Torres Novas: uma história sem fio à vista

Com 179 anos de história, a marca de têxteis-lar mais antiga do país soube renascer das cinzas. E quer para si o mesmo que para os seus produtos. Durar uma vida inteira.

Écomo uma loja de doces. Colorida, atrativa, organizada. Faz-nos querer entrar, tocar, comprar. Na verdade, ali dentro há toalhas de banho, de praia e de mesa. Há lençóis, colchas, mantas e almofadas. É o showroom da Torres Novas, a marca de têxteis-lar mais antiga de Portugal. E sim, a analogia inicial não é descabida. Atravessar aquelas portas apaixona-nos os olhos. É como entrar numa loja de doces, mas para adultos. Com a promessa de um investimento seguro. Para a casa. Para a vida. E há décadas de história que o comprovam.

Foto: Torres Novas

A Companhia Nacional de Fiação e Tecidos de Torres Novas nasceu em 1845, impulsionada por um grupo de comerciantes lisboetas que já trabalhavam nesse ramo e desejavam independência em relação às importações. Rumaram a Torres Novas por motivos que hoje se desconhecem. E foi por lá que consolidaram o desejo de controlar o fabrico das suas peças. Nos seus primeiros anos, a empresa focou-se na fiação de linho, juta e algodão, e na confeção de lonas, predominantemente para o mercado nacional. No final do século XIX já se destacava como uma das maiores indústrias transformadoras do país.

Foto: Torres Novas

A viragem decisiva ocorreu em 1949, quando António Medeiros e Almeida adquiriu a companhia, iniciando um processo de modernização e promoção internacional. Em 1972, a empresa lançou a produção de toalhas de banho e outros artigos turcos, controlando todo o processo produtivo, desde a fiação até ao produto final. A Companhia de Torres Novas rapidamente se tornou uma referência na confeção de roupa de banho, consolidando a marca como sinónimo de qualidade e design inovador.

Foto: Torres Novas

Com coleções como Almonda, Luxus e Elegance, a Torres Novas foi adotada por lojas tradicionais de produtos para a casa em Portugal. No entanto, a entrada no novo milénio trouxe desafios, como a concorrência estrangeira e a crise financeira de 2008, que culminaram na insolvência da empresa em 2011.

Em setembro de 2018, uma nova geração de empreendedores – Nuno Vasconcellos e Sá, Inês Vaz Pinto e Miguel Castel-Branco – sentiu que não podia deixar a marca cair no esquecimento. Assim, relançaram a Torres Novas com o apoio de Adolfo de Lima Mayer, ex-administrador da companhia, tendo como base o saber fazer acumulado ao longo de mais de um século. Na impossibilidade de comprar e restaurar a fábrica já devoluta, optaram, como princípio, produzir tudo em Portugal, em colaboração com parceiros que percebem a importância da qualidade pretendida e que possuem experiência nesse campo.

Foto: Torres Novas

Porém, o sucesso nem sempre caminha em linhas retas. Inicialmente, a aposta foi no setor hoteleiro. As encomendas começaram a acontecer, a faturação a aumentar, mas veio a pandemia e o negócio podia ter-se convertido num castelo de areia. O jovem trio volta a sentar-se à mesa. “Percebemos que íamos ter de optar pelo caminho mais simples e pusemos as mãos na massa”, recorda Inês Vaz Pinto à “Notícias Magazine”.

Com humildade e resiliência, voltaram a olhar para o pouco espólio e realinharam as agulhas. Não perderam a hotelaria de vista, mas começaram a olhar para o cliente individual. Relançaram algumas das coleções mais clássicas de toalhas de banho, já acima referidas. E desde então, a empresa ganhou novo fôlego. A missão permanece: oferecer produtos que durem gerações. “Há pessoas que nem se aperceberam que a Torres Novas chegou a fechar”, conta Inês. Acrescenta que tem noção de que os valores praticados estão acima da média, “mas é a única forma de conseguirmos manter a qualidade de fabrico”, confessa. “É um investimento. Vale a pena.”

Foto: Torres Novas

A visão da marca passa por transformar o quotidiano dos consumidores, proporcionando-lhes pequenos luxos. Através da qualidade do material, da delicadeza das cores e da possibilidade de personalização das peças. E assim, hoje, a Torres Novas já vive de metade dos clientes de sempre a que se juntam outros mais jovens. Sem se esquecer de piscar, cada vez mais, o olho ao mercado internacional, que tem crescido exponencialmente. “Vendemos para a Europa, mas também para o Líbano, Venezuela e Argentina. E, apesar do assédio constante, fica a promessa: “Continuará tudo a ser fabricado em Portugal. A norte. Confiamos muito nos nossos parceiros”.

Foto: Torres Novas

Com novidades a caminho e outras ainda a serem cozinhadas, Inês sorri. “Estamos a crescer. Não vamos ficar por aqui.” E até se pode dizer que estão nas nuvens. Basta consultar o catálogo da marca para perceber porquê. Após 179 anos, a Torres Novas está bem viva na qualidade e na tradição. Preserva o seu forte e longo legado e abraça o futuro com renovado entusiasmo.

 

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Com uma vasta gama de produtos, a marca conta com toalhas de mesas, banho e praia, roupões, tapetes e roupa de cama, vendidas online e em cerca de 100 lojas a nível nacional.