Tem por norma não falar muito, prefere a ação. Sucede ao mediático Gouveia e Melo, com quem se dá bem, mas de quem não poderia ser mais diferente, por modo e temperamento.
Bastaram dois curtos minutos para que Jorge Nobre de Sousa, vestido com fato a rigor e medalhas fartas do lado esquerdo do peito, se tornasse o novo chefe do Estado-Maior da Armada. A cerimónia de posse arrancou às 12 horas do último dia 27 de dezembro, fechou dois minutos depois, às 12.02. Não houve discursos, apenas abraços. Primeiro a Marcelo Rebelo de Sousa, que o nomeara, depois a Gouveia e Melo, que o antecedera no cargo, também à mulher e ao filho, que marcaram presença no ato oficial realizado na Sala dos Embaixadores do Palácio de Belém.
De então para cá, o novel almirante Nobre de Sousa não proferiu uma única frase em público e fez desaparecer o pouco que dele dava a conhecer na primeira pessoa através das redes sociais, ao apagar a sua página no LinkedIn dias após a posse. Nem uma só palavra sua fez perceber o que será o mandato que cumprirá à frente do ramo de que faz parte desde 1981, quando entrou para a Marinha como estudante da Escola Naval, tinha apenas 18 anos e a ideia fixa de que o mar seria a sua casa de trabalho. Em 1987, subiu a guarda-marinha, os aspirantes a oficiais. Daí em diante não parou de progredir até atingir o patamar mais alto da hierarquia.
No entanto, houve quem dele falasse, como foi o caso do líder da Associação de Oficiais das Forças Armadas. “Tem atributos e virtudes que são reconhecidos e uma experiência longa de mais de 40 anos de carreira, em particular na área operacional, o que lhe dá uma noção alargada das necessidades da Marinha”, disse Carlos Marques, citado em vários órgãos de comunicação social.
“A questão passa por aquilo que terá possibilidade e campo para fazer”, acrescentou, por sua vez, Paulo Amaral, presidente da Associação de Praças. “O mais importante é saber que meios e condições vai ter para o exercício da missão”, argumentou, por seu lado, Lima Coelho, responsável máximo da Associação Nacional de Sargentos.
Algumas pistas sobre as ideias de Nobre de Sousa poderão ser dadas por um longo documento intitulado “A Transformação da Marinha”, por ele elaborado em 2016 para o curso de estudos pós-graduados de promoção a oficial general realizado no Instituto Universitário Militar. Ao longo de 70 páginas, o então capitão-de-mar-e-guerra procurou “as respostas adequadas” para uma Marinha que dizia atravessar um período “pleno de incerteza, de imprevisibilidade e em constante e acelerada mutação”.
Nas conclusões do estudo, apontou à “reconfiguração do Comando Operacional Conjunto e dos comandos de componente dos ramos”, além da potenciação da “capacidade de planeamento e de execução de operações nos quadros de missões externas e das operações internas previstas na lei”. Lamentou o “défice crónico de financiamento”, lembrou a “avançada idade da Esquadra [naval] como elemento de maior expressão”, avisou para o “aumento da taxa de esforço” da mesma e falou mesmo em “preocupantes níveis de obsolescência logística”.
Quando escreveu estas notas, já Nobre de Sousa era um experimentado quadro da Armada portuguesa. Depois de se especializar em armas submarinas e, de acordo com o perfil oficial traçado pelo site da Marinha, foi embarcado das patrulhas Cacine e Cunene, subiu a chefe de serviço nas fragatas Roberto Ivens e Corte-Real, oficial de operações na corveta Baptista de Andrade e da fragata Corte-Real, além de comandante da Álvares Cabral.
Fez também parte de quatro missões da NATO, integrando a Standing Naval Force Atlantic. Entre os diferentes cargos que exerceu ao longo de 43 anos de carreira, integrou, por exemplo, o gabinete do chefe do Estado-Maior da Armada, no Serviço de Informação e Relações Públicas. Fez parte do Centro de Instrução de Tática Naval e do Gabinete de Análise Desenvolvimento e Treino pela área de luta Anti-Submarina. E esteve nas divisões de Comunicações e Sistemas de Informação, de Operações e na de Planeamento do Estado-Maior da Armada.
Portador de várias distinções, como a Ordem Militar de Avis ou a medalha de Mérito Naval, tem pela frente o cargo mais elevado a que poderia aspirar.
Cargo: Almirante e chefe do Estado-Maior da Armada
Nascimento: 1963 (61 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Lisboa)