Uma fronha tem mais bactérias do que uma casa de banho

A combinação é explosiva: suor, saliva, caspa, células mortas da pele, restos de alimentos. Tudo isso é combustível para que a cama seja um ambiente apetecível para germes e ácaros do pó. Depois desta imagem, nada agradável, o que fazer?

Afronha de uma almofada numa cama acabada de fazer de lavado, lençóis esticados e no seu devido lugar, é aquele sítio que chama a cabeça para pousar e descansar. Como um pouso limpo e perfumado para bons sonhos. Tudo certo até aqui. O problema é o que não se vê a olho nu, o que está escondido por ali. Há pesquisas que mostram que há todo um mundo de microrganismos a acontecer. Não é agradável, nem saudável. No entanto, há sempre coisas a fazer.

Luís Uva é dermatologista e analisou um estudo realizado por um fabricante de colchões dos Estados Unidos da América que chamou a atenção para vários aspetos. Numa semana, uma fronha acumula mais bactérias do que as que são encontradas numa casa de banho. Ou seja, sete dias são suficientes para a bicharada se instalar. “O estudo diz-nos, ainda, que uma fronha com mais de três semanas de uso pode possuir até três milhões de bactérias, sendo este número 17,4 mil vezes maior do que o encontrado numa casa de banho suja”, adianta o especialista.
Como é evidente, os lençóis também não escapam a essa invasão: uma semana de uso e cinco milhões de bactérias. São muitos micróbios. E a conclusão é simples. “De facto, quando não é feita uma troca regular da roupa de cama, são alojados microrganismos que podem maximizar os riscos à nossa saúde”, avisa o dermatologista da Personal Derma.

É mesmo assim, tendo em consideração o tipo de seres que se encontra numa fronha de uma almofada. Luís Uva fala em suor, caspa, saliva, células mortas da pele, e até partículas de alimentos que, por vezes, ficam perdidas no compartimento onde se dorme. E esta combinação, já se sabe, torna “a cama no ambiente ideal para o crescimento de uma série de germes”, como repara o dermatologista.
Ana Morête é presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica e conhece várias investigações nesta matéria. “Na verdade, vários estudos ambientais, conduzidos ao longo dos anos, foram comprovando em amostras de vários tecidos – fronhas, tapetes, brinquedos, entre outros – a presença de microrganismos.” Sabe-se, portanto, que peças como fronhas, lençóis, cortinas, roupas, são fontes potenciais de microrganismos, leia-se, neste caso, bactérias, vírus, fungos e ácaros do pó. “Estes materiais, sobretudo se expostos a condições como humidade elevada, acumulação de sujidade, pó, suor e células mortas da pele, são verdadeiros reservatórios, podendo estar associados a infeções e doença alérgica”, avança Ana Morête.

Luís Uva também fala desses assuntos. “As nossas camas podem ser ‘casa’ para diversas espécies de bactérias.” Umas mais inofensivas, outras mais perigosas, que “podem causar doenças graves, como infeções de pele e pneumonia, especialmente quando entram no corpo através de feridas abertas”, refere o dermatologista. “Algumas destas bactérias, encontradas frequentemente em camas de hospital, são resistentes a antibióticos e representam um sério risco para a saúde”, revela o dermatologista.

“Durante o sono, a humidade acumula-se, por isso é útil deixar os lençóis arejar antes de fazer a cama, o que torna o ambiente menos favorável para bactérias e ácaros”

Há mais questões a analisar. “As bactérias Gram-negativas, como algumas cepas de E. coli, também são preocupantes, pois podem causar infeções graves como infeções urinárias, pneumonia e sépsis.” A E. coli é uma bactéria que pode provocar diarreias, dor a urinar, gastroenterite. A sépsis manifesta-se quando bactérias que causam uma infeção provocam uma resposta exagerada do organismo, conhecida por resposta inflamatória, puxando pelo sistema imunitário. E a pneumonia, já se sabe, ataca os pulmões.

Banhos, maquilhagem, animais e meias

Um estudo é um estudo, pode abrir olhos e mudar comportamentos. Se uma fronha tem tantas bactérias, mais do que uma casa de banho suja, então há tarefas a cumprir. Até porque a cara passa muitas horas encostada, em contacto direto, com uma fronha durante a noite (ou dia, dependendo de cada pessoa). “Mas, para ter bons sonhos, temos de cuidar das nossas almofadas, caso contrário podemos ter um verdadeiro pesadelo”, observa Ana Morête, responsável pela Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica.

O que parece limpo, por vezes, pode não estar assim tão bem e até prejudicar a saúde. Por isso, na hora da limpeza, convém não facilitar. “Manter as roupas de cama limpas é importante para evitar que os germes se tornem uma ameaça à saúde”, aconselha Luís Uva, que tem mais recomendações e explicações. “Durante o sono, a humidade acumula-se, por isso é útil deixar os lençóis arejar antes de fazer a cama, o que torna o ambiente menos favorável para bactérias e ácaros.” As fronhas devem ser trocadas duas a três vezes por semana de forma a evitar a acumulação de pós, bactérias, bem como de todo e qualquer tipo de contaminação. A almofada deve ser substituída a cada dois anos. “O motivo não é tanto a perda de benefícios, mas sim a questão da higiene”, sublinha o dermatologista.

Segundo Ana Morête, as almofadas devem ser lavadas com alguma regularidade, idealmente de dois em dois meses, utilizando a opção da máquina de secar, já que não devem permanecer húmidas durante muito tempo. Percebe-se porquê. Há mais procedimentos. “Medidas de controlo ambiental simples como lavar semanalmente as fronhas das almofadas a altas temperaturas, mais de 60 graus, auxilia a eliminar os alergénios, como os ácaros do pó, e a reduzir drasticamente bactérias e fungos para quantidades aceitáveis que minimizam os riscos à saúde.”

O quarto, como lugar de descanso, repouso, sono, deve ser bem tratado. Há formas de afastar organismos indesejáveis. “Arejar o quarto sempre que possível, idealmente em dias de sol, reduz a humidade, bem como a quantidades de ácaros do pó e fungos”, garante Ana Morête.
Os colchões fazem parte da cama e inevitavelmente entram na lista de recomendações. Luís Uva explica porquê. “Os colchões também acumulam bactérias e micróbios, devido a células de pele, partículas de alimentos e fungos. Como não é fácil lavá-los, usar uma capa lavável e lavá-la a cada uma ou duas semanas ajuda a reduzir os micróbios.”

E não é de mais relembrar outros cuidados que têm interferência no assunto. Tomar banho antes de dormir para não ir para a cama com o corpo suado. Não usar maquilhagem ou cremes durante o sono, não comer ou beber na cama para que não haja restos de comida nesse compartimento. E outras coisas mais. “Manter animais fora dos lençóis e tirar as meias sujas são práticas que ajudam a manter a roupa de cama limpa por mais tempo”, assegura Luís Uva. Até porque pensar numa fronha como um reservatório de bactérias, mais do que uma casa de banho, não é uma imagem agradável. Muito menos saudável.