Joel Neto

Somar ao mundo


Trago-vos notícias que talvez vos surpreendam: o Rubble & Companhia é muito mais fixe do que a Patrulha Pata. Não é que eu não goste da Patrulha Pata. Como poderia não gostar? Desde que o Paulo abriu a caixa de Pandora, mostrando-lhe dois minutos de um episódio, o Artur nunca mais passou em frente a um televisor sem apontar:
— Patata!
Às vezes vou acordá-lo de manhã e, antes mesmo do nosso nhó-nhó de bons-dias, já ele reclamou:
— Patata!
Outras vezes vimos da creche e ainda nem eu descalcei os sapatos e já ele está:
— Patata!

De início via-a mesmo junto ao ecrã, arriscando uma dor de cabeça. Agora já se senta no canto do sofá, com três bolachas integrais no meio das pernas, a vê-la e a sorrir para nós.

Foi assim que fiquei a saber que a célebre Patrulha Pata, para minha surpresa, não tinha patos, apenas cães. Entretanto, habituei-me ao helicóptero da Skye e à Galinheta da Presidente Goodway. Ou muito me engano, ou já sou até capaz de recitar os nomes dos seis cães-heróis (confesso que fui ao Google), e ainda há dias percebi, com infinita diversão, que a voz do Presidente Humdinger é, evidentemente, a de um tipo a gozar com José Sócrates.

Mas, há umas semanas, acabou um episódio, começou outro, e o Artur:
— Nããão.
Primeiro, não percebi. Depois, e como ele insistisse, apontando o televisor e meneando a cabeça na minha direcção:
— Nããão!
Eu olhei melhor.

Estava a dar a Patrulha Pata, mas afinal não era a Patrulha Pata. Era o Rubble & Companhia, protagonizado pelo menos memorável dos tais seis cães, um buldogue de capacete amarelo e escasso carisma. Pareceu-me extraordinário que o meu filho tivesse percebido, nos seus modestos 21 meses – ainda por cima antes de mim, que ando aqui há tanto tempo e tenho tanto a mania. Mas, de repente, gostei imenso.

Porque o Rubble & Companhia é sobre construir coisas. Construir mesmo. E, portanto, os cães de construção, que andam em betoneiras e em camiões, nunca usam betão ou parafusos: usam betão de secagem rápida ou parafusos de cabeça sextavada, num pormenor que suplanta tudo o mais que eu tenha visto nos domínios da didáctica.

É claro: a Patrulha Pata salva pessoas, animais, situações. Isto além de os cães trabalharem em equipa. E com certeza os miúdos também têm conveniência nessas histórias. Mas a bem-aventurança, haverá sempre quem queira ensinar-lhes, sobretudo se houver uma possibilidade de moralismo. Já as técnicas de construção, não estou a ver grande concorrência. E não há nada mais incrível do que isso: construir coisas, criá-las – acrescentá-las ao mundo.

Já estou a decorar o tema do Rubble & Companhia, a ver se puxo pelo garoto. Temos perdido imenso tempo a gritar “Sporting!”.