
O objeto escolhido pelo jornalista.
“O tempo, esse grande escultor, como o imortalizou Marguerite Yourcenar, é omnipotente, desde sempre. Podemos viajar no espaço, entrar no cérebro, criar inteligência artificial. Mas não podemos interromper a marcha impiedosa do tempo.
Esta ampulheta, que tenho em casa, lembra-me tantas vezes o tempo perdido. O calendário de horas inúteis, em que apenas existimos num modo funcionário de viver.
Mas, tal como o copo, também temos sempre os lados meio cheio e meio vazio da ampulheta. Os dias maiores, luminosos, que valem por meses ou anos. As viagens que recordamos a todo o tempo. Os instantes em que ousámos sonhar dar novas vidas ao Mundo e novos ventos à História. Os amigos de tempos tão diferentes que nos lembram o que já vivemos. As férias onde quisemos parar o tempo. E a família, a instituição que melhor soube resistir ao tempo, que desafia a finitude da vida porque nos perpetua.
As memórias que nela deixamos são o pequeno passaporte para a nossa efémera eternidade.”
Jornalista
46 anos