Os fatores que moldam o desejo sexual

O consultório de sexualidade por Mafalda Cruz, radioncologista e sexóloga.

Estou casada há 12 anos e o meu marido tem sempre mais vontade sexual do que eu. O que é que podemos fazer?
D. Torres

Quando os elementos do casal têm diferentes níveis de desejo sexual (e pretendem ter atividade sexual com frequências distintas) estamos perante um caso de discrepância de desejo sexual.
É normal e saudável que, numa relação, as pessoas queiram coisas diferentes em momentos diferentes. Isto acontece porque temos vivências distintas, necessidades únicas e gostos particulares. Acontece simplesmente porque as pessoas são diferentes uma da outra.

A discrepância de desejo é particularmente comum em relações longas, o que faz sentido, se considerarmos que o desejo sexual é dinâmico e flutua ao longo do tempo. Torna-se um problema quando o casal fica angustiado em relação a esta questão, ou o tema da frequência de relações sexuais se torna motivo de conflitos e tensões. Como consequência, poderá haver um afastamento e, em última instância, rutura do relacionamento.

Antes de percebermos o que pode ser feito, vamos entender o que é o desejo sexual. O desejo sexual trata-se da motivação para se ter atividade sexual. É moldado por fatores biológicos, psicológicos, socioculturais, pelas características do indivíduo, comportamentos do parceiro, e por tantos outros fatores. Como tal, o desejo não deve ser visto como algo que nós temos (e que está cá dentro à espera de ser libertado), mas sim como algo que nos acontece em resposta a um estímulo.

Sabendo isto, torna-se evidente que a discrepância de desejo deve ser vista como um problema do casal (e não de apenas um dos elementos). Não devemos assumir que o elemento que tem mais desejo está dentro da norma e que temos de tratar a pessoa que tem menos desejo. Por isso, é necessário haver compromisso e encontrar um meio-termo no qual os dois elementos se revejam. Deve haver uma comunicação aberta e honesta sobre este assunto, bem como uma discussão sobre desejos, preocupações e limites. Será também importante que o casal passe tempo de qualidade em conjunto, para que se mantenha a intimidade e conexão emocional fora do contexto sexual. Caso o problema persista, deverão procurar ajuda de um profissional de saúde.