
Chegou cedo à política e foi duas vezes ministro. Viu-se envolvido num caso judicial, recebeu uma subvenção de 3400 euros, manteve-se reserva de luxo dos sociais-democratas. Que agora o voltaram a chamar.
Carlos Costa Neves tinha apenas 22 anos quando foi nomeado secretário regional dos Assuntos Sociais do I Governo Regional dos Açores, comandado por Mota Amaral. Corria o ano de 1976 e o jovem terceirense regressara havia poucos meses de Lisboa, onde terminara a licenciatura em Direito e chegara a admitir simpatia pela extrema-esquerda do MRPP. Curta, porém, pois logo se deixara entusiasmar por Sá Carneiro e pelo PSD. Era o princípio de um longo capítulo, a que agora foi acrescentado novo parágrafo de relevo. Quase meio século depois, e após um percurso político bem recheado, foi chamado a secretário-geral do Governo de Luís Montenegro, naquele que é o regresso à política ativa de alguém que raramente dela saiu.
O primeiro cargo de Costa Neves como governante nacional aconteceu pela mão de Durão Barroso. Secretário dos Assuntos Europeus, entre 2002 e 2004, trazia na bagagem uma longa passagem pelo Parlamento Europeu, onde se sentara desde 1994 até ser chamado de volta a Portugal. Nesse intervalo destacou-se dentro do PSD a nível regional, nos “seus” Açores, e a nível nacional. No arquipélago das nove ilhas, foi número um dos sociais-democratas de 1997 a 1999, embora não tenha disputado qualquer eleição, tal viria a acontecer apenas em 2008, quando não evitou nova maioria absoluta do PS, de Carlos César.
No continente, subiu a vice-presidente do partido era líder Marcelo Rebelo de Sousa.
Com Santana Lopes primeiro-ministro, em 2004, foi ministro da Agricultura durante pouco mais do que um semestre e viu-se envolvido no polémico “Caso Portucale”, suspeito de assinar um despacho que permitia ao Grupo Espírito Santo construir um complexo turístico na Herdade da Vargem Fresca, em Benavente, abatendo, para isso, cerca de dois mil sobreiros.
Em 2007, acabou ilibado pela Justiça, não integrando a lista dos 11 arguidos levados a julgamento. Marques Mendes, na altura presidente do PSD, elogiou-o, afirmando tratar-se de “alguém com uma seriedade à prova de bala, íntegro e vertical e com mais de 30 anos de dedicação ao serviço público”. A essas três décadas somaram-se entretanto praticamente outras duas, durante as quais, apesar da discrição, continuou em alta dentro do seu partido. “Foi sempre um trabalhador incansável, por isso o PSD nacional o tem sempre na primeira linha”, diz à NM fonte da estrutura do partido nos Açores.
Os cargos no Governo que ocupou até 2005, além de outras funções públicas, mereceram-lhe a atribuição de uma subvenção pública no valor mensal de 3400 euros. O próprio Costa Neves garantiu ao jornal online “Eco” que irá abdicar de tal regalia. Terá um ordenado bruto de seis mil euros como secretário-geral do Governo, menos de metade dos 16 mil euros pedidos por Hélder Rosalino, e que tanto brado causou.
Apesar da constante forte ligação aos Açores, encabeçou as listas de candidatos a deputados pelos distritos de Portalegre e Castelo Branco, respetivamente nas legislativas de 2005 e de 2009. Em 2015, integrou as do Porto, ano em que foi ministro dos Assuntos Parlamentares no efémero segundo Executivo de Pedro Passos Coelho. Com o PSD na oposição, acabou por sair do Parlamento em 2018, alegando “razões de ordem pessoal”, sem adiantar mais pormenores, quando fazia parte, igualmente, do Conselho Nacional de Defesa Nacional, a que renunciou. Foi, ainda, membro da direção do Instituto Sá Carneiro e da Plataforma para o Crescimento Sustentável.
“Nunca teve uma visão apenas restrita às ilhas. É um homem do Mundo, que sabe o que pensam quer os que moram nas grandes cidades, assim como os habitantes de uma pequena povoação”, descreve outro elemento do PSD/Açores. Talvez a filosofia alargada lhe venha da infância e adolescência, quando percorreu Timor-Leste e a Guiné-Bissau acompanhado o pai, oficial do Exército.
Casado, é também, autor de dois livros, “Governar é escolher” e “Encruzilhada”. Resta saber qual dos títulos melhor se adequará quando um dia se fizer a história da sua passagem pela secretaria-geral do Governo.
Cargo: Jurista e secretário-geral do Governo
Nascimento: 16/06/1954 (70 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Angra do Heroísmo)