comer.
– Ainda não tomaste o pequeno-almoço? Mas eu disse para te despachares enquanto eu lavava os dentes e me calçava. O que é que estiveste a fazer?
– A ver desenhos animados. Deixaste a televisão ligada.
– Deixei a televisão ligada na condição de comeres. Eu disse que ligava se te despachasses a beber o leite e a comer o pão.
– Não. Eu é que disse que comia se ligasses a televisão.
– Não interessa quem é que disse o quê. Não discutas comigo agora. Agora tens é de te despachar, para não chegares tarde à escola e eu não chegar tarde ao trabalho.
– Mas eu vou despachar-me. Tenho uma ideia para me despachar.
– Não temos tempo para negociar mais. Agora só há tempo para te calçares. Vens a comer o pão no carro.
– Ontem disseste que não se podia comer no carro. Que o pequeno-almoço é em casa.
– Eu sei, o pai disse isso, mas hoje é um dia especial.
– Porque é que hoje é um dia especial?
– Porque estamos atrasados.
– Então se eu me atrasar todos os dias posso ir a comer no caminho?
– Não. Se te atrasas todos os dias passamos a acordar-te mais cedo e dormes menos.
– Se eu durmo menos fico com sono e sou impossível de aturar de manhã. Tu e a mãe dizem isso. E tu não queres birras de manhã.
– Pois não. E também não quero conversas. Dá cá o pé e eu calço-te.
– Não queres conversar comigo? Não gostas de mim?
– Claro que quero conversar contigo. Claro que gosto de ti. Não podemos é ter estas conversas antes de sair de casa. Não há tempo.
– Então quando?
– Quando o quê?
– Quando é que podemos ter estas conversas?
– Mas do que é que tu queres falar?
– Dos pequenos-almoços. Disseste que não se pode comer fora de casa. Que não é saudável e gasta-se dinheiro e ficas com o carro sujo. Preciso de perceber isso.
– O pequeno-almoço toma-se em casa. Sempre.
– E porque é que hoje eu posso tomar no teu carro?
– [suspiro] Já te disse, porque hoje é um dia especial. À terça-feira podemos comer no carro. É o único dia.
– Estás a inventar, não estás?
– Estás a começar a enervar-me. Pega no pão e vamos embora.
– Não te chateies comigo. Eu acabo o pequeno-almoço aqui. Mas só se ligares outra vez a televisão.
– E eu não te ponho de castigo se beberes esse leite agora antes de sairmos. Sem me pedires para ligar a televisão. E comes o pão no caminho
– Vou ficar de castigo se não beber o leite? Mau.
– Estás a enervar-me mais.
– Eu bebo o leite se me levares ao colo nas escadas.
– Eu levo-te ao colo se te calçares sozinha enquanto eu vou buscar a tua mochila à cozinha.
– Eu calço-me sozinha se tu me deixares adormecer mais tarde logo.
– Esta conversa vai acabar agora!
– Vês? Estás a ficar sem razões. Devias ensinar-me a resolver as coisas a conversar.
– Às terças-feiras não. É uma regra nova. Acabei de a inventar. E quem manda aqui sou eu.
– Podes mandar tu se me deixares ver televisão enquanto me calço. E ainda bebo o leite.
– Faz o que eu te digo porque eu sou teu pai!