Canta ao karaoke, faz ginásio todos os dias, reza e tem um estádio com o seu nome na aldeia natal. Depois de ferozmente criticado, guiou a Espanha a campeã da Europa de futebol.
“Não é possível estar mais feliz. Se se é honesto, trabalhador e honrado, a vida dá algo de volta. No futebol é igual.” O sorriso no rosto de Luis de la Fuente após a final do Euro 2024, que consagrou a Espanha, dizia tudo. As suas palavras também, qual filosofia de vida levada à prática.
O selecionador espanhol nasceu em Haro, pequena localidade da província de La Rioja com pouco mais do que dez mil habitantes, filho de um pai marinheiro mercante e de uma mãe que geria sozinha a mercearia da família na ausência do marido durante as longas temporadas de alto mar. Luis brincava nas ruas e desde cedo mostrou habilidade com a bola e um pé esquerdo de respeito. “Sou orgulhosamente um homem de aldeia”, definiu-se ao site “Haro Digital”. Ganhou o respeito da terra, tão grande que o estádio do clube local ostenta, desde o ano passado, o seu nome.
Os dias mais felizes da infância aconteciam quando o pai regressava dos barcos e o levava ao velhinho Estádio San Mamés, casa do Athletic Bilbao, para verem ao vivo e de mão dada o clube do coração. Cem quilómetros de caminho longo e de pura felicidade. No início da adolescência, arriscou testar a habilidade no Athletic. Ficou. E começou o sonho de uma vida.
Casado e com três filhos, Luis de la Fuente é um homem de fé. “Sem ela nada faria sentido”, disse em entrevista ao “El Mundo” este fã confesso de Rocky Balboa, pugilista eternizado no cinema por Sylvester Stallone, e, do cantor Julio Iglesias, cujas melodias canta em sessões de karaoke. “Sou um romanticão”, admite. Outra paixão é o exercício físico, traduzido num corpo sem ponta de gordura e de musculatura desenvolvida. Nos estágios, acorda antes dos jogadores e vai sozinho para o ginásio.
Foi designado selecionador principal em 2022 pelo polémico Luis Rubiales, então presidente da Real Federación Española de Futebol (RFEF). “Não hesitei um segundo”, revelou o técnico de perfil discreto e a quem raramente são apontados deslizes públicos. A exceção foi quando aplaudiu de pé Rubiales quando este reforçou em conferência de imprensa que não se demitiria por ter beijado na boca sem consentimento a futebolista Jenni Hermoso após a conquista do Campeonato do Mundo feminino de 2023, na Austrália. Ouvido em tribunal como testemunha, disse ao juiz que não se apercebeu de nada, nem do beijo em si, nem das supostas pressões para que a jogadora garantisse que o permitira. “Tomei pastilhas e vim a dormir durante a viagem de avião para Espanha”, alegou.
A imprensa do país vizinho demoliu-o aquando da nomeação. “Luís Quem?” foi apenas um dos imensos implacáveis títulos críticos. Apontaram-lhe falta de carisma e de experiência ao mais alto nível.
Serviu a vingança em forma de títulos. Primeiro, a Liga das Nações, em 2023, agora o Euro 2024. Mas os sucessos com o símbolo de Espanha ao peito já vinham de antes. Em 2015, foi campeão da Europa sub-19, em 2021 repetiu a proeza nos sub-21. “Os que o maltrataram antes sequer de ter começado o trabalho têm de engolir o que disseram”, sugeriu o veterano Javier Clemente, também ele outrora selecionador de Espanha, aos microfones da estação de televisão “Cuatro”.
O mesmo Javier Clemente que conduziu o Athletic Bilbao ao bicampeonato espanhol (1982/83 e 1983/84) com De la Fuente como titular absoluto como defesa-esquerdo. Depois de sete temporadas iniciais em Bilbao, a carreira contou com passagens pelo Sevilha e pelo Alavés, onde terminou um percurso de 14 anos após breve e pouco sucedido regresso ao seu Athletic. Iniciou depois o percurso de treinador no modesto Portugalete, continuou no Aurrerá, de onde foi despedido ao fim de apenas oito jogos, e foi convidado para a formação do Sevilha. Foi também nos escalões jovens que prosseguiu carreira no Athletic Bilbao, onde chegou a comandar a equipa B. Após curta experiência na equipa principal do Alavés, pegou nos sub-19 de Espanha. E foi sempre a subir. Até à glória suprema em Berlim, no dia em que a vitória (2-1) frente a Inglaterra deu aos espanhóis o quarto Europeu e a Luís de La Fuente um lugar nos livros de História.
Cargo: selecionador de futebol de Espanha
Nascimento: 21/06/1961 (63 anos)
Nacionalidade: Espanhola