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Profissão: Produtor de Moda

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Texto de Catarina Vasques Rito
Fotografia de Gerardo Santos/Global Imagens

Gabriela Pinheiro

Com 17 anos fez um curso de Manequim e estudou Marketing e Publicidade. Criou uma empresa de prestação de serviços na área da moda, assumindo a função de gestora: contratava profissionais para a concretização de trabalhos específicos: produtores, stylists, etc. Com o tempo acabou por perceber que queria ser produtora de moda e que tinha um olhar estético apurado.

No mercado de trabalho há 21 anos, Gabriela Pinheiro (hoje com 39) desde cedo percebeu que a profissão que escolheu não era compreendida pela generalidade das pessoas. «Ficavam a olhar para mim e achavam que eu era vendedora de roupa, estilista ou fotógrafa. Tinha de ser paciente e explicar, o que nem sempre resultava… ainda hoje é confuso para alguns.»

«Ainda hoje é difícil que as pessoas percebam o que é produção de moda»

Trabalhar fora de Portugal nunca foi uma hipótese pelo facto de ter sido mãe cedo e estar «muito ligada à família». Integrou diferentes equipas associadas a distintas publicações: Guia da Mulher, GQ e Activa. A experiência profissional passou pela decoração, colaborando com publicações do Grupo Impala, sob a coordenação de Manuela Costa, «fundamental para aprender a importância do detalhe.

Fotografar pessoas não é como fotografar objetos, temos de saber destacar, valorizar produtos estáticos. Pode parecer simples mas não o é», diz a produtora que, com o tempo, foi encontrando outras áreas dentro da moda e hoje é uma das profissionais mais procuradas para vestir celebridades.

«A Cláudia Vieira foi a minha primeira cliente. Gostei do facto de poder ajudar quem sente que precisa de ter uma imagem mais elaborada em determinado momento. Vestir celebridades ou pessoas que não têm uma exposição pública enriquece pela troca de informações, pela opinião. Exige que se saiba ouvir e criticar sem ofender, sem se ser banal», explica Gabriela Pinheiro, que em 2016 publicou O Meu Livro de Estilo (ed. Manuscrito).

Pedro Crispim

Em 2010, abriu o Atelier Styling Project com a maquilhadora Sandra Almeida. «Sentia que tinha chegado o momento de ter um escritório, que congregasse um espaço de formação e um showroom. Não sabia se ia ter futuro, mas era importante começar», explica Pedro Crispim, de 38 anos, que entretanto criou a revista Styling Mag, para dar voz aos trabalhos realizados pelos seus alunos e por si.

Quase sete anos depois, o ateliê tem as portas abertas, oferece formação na área do styling e da imagem e em breve terá mais novidades de cursos. Em 1997, fez um curso de manequim, com Paulo Macedo, Cristina Gomes, David Simões e Isabel Costa, área em que trabalhou durante uma década. Aproveitou estes anos para complementar a sua formação fazendo cursos de Styling, no Instituto de Design de Madrid, e Consultoria de Imagem, com a Elle Brasil.

«Sabia que não iria ser manequim o resto da minha vida, mas sabia que queria ter uma profissão nesta área», o que o obrigou a investir na formação, complemento que continua a considerar «fulcral para quem quer estar num segmento que, ao contrário do que se pensa, exige conhecimento, cultura geral, empenho, dedicação e muito, muito, trabalho».

«NUNCA PODEMOS BAIXAR OS BRAÇOS»

É requisitado para fazer editoriais de moda, campanhas publicitárias, catálogos, organizar eventos, e é presença semanal no programa da SIC Mulher, Faz Sentido, dando conselhos de imagem e tendências. Mas a vida deste homem, cuja imagem é um fiel reflexo da forte personalidade que tem, passa também pelo vitrinismo a pedido de diferentes marcas nacionais e internacionais: Massimo Dutti, Quebra Mar, Sandro Ferrone, Cármen Steffans e Bliss Couture; em 2010 desenhou uns sapatos para a marca portuguesa Eureka; cinco anos mais tarde publicou o livro Do Chinelo ao Salto Alto (ed. Bertrand), escrito a quatro mãos com a galerista Raquel Prates; e é agenciado pela agência de modelos FaceModels.

«É impossível estar parado. Lutei muito pelo reconhecimento do meu trabalho, fui estigmatizado por muitas pessoas que estão nesta área. No entanto, percebi que se nos focarmos e mostrarmos que somos profissionais, acabamos por conquistar o nosso lugar. Nunca podemos baixar os braços, nem todos os dias são fáceis», diz este produtor de moda que também reconhece que a profissão ainda não conquistou o seu verdadeiro posicionamento no nosso país.

Paulo Gomes

Tem 52 anos e trinta de profissão. Estudou Psicologia mas o fascínio pela imagem levou-o à Faculdade de Arquitetura de Lisboa como professor de Teoria da Moda e Imagem e de Projeto. Ainda nos anos 1980, integrou publicações como o semanário O Independente ou a revista K.

«Tudo começou com um desafio para escrever sobre moda, não sabendo ainda como esta área iria definir o meu futuro profissional.» Depois passou para a produção de moda e para projetos ligados à divulgação de tendências, como a Moda Lisboa, o ensino acabou por deixar de fazer parte da sua vida devido a «opções de interesse profissional que passaram a ocupar o tempo que restava para ensinar».

Idealizar uma produção de moda para uma revista da especialidade ou para uma revista de conteúdos «cor de rosa» requer igual empenho. Necessita de liberdade criativa para obter o resultado pretendido, porque «não interessa o género da publicação, interessa o meu compromisso para com o cliente, que pressupõe qualidade no produto final».

«USO A ROUPA PARA VESTIR IDEIAS»

Não se considera um produtor de moda, antes um art director, pela especial atenção e preocupação que tem com a imagem, renegando a parte burocrática e logística que um produtor de moda tem de ter.

«Trabalho intensamente com os fotógrafos, idealizo o conceito, crio associações de estilo, imagens históricas que facilitam a perceção sobre o desejado, enfim, na verdade uso a roupa para vestir um conceito, para vestir ideias», diz Paulo Gomes, que atualmente colabora com a revista UP da TAP, a revista Sin e gere o projeto Manifesto Moda, que fundou há sete anos. «2010 foi o ano de viragem na minha vida. Deixei a Moda Lisboa, deixei a revista Elle e decidi criar uma marca de roupa sustentável feita com tecidos tecnológicos e funcionais.

Tenho viajado muito para internacionalizar este projeto e nunca poderia deixar a moda de parte, o que me leva a continuar a realizar editoriais de moda para algumas publicações nacionais e a organizar eventos ligados a esta área», sem esquecer que esta profissão continua a não ser verdadeiramente compreendida em Portugal, por vivermos num país que continua a «querer tudo e a pagar pouco pela qualidade e profissionalismo».

Joyce Doret

Tem 13 anos de profissão e é considerada um dos mais importantes talentos da produção de moda nacional. Formada em Design Gráfico, iniciou o percurso profissional com a mãe, Simone Doret, também produtora de moda, «para ganhar algum dinheiro». Percebeu que era o que queria fazer como carreira e estagiou na edição portuguesa da revista Vogue, acabando por ser convidada para trabalhar como coordenadora de Fotografia.

«Foi muito importante. Tenho perfeita consciência do que quero em cada trabalho que produzo. Idealizo o tema, faço o storyboard, escolho a roupa, faço o styling, contacto os modelos, procuro os cenários, informo a equipa (fotografia, maquilhagem, cabelos) e acerto as datas. Ser freelancer neste país significa trabalhar muito, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa», diz Joyce Doret, 32 anos, que colabora regularmente com as revistas Men’s Health e Cristina, tendo realizado trabalho para publicações internacionais como a August Man ou a edição do Cazaquistão da revista Elle.

«SER FREELANCER NESTE PAÍS SIGNIFICA TRABALHAR MUITO»

Reconhece que existe pouco conhecimento sobre o que é um produtor de moda, «somos muitas vezes fazedores de várias coisas dentro de uma denominação. Ou seja, o produtor na verdade é alguém que faz acontecer, que concretiza e que reúne as componentes necessárias para dar corpo a um objetivo, seja ele um editorial de moda, uma campanha publicitária, um catálogo comercial ou um evento. A verdade é que somos one woman or man show, porque ninguém quer gastar muito dinheiro em contratar as equipas adequadas a este tipo de trabalho. Somos polivalentes!»

Joyce Doret não pensa em fazer carreira fora de Portugal, pelo «menos para já», deseja que os novos profissionais percebam que esta é uma profissão de empenho e dedicação e de constante «aprendizagem» quer com o contacto com os que já estão no setor quer através do estudo e da observação, de «tudo o que acontece dentro e fora de Portugal».

Manuela Costa

A reforma chegou há um ano, mas no seu percurso profissional estão quase três décadas de produção de moda. Quando surgiu a oportunidade de uma nova aposta profissional, Manuela Costa não hesitou. Depois de anos ligada à gestão comercial, decidiu mudar de vida, iniciando um trajeto ligado à produção de moda em revistas femininas.

«Quando comecei, não sabia nada sobre o que era produzir moda. Era uma área a dar os primeiros passos em Portugal, estavam a nascer os primeiros cursos de estilista e as revistas queriam novas ideias e formas de expor um universo que apelava aos interesses femininos», conta Manuela Costa.

Foi diretora do gabinete de moda do Grupo Impala, para o qual trabalhou durante 28 anos, lidando com 22 revistas, umas «denominadas de femininas, outras de lifestyle». Quando lhe perguntavam o que era ser produtora de moda, explicava que era alguém que idealizava, organizava, reunia as equipas necessárias e concretizava uma ideia. «Muitas vezes era confuso, não existiam maquilhadores, cabeleireiros e stylists como hoje. Criar uma equipa coesa acabou por ser um dos meus objetivos.»

«QUANDO COMECEI, A PRODUÇÃO DE MODA ESTAVA A DAR OS PRIMEIROS PASSOS EM PORTUGAL»

Manuela Costa foi um dos nomes de referência da profissão, participou como júri em concursos de moda, como o Look Elite, na década de 1990. Dos anos como produtora de moda tem saudades das relações de amizade que criou, como as da primeira loja que lhe abriu as portas para poder levar a cabo as suas produções, a Loja das Meias; das horas passadas a organizar sessões fotográficas que agradassem a quem comprava as revistas Ego, Focus, Prática e Criativa, Nova Cosmopolita, Nova Gente, VIP ou Mulher Moderna.

«Tive pena por não ter conseguido ter uma abordagem mais de moda, mais de tendência. Havia entraves editoriais a determinados conceitos, tínhamos de ser muito tradicionais e pouco arrojados, mas tudo era feito com muita dedicação.»

Paulo Macedo

Ainda criança, com apenas 10 anos, demonstrou interesse pelas imagens que via nas revistas que a avó tinha em casa. «Portugal ainda tinha uma redutora oferta de revistas de moda e a minha avó era uma fervorosa consumidora de publicações estrangeiras.

O que me fascinava eram as fotografias, os ambientes, a contextualização da roupa», conta Paulo Macedo, profissional que estudou Design de Moda, na Árvore, no Porto, cidade onde viveu toda a infância e juventude. Foi manequim durante sete anos, nos anos 1990, e é produtor de moda há vinte.

«Continuamos a ser o país do desenrasque, temos de ser polivalentes e, na verdade, não acredito nisso, porque para se ser bom numa coisa temos de nos focar. Caímos no erro de achar que se percebemos de moda, então podemos fazer de tudo e não é verdade. Sei que sou conhecido como produtor de moda e na realidade sou editor de moda, preocupo-me com a visão estética, com o conceito, com o enquadramento», diz, alertando para o facto de em Portugal ninguém obrigar os agentes de interesse, como as publicações, a reconhecerem que têm de respeitar o trabalho e pagar pela qualidade e não pela polivalência, que pode destruir uma profissão.

«SOMOS O PAÍS DO DESENRASQUE E ISSO DESTRÓI A PROFISSÃO»

«Sou diretor criativo da Vogue Portugal, onde trabalho há 15 anos, o que me permite ter uma equipa completa e capaz de realizar editoriais que vão ao encontro de uma estética que me completa. O resultado final, que o consumidor vê, quando compra a revista, reflete isso mesmo, assim espero.»

Paralelamente, Paulo Macedo colabora nos catálogos das marcas Lanidor e Globe e com a revista Portuguese Soul, publicação do setor do calçado, editada pela APICCAPS. Reconhece que vivemos tempos difíceis e complexos, na era do narcisismo promovido pelas selfies. «Hoje todos temos o direito de ser estrelas, figuras mais ou menos conhecidas devido às redes sociais.

Acredito que o futuro vai fazer do papel o elemento de luxo, pensado para nichos que não prescindem das experiências sensoriais promovidas pelo cheiro, pelo toque, pelo prazer de folhear um livro, uma revista ou um jornal. O online será para consumo rápido da informação.» É um homem apaixonado pelo que faz, amante de cinema e de literatura. É um esteta que contextualiza as tendências que nos rodeiam diariamente, ditadas dentro e fora de Portugal.