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Portugueses Extraordinários

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Nos últimos três anos, esta investigadora, coordenadora de uma equipa de cientistas no Laboratório Nacional de Física Britânico, desenvolveu um material que pode revolucionar os veículos elétricos no futuro. E talvez toda a indústria automóvel.

É provável que, num futuro não muito longínquo, a compra de um carro elétrico, de qualquer marca, seja bem menos dispendiosa. E que esse mesmo carro, sendo mais barato, seja menos pesado, tenha maior autonomia e seja menos exigente nos custos de manutenção. Quando esse dia chegar, lembre-se deste nome: Tatiana Correia. Esta portuguesa de 31 anos passou os últimos três a coordenar uma equipa de cientistas no Laboratório Nacional de Física Britânico e é co-inventora de um material que promete revolucionar a indústria automóvel no segmento dos veículos elétricos.

O novo material foi usado na construção de um condensador, o HITECA, que ao contrário dos condensadores atuais – que não podem ultrapassar temperaturas de 70ºC – aguenta mais de 200 graus. Significa que o carro elétrico pode dispensar complexos sistemas de refrigeração, que lhe aumentam o peso e roubam autonomia, tornando-se mais eficiente na conversão da energia e ainda mais amigo do ambiente, porque o condensador HITECA não contém chumbo.

O projeto, financiado por uma plataforma do governo britânico e que envolveu um consórcio de quatro empresas e duas universidades, está agora na fase de produção do condensador, que ainda não tem data para chegar ao mercado. Mas a patente já está registada e há interesse de “produtores de todo o mundo”, garante Tatiana, porque o problema do funcionamento da eletrónica a altas temperaturas estende-se a outras áreas, da aviação às energias renováveis.

O impacto deste trabalho impressiona, mas a cientista transmontana, nascida em Bragança e a viver em Londres desde 2007, garante que ainda há muito para fazer. Até porque liderar a equipa de cientistas que desenvolveu este equipamento não é a única coisa a que se tem dedicado: simultaneamente, trabalha noutros projetos na área de novos materiais para refrigeração porque, explica “qualquer tipo de refrigeração, desde os frigoríficos ao ar condicionado, usa tecnologia com mais de 100 anos e liberta gases poluentes”.

Em 2013, ainda teve tempo para fundar, com uma colega portuguesa, a Native Scientist, organização sem fins lucrativos que pretende promover a ciência e a língua materna junto dos estudantes emigrados no Reino Unido. Fizeram parceria com a PARSUK (associação de investigadores e estudantes portugueses no Reino Unido) para angariar voluntários e, naturalmente, começaram pela comunidade portuguesa. Têm visitado alunos dos 6 aos 17 anos e, em jeito de ‘speed dating’, oferecem-se para responder às suas dúvidas e questões científicas, explicando-lhes que é uma mais-valia serem bilingues e incentivando a que não esqueçam o português, a sua língua materna. Procuram ser ‘role models’, figuras inspiradoras para ajudarem os emigrantes mais novos a lidar com as suas crises identitárias. Já estenderam este trabalho à comunidade espanhola e estão em contactos com os polacos.

De Portugal, sente saudades “de sair do trabalho e ir lanchar com amigos”, da parte “mais social” que os ingleses não cultivam. Apesar de reconhecer que Londres “é uma cidade dinâmica”, não representa “Inglaterra ou o resto do País”. Sempre que pode, e graças aos voos low cost, regressa ao norte, onde sempre viveu e estudou: primeiro em Bragança, até ao secundário, na Universidade do Porto, que frequentou para a licenciatura em física e depois na Universidade de Aveiro, onde terminou o mestrado em engenharia e ciência dos materiais. Quando trabalhava no Instituto de Física dos Materiais da Universidade do Porto, recebeu o convite para se juntar a uma equipa de investigadores no Reino Unido. Fez o doutoramento e seguiu para o Laboratório Nacional de Física Britânico. O melhor? Foi a primeira portuguesa a entrar.