Valter Hugo Mãe

Vista Alegre 200


Rubrica "Cidadania Impura", de Valter Hugo Mãe.

A Vista Alegre completou duzentos anos de idade e está de saúde para continuar por mais duzentos a partir a loiça toda. Algumas idades só dão para se ser mais novo, e a Vista Alegre está mais nova do que nunca, feita de mais ideias e de uma família de administradores, gestores, criadores e operacionais que não pára de crescer.

Pude estar no jantar de aniversário que aconteceu no próprio espaço da fábrica em Ílhavo e verificar a alegria com que se vive a empresa de hoje. Não é simplesmente sobre criar emprego e sustentar famílias, é sobre defender um património imaterial e criar identidade. A Vista Alegre não é exactamente sobre loiça, passa sobretudo pelo encontro, pela importância das pessoas que se juntam numa mesa, porque se casam ou se partilham uma vida inteira, é sobre o modo como nos esforçamos por ter um lugar de intimidade e conforto, rodeados de objectos que nos defendam pelo brio, pela beleza, pela memória.

Não será um bom português aquele que não tenha uma qualquer peça da Vista Alegre onde veja um sem-fim de gestos e até uma multidão. As famílias lembram-se também pela porcelana que escolhemos para servir, essas presenças de alvura e arte onde debruçamos olhos e boca, mãos e coração a levar a cabo a vida, os afectos, a ternura.

Gosto demasiado da Vista Alegre. Lembro sempre de como aperaltamos nossas mesas e casas para as visitas mais ilutres. E nosso garbo estava tantas vezes na peça antiga que atravessou gerações para chegar ao nosso convívio como se depositasse certo corpo de anjo às nossas mãos. As porcelanas são certos corpos de anjo. Ficam pela casa a sonhar nossos sonhos e a amar quem amamos.

Duzentos anos da Vista Alegre são duzentos anos de um Portugal de excelência. Agradeço por nos representar na economia contemporânea com a memória, o bom gosto, a elegância e a ciência que quero ver em todo o país. Quero um país assim, desta qualidade. Deste esplendor.

No jantar para que me convidaram foi oferecida uma pequena travessa alusiva à efeméride. É simples e bela. Estará em minha casa com alegria. Corpo de anjo alegre que verei dia a dia.

(O autor escreve de acordo com a anterior ortografia)