Sérgio Dinis: Fugiu aos lobos e chegou a bispo

Cresceu numa aldeia isolada e fez quilómetros a pé para ir à escola. O apelo da fé surgiu cedo, mas nunca ambicionou altos cargos. Ainda
não acredita na missão que lhe foi confiada.

Quando soube que o Papa Francisco o nomeara bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança de Portugal, D. Sérgio Dinis viveu sensações contraditórias. “Fiquei estarrecido, sem respiração. Não disse palavra durante vários minutos e cheguei, inclusive, a argumentar que não poderia aceitar o convite”, recorda à “Notícias Magazine”. “Fui depois rezar para uma capela e caí em mim. Ou quase, porque ainda me sinto um pouco anestesiado com a notícia”, confessa o padre que, aos 54 anos, vai suceder a D. Rui Valério, agora patriarca de Lisboa.

Sérgio Dinis é transmontano de gema e assim se assume com orgulho. Nasceu numa casa isolada na pequena aldeia de Arjuiz, Mondim de Basto, que acolhia o pai, guarda-florestal, a mãe, doméstica e onde também veio ao Mundo a irmã, quatro anos mais nova e hoje professora. Ali, onde o olhar se perde na imensidão das montanhas do Alvão e do Marão, brincou sozinho. E também sozinho foi à escola, em Ermelo, cinco quilómetros a pé todos os dias por entre perigos vários. “Havia lobos e vez houve em que um veio na minha direção. Valeu-me uma cadelita que me acompanhava e o afastou”, lembra. Aos domingos, ia à missa com a família, igualmente a passo de caminhada, e todas as noites rezava o terço.

Com 10 anos, foi estudar para o Colégio Salesiano de Poiares, no Peso da Régua. Daí, com 12, saiu para outra escola salesiana em Mogofores, Anadia. “Ouvíamos a banda do José Cid, que morava lá perto, a ensaiar”, conta. Com 16, teve um “ataque de rebeldia” e deixou tudo para trás. “Fui estudar para o Porto, mas rapidamente voltei a Trás-os-Montes, onde frequentei a Secundária Camilo Castelo Branco, em Vila Real”.

Sentia já o apelo da fé e via o sacerdócio como caminho a seguir. “Denotava vocação e tinha o horizonte de ser padre. Foi diretamente para o Seminário do Porto e especializou-se em Filosofia e Teologia na Universidade Católica”, aponta Manuel Queirós, pároco de Campeã, arcipreste e amigo de longa data de D. Sérgio Dinis. Licenciou-se mais tarde em Direito Canónico pela Universidade Pontifícia de Salamanca, em Espanha.

A cerimónia de ordenação como sacerdote ocorreu a 17 de julho de 1994, em Vila Real, em cuja diocese começou imediatamente a trabalhar. Iniciou-se como secretário do então bispo local, monsenhor Joaquim Gonçalves, e dois anos depois assumiu uma paróquia em Alijó e três em Murça. Numa delas, em Noura, mantém-se em funções desde então. “Começou muito novo como padre local e sempre demonstrou disponibilidade para as pessoas e para ajudar quem precisa. É uma casa aberta, com ele pode falar-se de tudo”, classifica Carlos Alberto Gomes, presidente da União de Freguesias de Noura e Palheiros. Ali, tem um rebanho de cerca de 600 fiéis, que lhe dedicam um carinho forte. “Organiza regularmente trabalhos sociais, passeios de bicicleta, assim como peregrinações a Fátima e a Santiago de Compostela em que ele próprio participa. Enfim, está sempre ativo em busca do melhor para a comunidade”, assinala o autarca.

Continua com frequência a visitar a família, entretanto mudada em definitivo para Ermelo, nomeadamente a avó, hoje com 104 anos. O pai faleceu em janeiro deste ano vítima de cancro e os últimos dois meses de vida passou-os com o filho na sua casa paroquial.

“Foi ele próprio que celebrou a missa de corpo presente do pai, uma cerimónia muito comovente”, recorda José Mota, presidente da União de Freguesias de Ermelo e Pardelhas. “É muito próximo das pessoas”, diz.

Além de pároco, D. Sérgio Dinis é, também, juiz do Tribunal Eclesiástico Interdiocesano, membro do Arciprestado Douro II e dos colégios de Consultores, Presbiteral e Pastoral da diocese de Vila Real. Tem sempre tempo para os amigos. “Raramente almoça ou janta sozinho, gosta sempre de companhia. E sabe cozinhar bem”, destaca Manuel Queirós.

A cerimónia de ordenação como bispo das Forças Armadas está marcada para 26 de janeiro. “Nunca sonhei ser bispo, sei bem a grande cruz que terei de suportar. Nem tenho quaisquer outras ambições, a não ser cumprir o melhor que sei a minha difícil missão”, assinala com humildade.

Cargo: Futuro bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança de Portugal
Nascimento: 08/05/1970 (54 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (Mondim de Basto)