Álvaro Santos Almeida. O ex-FMI com “sensibilidade” para a Saúde

Teve o pior resultado do PSD na corrida à Câmara do Porto, chocou com António Costa, trabalhou de perto com José Sócrates. Vai mandar no SNS e procurar continuar a ocupar o lugar anual no Estádio do Dragão.

Foi de forma atribulada que a ministra da Saúde anunciou o novo diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS). À margem da inauguração das instalações da Unidade de Saúde do Catujal, em Loures, Ana Paula Martins tentava escapar como podia a questões delicadas disparadas por um batalhão de jornalistas sobre os motivos que levaram à demissão do anterior responsável, António Gandra D’Almeida. Então, de surpresa, atirou o nome de Álvaro Santos Almeida, que definiu como “uma das personalidades e individualidades que no país tem um grande conhecimento da área da saúde, com um vasto currículo”. Destacou-lhe o “perfil diferente”, sublinhou-lhe a “gestão articulada”, elogiou-lhe o “conhecimento no terreno”, salientou-lhe a “sensibilidade” para os temas do setor.

Não foi a primeira vez que um anúncio ligado a Álvaro Santos Almeida, portuense de gema nascido na típica freguesia da Sé, causou espanto público. Em agosto de 2017, era discreto comentador do programa da Rádio Renascença “Conversas Cruzadas” quando foi apresentado como candidato do PSD à Câmara Municipal do Porto, numa cerimónia que teve o condão de juntar lado a lado, na primeira fila da Fundação Engenheiro António de Almeida, o então líder social-democrata, Pedro Passos Coelho, e o crítico que viria a suceder-lhe, Rui Rio. Luís Montenegro também esteve presente, longe de imaginar que um dia seria primeiro-ministro.

Lançado como independente, Álvaro Santos Almeida apontou o dedo a um “Executivo apenas preocupado com a sua imagem” e viria a levar a tribunal Rui Moreira por “falta de transparência e supostas ilegalidades” na escolha do nome da lista independente do presidente da autarquia e recandidato ao cargo. Obteve o pior resultado autárquico de sempre do PSD no Porto, apenas 10,4% e um vereador eleito, ele próprio.

Em 2015, foi nomeado presidente da Administração Regional de Saúde do Norte, cargo que ocupou durante apenas um ano até apresentar a demissão por divergências com a política para o setor do então Governo do PS liderado por António Costa. Anos antes, entre 2005 e 2010, era o socialista José Sócrates primeiro-ministro, esteve à frente da Entidade Reguladora da Saúde, onde coordenou a comissão responsável pelo acompanhamento da reforma hospitalar, tarefa que lhe viria a merecer a atribuição de uma medalha pelos serviços prestados.

Nas eleições legislativas de 2019, Álvaro Santos Almeida foi eleito deputado à Assembleia da República, após convite de Rui Rio para fazer parte das listas. Ganhou destaque nas aguerridas sessões da Comissão Parlamentar de Saúde, onde criticou a então ministra, Marta Temido. Vivia em permanentes viagens entre Lisboa e o Porto, temporariamente afastado da companheira dos últimos 20 anos e das duas filhas.

Professor de Economia e Sistemas de Saúde na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, cujo mestrado chegou a dirigir, foi presidente do Agrupamento Científico. Estende a docência à privada Porto Business School, na qual é diretor da pós-graduação em Gestão e Direção de Serviços da Saúde. Começou a dar aulas logo após terminar a licenciatura, acumulando-as com experiências no terreno, como a que teve enquanto economista do Banco Português do Atlântico.

Na década de 1990, experimentou o mercado internacional. Foi investigador da London School of Economics, onde também tirou o doutoramento, e quadro superior do Fundo Monetário Internacional (FMI), nos EUA, ao serviço do qual participou em missões exteriores em países como a Venezuela e o México.

Adepto do F. C. Porto, cujo percurso desportivo acompanha com fervor, muitas das vezes em pleno Estádio do Dragão, onde tem lugar anual e raramente falha um jogo. Gosta de conversar com os amigos sobre vários temas, sobretudo à volta da mesa ou de um copo. Regressa agora à esfera pública para dirigir o SNS.

“Muito antes de ser político, é claramente um técnico. Tem as competências que são necessárias”, disse, à Agência Lusa, Xavier Barreto, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares.

Cargo: Diretor executivo do SNS

Nascimento: 17/11/1964 (60 anos)

Nacionalidade: Portuguesa (Porto)