Valter Hugo Mãe

Um país para professores


Falamos das gerações mais bem preparadas da história, contudo, o desprestígio da carreira docente também nunca foi maior e julgo que a grande chico-espertice a que assistimos é a de esticar a corda procurando continuar a fazer omeletas sem usar ovos. As escolas públicas estão cada vez mais empobrecidas de meios humanos, embora a bandeira das gerações mais bem preparadas pareça querer dizer que, afinal, está tudo bem. Mas não está. A rotura é à vista. Desqualificar a carreira docente até ao ponto em que ninguém quer ser professor é deitar fora o futuro e matar à partida as oportunidades das novas gerações. Não há democracia sem professores, não há justiça sem professores porque não há futuro sem professores.

O Monteiro Lobato dizia que um país se faz com homens e livros. Eu acredito que um país se faz com pessoas, entre as quais alguém ensina para que alguém aprenda. Os livros, por mais que os ame e me sirvam de maravilha, só estão ao tamanho de um professor quando também ensinam, quando nos entregam o que os professores entregam: as chaves para o conhecimento.

Chega o mês das escolas e vamo-nos habituando ao desprezo pela classe que anda como nómada pelo país, à míngua de lugar entre alunos como pássaros a desnutrir nos ninhos. Que tenhamos mais licenciados do que nunca não significa que tenhamos cidadãos mais preparados, porque a informação que se recebe só aproveita se acompanhada do completo processo de humanização que significa educar. E a educação não se esgota na família. As famílias, por mais preparadas, não são necessariamente capazes de uma didáctica universal, uma noção clara do que importa fornecer ao conhecimento de uma criança segundo sua idade, sua maturidade. As escolas, os professores, são pois os instrumentos potenciadores da paridade, de tudo quanto transforma uma criança numa figura de vocação para a igualdade de oportunidades. O que significa que são as escolas, os professores, quem executa essa fundamental tarefa de fazer disto uma democracia, que é o mesmo que dizer que fazem disto um país. De outro modo seria apenas um lugar onde todos haveríamos de estar debaixo de abuso. Todos os países onde se mira a justiça são países de professores. Sonho que assim sejamos nós, mais dia ou menos dia, mas urgentemente. Urgentemente.