Susie Wiles, a mulher que transformou o ex-presidente no futuro presidente

Susie Wiles vai ser a futura chefe de gabinete de Donald Trump na Casa Branca

Trump chama-lhe “dama de gelo”, rendido à forma cerebral como planeia e executa. Mas a futura chefe de gabinete da Casa Branca é muito mais do que isso. É rainha dos jogos de bastidores da política americana.

Quarta-feira, 6 de novembro. A vitória dos republicanos está confirmada. No Centro de Convenções de Palm Beach, na Florida, perante um mar vermelho de entusiasmo, Donald Trump fala aos apoiantes. No palco, longe dos holofotes e desfocada nas imagens, Susie Wiles. A diretora de campanha – uma das principais responsáveis pela reabilitação de Trump perante o eleitorado americano, experiente estratega, sempre muito discreta e reconhecidamente decisiva nesta corrida à Casa Branca – só apareceu na primeira fila quando o futuro presidente a chamou. Mas foi sol de pouca dura. Meio envergonhada, recusou discursar, endossando a missão a um colega da equipa.

Na hora da consagração, o ex-presidente e futuro presidente devolveu-lhe a dedicação e o profissionalismo em elogios. “É forte, inteligente, inovadora e universalmente admirada e respeitada”, afirmou, chamando-lhe, inclusivamente, “dama de gelo”, rendido à forma cerebral como planeia e executa, num exímio trabalho invisível que, ao longo dos anos, sempre recolheu mais elogios do que reprovações. Por isso, não surpreendeu que cerca de 48 horas depois de estar confirmado o triunfo nas urnas, tenha sido anunciada como a primeira mulher a desempenhar funções de chefe de gabinete da Casa Branca, cujos titulares são vistos como a segunda pessoa mais poderosa, logo atrás do presidente.

Deixemos o presente e o futuro. Regressemos ao passado. Susie, 67 anos, mãe de duas filhas e avó de um neto, começou a trabalhar na política no final da década de 1970, a tempo de se juntar à campanha de Ronald Reagan, antes da sua eleição em 1980, e de trabalhar como programadora na Casa Branca, onde conheceu Lanny Wiles, futuro marido, de quem se divorciou há quatro anos. E foi na Florida, para onde foi residir, que a filha do falecido jogador de futebol americano e apresentador Pat Summerall fez currículo.

Após inúmeros trabalhos menos mediáticos, mas quase sempre vitoriosos, no seio dos republicanos, o seu primeiro grande sucesso aconteceu em 2010, quando Rick Scott, agora senador americano, era um empresário praticamente desconhecido em termos políticos. Pois bastou meio ano com Susie para se tornar governador. Em 2019, igualmente sob a sua batuta, Ron DeSantis também chegou a governador da Florida. O mesmo DeSantis que, anos mais tarde, a dispensou, mas que acabaria por sentir na pele a sua força lobista, ao ser obrigado a desistir da corrida presidencial de 2024, abrindo, assim, caminho para a autoestrada vitoriosa de Trump.

Trump e Wiles conheceram-se em 2015, durante as primárias presidenciais republicanas. Wiles tornar-se-ia copresidente da campanha na Florida. Trump bateria Hillary Clinton no Estado e no país. O protagonismo de Wiles foi crescendo, assim como a proximidade ao então presidente. Em 2020, voltou a dirigir a campanha na Florida e a ser decisiva na vitória dos republicanos no estado. A forma sóbria de trabalhar e a mestria como domina os jogos de bastidores convenceram Trump e os que lhe eram próximos, ao ponto de a tornar sua chefe de gabinete após o desaire nacional.

Nos últimos quatro anos, Susie minimizou derrotas e polémicas e preparou a eficaz campanha que o fez regressar à Casa Branca, com a tomada de posse marcada para 20 de janeiro. E é com Wiles que Trump segue para Washington DC, depois de ter sido obrigado a ceder a algumas exigências. No topo, um maior controlo das pessoas que terão acesso à Sala Oval. A chefe de gabinete não quer “intrusos” que possam arruinar o trabalho realizado. Um trabalho que ultrapassou o desaire de 2020, a insurreição de 2021, acusações criminais, julgamentos e até condenações.

Voltemos a 6 de novembro, ao Centro de Convenções de Palm Beach. No final da cerimónia, poucos segundos antes dos diretos televisivos terminarem e das câmaras se apagarem, mesmo no fundo do palco, foi notório o abraço caloroso que Susie Wiles deu a JD Vance. Será que, desta vez, a segunda pessoa mais poderosa é mesmo o vice-presidente?

Cargo: futura chefe de gabinete da Casa Branca
Nascimento: 14/05/1957 (67 anos)
Nacionalidade: norte-americana