O meu objeto: a fotografia de José Eduardo Agualusa

José Eduardo Agualusa lançou recentemente “Mestre dos batuques”, um romance em que o autor regressa ao Bailundo, a terra que o “viu nascer e crescer”, e deixa uma pergunta: pode o amor triunfar sobre a guerra e o caos? (Foto Paulo Alexandrino)

O objeto escolhido pelo escritor.

“Escolhi uma fotografia que me vem acompanhando desde os meus 14 anos, um pouco por toda a parte. Fui eu que fiz essa imagem, com uma antiga máquina de fole, que encontrei abandonada no sótão da minha casa de infância.

Mostra os meus pais abraçados, a Dorinda e o Manuel, junto a uma das margens do rio Cubango, no Huambo, muito perto do local onde ele nasce. Gosto muito dessa imagem porque está tudo nascendo ali: eu, o rio, e até o meu país.

Olhar essa imagem sempre me sossega. Sei que aquele instante está preservado, em algum lado, um momento de paz absoluta, de amor, de confiança, antes que a História se acelerasse e me arrastasse numa torrente violenta pelo Mundo fora.

A imagem também testemunha uma história de amor que deu certo. Ou seja, por vezes o amor dá certo. Não é uma foto – é uma âncora.”

Escritor
64 anos