
Bate recordes, desafia a gravidade, estica limites. A melhor de sempre. Pequena em tamanho, gigante no desporto. A praia acalma-a e o vermelho fá-la sentir poderosa (e ela é poderosa).
Tem apenas um metro e 42 centímetros de altura e o Planeta a seus pés. É a ginasta mais medalhada de sempre, contraria as leis da gravidade, faz o que nunca foi feito na história da ginástica artística. É brilhante e genial. Soube parar para dar prioridade à saúde mental, admitiu estar bloqueada, falou de abusos sexuais. Voltou em grande, ganhou quatro medalhas (três de ouro e uma de prata) nos Jogos Olímpicos de Paris, fez uma vénia no pódio à principal adversária em sinal de respeito. Biles, Simone Biles. Quem mais?
Aos seis anos, estava na ginástica e não tardaria a dar nas vistas. Aos 16, duas medalhas de ouro no Campeonato do Mundo em Antuérpia, Bélgica, e um duplo mortal com meia torção, movimento inovador no solo que inscreveu na história como Biles I – tem mais quatro elementos assim, distintos e com o seu nome, entre os quais um triplo-duplo mortal no solo e um duplo mortal com dupla pirueta na trave. O Mundo percebeu o que a pequena ginasta norte-americana era capaz e o que tinha para dar, talvez não estivesse à espera de tanto.
Aos 19, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, Biles ganhou cinco medalhas. Em 2019, cinco ouros no Mundial de Ginástica em Estugarda, Alemanha. No ano passado, fez um salto nunca antes feito por uma mulher, um Yurchenko com duplo encarpado no Mundial de Antuérpia, num fato luminoso azul-claro e o número 604 nas costas. Continuou a dar que falar, arenas repletas de gente para a ver saltar e rolar no ar, juízes surpreendidos com os seus desempenhos. Até que em 2021, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, um salto não lhe saiu bem, percebeu que não estava bem, abandonou a competição, admitiu os bloqueios mentais e a desorientação, anunciou que iria cuidar de si, abrindo os olhos do Mundo para a importância da saúde mental. “Na saúde mental, cada um trava a sua batalha”, disse, mais tarde.
Foi-se abaixo, pensou terminar a carreira, tatuou na clavícula a frase que resume a sua vida e a sua carreira: “And still I rise”, da escritora e ativista negra norte-americana Maya Angelou, que significa “e ainda assim me levanto”. E reergueu-se em Paris para voar no solo e ganhar o ouro no All Around, numa prova que não deixou lugar para qualquer dúvida. Aos 27 anos, Biles está perfeita. E já vão 41 medalhas, 30 mundiais, 11 olímpicas. Quem a treina garante que aquela noção de espaço, quando está no ar, não se ensina e elogia-lhe a força, o impulso, a rapidez.
A infância de Biles foi dura, pesada, difícil. Mãe toxicodependente, já contou várias vezes que era criança e nunca sabia se teria comida na mesa, viveu quase um ano num lar de acolhimento até o avô materno, Ron Biles, e a sua companheira Nellie Biles, a adotarem, a si e à sua irmã. Os dois irmãos mais velhos foram adotados por uma tia, irmã do pai. Ron e Nellie acompanham-na para todo o lado nas competições, inscreveram-na na ginástica pelos pulos e saltos que dava lá em casa – já era destemida, na altura. Simone chama-lhes pai e mãe.
No documentário “O regresso de Simone Biles”, da Netflix, garante que a família é tudo para si. Casou-se com Jonathan Owens, jogador de futebol americano, a 6 de maio de 2023. Está feliz. Nesse filme, revela que tem “uma excelente intuição”, que a praia a acalma e que o vermelho a faz sentir poderosa. Tem uma casa nova idealizada com o marido, um cão, safa-se bem no ténis de mesa quando joga com a irmã. Recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade das mãos de Joe Biden, presidente dos Estados Unidos.
Quando há dias os jornalistas lhe perguntaram se estará nos Jogos Olímpicos de Los Angeles daqui a quatro anos, em 2028, respondeu pedindo para deixarem os atletas desfrutar do momento para o qual deram tudo e dedicaram uma vida. “As pessoas colocam-nos num pedestal, e eu só quero ser humana”, referia no documentário da Netflix. Biles, a inigualável Simone Biles. Quem mais?
Cargo: Ginasta
Nascimento: 14/03/1997 (27 anos)
Nacionalidade: Americana