Trabalho de Pedro Gil Ferreira foi distinguido pela Sociedade Astronómica Britânica com a medalha Eddington.
Compreender o universo pode não ter feito parte dos sonhos de infância, mas tem sido a constante que norteia a carreira de Pedro Gil Ferreira, o astrofísico português cujo trabalho foi este ano distinguido com a medalha Eddington da Sociedade Astronómica Britânica. Professor e investigador na Universidade de Oxford, é também autor de livros científicos como “A teoria perfeita”. Cruzou continentes para aprofundar conhecimentos, ciente de que alargar horizontes é essencial à evolução do ser humano.
Pedro Gil Ferreira nem tinha “interesse” por astronomia quando era jovem, sonhava antes com um futuro como compositor e aplicava-se no conservatório. Foi só no acesso ao Ensino Superior que percebeu que “tinha mais jeito para a física” e abdicou da música.
Formou-se em Engenharia Física Tecnológica no Instituto Superior Técnico e fez-se ao Mundo, seguindo a “cultura” daquela academia. “Se uma pessoa tinha interesse em seguir uma carreira académica era encorajado a concorrer para fora. Nessa altura, havia muitas bolsas”, conta, explicando que desde que saiu de Portugal já passou pelos EUA, pelo Reino Unido (doutorou-se em Física Teórica no Imperial College) e pela Suíça, para um pós-doutoramento no CERN, onde a Organização Europeia para a Investigação Nuclear tem o maior laboratório de física de partículas do Mundo. Regressou ao Reino Unido onde hoje integra o departamento de Astrofísica da Universidade de Oxford. Os interesses pela cosmologia e pela física teórica mantiveram-se ao longo das três décadas de carreira. Já se sabe muito sobre o universo e há até um “modelo matemático que descreve, pelo menos em grande escala, o universo de uma maneira absolutamente fenomenal”. Mas também há muitos “detalhes” que ainda não compreendemos.
“Os detalhes é que são a parte fascinante” para Pedro Gil Ferreira. “Não percebemos muito bem, por exemplo, porque é que o universo está a acelerar tão rapidamente agora, ou seja, está a expandir mais rapidamente do que estávamos à espera. A teoria mais em voga é que existe uma forma de energia escura que está a fazer isso.” Por outro lado, “quando olhamos para as galáxias, não percebemos completamente porque é que não se desfazem”, mas calcula-se que a matéria escura entre na equação. Saber o que é a energia escura e a matéria escura é algo que lhe desperta grande interesse.
“Alargar horizontes foi sempre um fator no progresso, na evolução do ser humano. O aumento gradual do conhecimento tornou-nos mais sábios”, considera o cientista. E não se pense que o desenvolvimento de tecnologias para conhecer melhor galáxias longínquas não pode, também, mudar o quotidiano imediato na Terra. Aconteceu com a Internet, criada por cientistas no CERN, e com o wireless, desenvolvido por radioastrónomos na Austrália.