Herdou do pai a riqueza, o estatuto e a personalidade. Cidadão do Mundo, é um empenhado lutador contra as alterações climáticas. Rahim al-Hussaini tornou-se o guia espiritual de 15 milhões de fiéis.
A notícia soube-se discreta, como discreta fora a vida de Aga Khan IV (1936-2025), e tem sido a do seu filho varão, Rahim al-Hussaini. O líder espiritual dos ismaelitas faleceu em Lisboa no passado dia 4 de fevereiro e menos de 24 horas depois sabia-se que deixara escrito em testamento quem seria oficialmente o seu sucessor.
A cerimónia de entronização decorreu em Lisboa na última terça-feira, dia 11. Rahim al-Hussaini passou a ser Aga Khan V, o novo descendente direto do profeta Maomé, tal qual exprimem os princípios ismaelitas, ramo xiita do islamismo. Ou seja, o imã dos imãs, o guia, o responsável máximo de uma dinastia que leva 1300 anos e conta com 15 milhões de seguidores espalhados por 25 países. Com direito a estatuto especial e tratamento de chefe de Estado. “Dedicarei a vida a cuidar do bem-estar espiritual e material da comunidade ismaelita”, prometeu.
Filho da britânica Sarah Croker Poole, supermodelo apresentada à rainha Isabel II num baile de debutantes em 1958, 11 anos antes do matrimónio com Aga Khan IV, é o segundo de quatro irmãos e o mais velho dos três homens – as mulheres não podem assumir a liderança dos ismaelitas. A mãe converteu-se ao islamismo e alterou o nome para Salimah. Os pais divorciaram-se em 1995.
Nesse mesmo ano, e depois de uma juventude dividida entre Paris e a Suíça, o futuro Aga Khan V terminava a licenciatura nos EUA, na Universidade de Brown, instituição privada no estado de Rhode Island, onde se especializou em Literatura Comparada. Não ficou por aqui e uma década depois inscreveu-se num curso de Gestão e Administração, em Barcelona.
Trabalhou antes e depois em diferentes departamentos sociais da fundação do pai.
Ex-modelo foi também a sua mulher, a norte-americana Kendra Irene Spears, 17 anos mais nova, antiga cara de marcas como a Prada ou a Armani e figura central de ensaios para revistas prestigiadas da especialidade, como a “Vogue”. O casamento aconteceu em 2013, num castelo suíço que testemunhou a transformação de Kendra em Salwan, após a conversão ao islamismo. Antes de se separar, em 2022, o casal viveu na pequena localidade norueguesa de Vestvagoy e teve dois filhos, Ifran e Sinan, nascidos, respetivamente, em 2015 e 2017.
Existente desde 1967, a rede Aga Khan (AKDN), onde sempre se empenhou Rahim al-Hussaini, é simbolizada na Aga Khan Foundation. Com sede oficial em Lisboa, na Avenida Lusíada, conta com um conjunto de iniciativas para “abordar as causas profundas da pobreza”, conforme dizem os seus estatutos. Ainda segundo os respetivos dados oficiais, chega a 18 países, ajudando 2,2 milhões de crianças e 6,6 milhões de adultos ao nível alimentar, de ensino, de saúde, entre outras. E conta com um forte pendor para questões relacionadas com o clima, temática a que Rahim al-Hussaini se dedica com particular interesse à frente do Comité para o Meio Ambiente e Clima da AKDN.
“O príncipe Rahim tem dedicado uma especial preocupação à proteção do ambiente, empenhando-se na mitigação dos efeitos provocados pelas alterações climáticas”, sublinhou a instituição, como homenagem ao seu novo líder.
Discrição foi sempre palavra de ordem para Rahim al-Hussaini, mote que tem levado adiante sem desviar o caminho de conduta. Mesmo as habituais férias de luxo de verão passadas em Itália, assim como as de inverno na Suíça, jamais foram assunto que enchesse páginas de revista cor-de-rosa ou alimentasse conversas sociais. Gosta de surf, a que se dedica com regularidade sem também chamar a atenção por isso.
Raramente dá entrevistas, como a que surpreendentemente concedeu à revista “Vanity Fair”, na qual revelou que “de um imã não é esperado que se retire da vida pública”. E onde deu pistas sobre como poderia vir a exercer o seu cargo. “Deverei proteger a minha comunidade e contribuir para aumentar a sua qualidade de vida”, avançou.
Rahim al-Hussaini, ou Aga Khan V, herda agora a fortuna do pai, avaliada pela revista “Forbes” em 16 mil milhões de euros, com boa parte a ter como destino ações de cariz social assentes na AKDN. E continuará reservado.
Cargo: Líder da comunidade ismaelita
Nascimento: 12/10/1971 (53 anos)
Nacionalidade: Suíça (Genebra)
