Cresceu na universidade, destacou-se e apaixonou-se no Parlamento, fez parte de um breve Governo. Fala italiano e não receou convites para observadora de eleições em países de risco.
Na carta oficial em que apresentou a sua candidatura a provedora de Justiça europeia entre 2024 e 2029, Teresa Anjinho foi muito clara nos seus objetivos. “Criar um espaço em que todos os cidadãos europeus se sintam motivados para dialogar com as instituições, órgãos e organismos da UE confiantes de que as suas preocupações serão abordadas com equidade, integridade e confiança”, prometeu.
Após sucessivas e exigentes provas, que incluíram um interrogatório de uma hora diante dos eurodeputados, ganhou a eleição frente a cinco candidatos, no passado dia 17. Bastaram duas rondas de votação para se saber que vencera com 344 votos favoráveis, deixando para trás os italianos Emilio de Capitani e Marino Fardelli, a austríaca Claudia Mahler, a estónia Julia Laffranque e o holandês Reinier von Zutphen, garantido a sucessão da irlandesa Emily O’Reilly, que se manteve no cargo durante dez anos. “O mundo de hoje não compreende a indecisão por trás de formalidades ou burocracias desnecessárias, nem aceita atrasos injustificados”, avisou.
Marcelo Rebelo de Sousa foi dos primeiros a congratular “calorosamente” Teresa Anjinho. “É um orgulho para Portugal ter mais uma portuguesa numa função de elevado destaque no quadro da União Europeia”, escreveu o presidente da República. Luís Montenegro também não poupou nos elogios. “É uma honra ver uma mulher portuguesa desempenhar funções de elevada responsabilidade, exigência e prestígio”, expressou o primeiro-ministro na rede social X.
Natural de Coimbra, foi na universidade da cidade natal que Teresa Anjinho se licenciou em Direito, em 1997. A parte final do curso foi cumprida em Roma, em regime de programa Erasmus, ficando daí a fluência na língua italiana, que mantém até hoje. Foi também em terras transalpinas, na cidade de Pádua, que realizou o mestrado em Direitos Humanos e Democratização. Ainda tentou o doutoramento em Direito Penal Internacional, na Universidade Nova, em Lisboa, mas mantém-no em suspenso.
Seguiu-se um percurso profissional que teve (quase) sempre o Ensino Superior como ponto central. Entre outros cargos, foi investigadora associada da Nova e da Universidade Lusófona, além de professora de Direito Internacional Comunitário.
“Comecei por ser académica da área dos direitos humanos e estava apaixonada pelas ideias, pela teoria. Mais tarde, entrei na política, até por estar envolvida em questões relacionadas com os direitos das mulheres”, assinalou em entrevista recente à rádio Antena 1.
Chegou a deputada pelo CDS, em 2011, eleita pelo círculo de Aveiro. No Parlamento, destacou-se na polémica e intensa Comissão de Inquérito ao BES. “Sempre achei que era muito importante que, tendo eu essa oportunidade, desempenhasse o meu papel. Percebi rapidamente que uma ideia para ser boa tem de ser concretizável”, lembra desses tempos. Que lhe trouxeram, também, o amor. Então divorciada, foi em São Bento que conheceu o social-democrata Ricardo Baptista Leite. Apaixonaram-se, mantêm-se juntos até hoje e são pais de um menino de oito anos.
“Na nossa vida há muita política, isso até nos prepara melhor para os assuntos”, disse à “Notícias Magazine”, em 2017.
Em 2015, foi convidada por Pedro Passos Coelho, então primeiro-ministro, para secretária de Estado da Justiça, num gabinete liderado pelo social-democrata Fernando Negrão, no curto Governo de um mês que se seguiu às legislativas desse ano.
Antes da chegada à Assembleia da República e posteriormente ao Executivo, Teresa Anjinho tinha já experimentado patamares internacionais. Em nome da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, fora supervisora de eleições parlamentares na Bósnia e Herzegovina e na Rússia, respetivamente em 1998 e 1999, e de dois escrutínios municipais no Kosovo, em 2000 e 2002.
Mais recentemente, em Portugal foi provedora-adjunta de Justiça, enquanto em Bruxelas integrou o Comité de Fiscalização do Organismo Europeu de Luta Antifraude.
Cargo: Jurista e futura provedora de Justiça europeia
Nascimento: 03/10/1974 (50 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Coimbra)