O meu objeto: o passaporte de Virgílio Castelo

Virgílio Castelo protagoniza “Sul”, um drama familiar que estará em cena no Teatro Carlos Alberto, no Porto, até 16 de março. A peça é a segunda parte de um díptico dedicado às migrações (Foto André Rolo)

O objeto escolhido pelo ator.

“Tive o meu primeiro passaporte em 1970. Tinha 17 anos. Fui para Paris. Num Portugal fechado a quase tudo, pude abrir-me ao Mundo, a partir de França. A partir daí, sempre que pude, viajei: de comboio, de avião, de barco, de carro, de bicicleta e a pé. Atravessei muitas fronteiras e procurei sempre ir à procura do que não conhecia. Ainda hoje o faço, mesmo que não viaje.

Não sei qual a etimologia exata da palavra passaporte. Uma vez que há várias hipóteses, e, nos tempos que correm, a verdade é uma coisa à escolha de cada um, eu avanço aqui a minha: passar portas. É isso que tento fazer quando vou para o que desconheço: passar portas que me abrem horizontes. Penso que é o que querem fazer também todos os que vão à procura de vida melhor, fugindo de onde ela corre mal. Mas parece que nos dias de hoje, mesmo com passaporte, há mais portas a fecharem-se do que a abrirem-se. De quem será a culpa? Dos que não as querem abrir? Ou dos que as querem arrombar? Por certo será de ambos, porque nada na vida é só uma coisa.”

Ator
71 anos