Rúben Amorim. Futebol, telenovelas e dons de adivinhação

Benfiquista fanático, Rúben Amorim conquistou o céu como treinador do Sporting. Amigo dos seus jogadores, adora noites passadas em família frente à televisão. E uma boa feijoada.

Pouco depois de dar como terminada a carreira de futebolista, com apenas 31 anos, Rúben Amorim revelou a inesperada faceta de prever o destino. Numa descontraída entrevista ao podcast “Maluco Beleza”, de Rui Unas, tocou em três pontos que acertaram em cheio no que viria a ser depois a sua realidade como treinador do Sporting. Falou sobre João Pereira, o seu mais do que provável sucessor – “dentro de campo é um ‘mete nojo’ e fora dele um paz de alma” –, abordou Hugo Viana, diretor desportivo dos leões, de saída no final da época para desempenhar as mesmas funções no Manchester City – “não podia com ele enquanto jogador, ficámos grandes amigos quando fomos companheiros de equipa em Braga” – e até falou do emblema que será o seu próximo desafio: “Um profissional não pode pesquisar no Facebook do Manchester United que vão logo dizer que está interessado em mudar-se para lá”. Premonitório, no mínimo.

Estávamos em 2017 e Rúben Amorim, que se confessava um “fanático benfiquista”, estaria longe de imaginar que em 2024 seria um ídolo do rival Sporting, onde conquistou dois títulos de campeão nacional, além de duas Taças da Liga e uma Supertaça Cândido de Oliveira. Saiu em ombros de Alvalade, chega em grande a Old Trafford, onde já o apelidam de novo Special One.

Na mesma conversa, contou que uma noite ideal é passada em casa a ver telenovelas com a mulher, Maria João, engenheira eletrotécnica e designer de interiores. Definiu-se como um atleta “pouco ousado, mais preocupado em não fazer asneiras do que em dar nas vistas”, rebobinou episódios da adolescência, como daquela vez em que o foram chamar a uma aula de Matemática para participar numa peladinha em que também alinhava o irmão, Mauro, mais velho dois anos e com quem partilhou aventuras inesquecíveis. “Certo dia íamos caindo a um precipício quando andávamos de bicicleta”, lembrou.

Rúben Amorim nasceu prematuro em Lisboa, depois de uma gravidez complicada da mãe, Anabela. Viveu a infância em Alverca, onde o pai é proprietário da loja “Rei das Chaves”, e na adolescência, depois da separação dos pais, mudou-se para a margem sul do Tejo, primeiro para a Charneca da Caparica e depois para Corroios. Começou a jogar nos sub-11 do Benfica – “pedia sempre como presente de aniversário uma ida ao Estádio da Luz” –, nos sub-14, transferiu-se para o CAC da Pontinha, regressou ao Benfica e terminou a formação nos juniores do Belenenses, clube onde se estreou como sénior ao entrar a um minuto do final de um jogo frente ao Alverca, em 2003, pela mão do treinador sérvio Vladislav Bogicevic.

“É uma pessoa séria, rigorosa e, acima de tudo, muito humana. O único defeito que tem é irritar-se quando as coisas não lhe correm bem, o que tem a ver com a exigência que coloca em tudo”, descreve Bruno Simão, futebolista e amigo de Rúben Amorim há cerca de 30 anos.

Assinou pelo Benfica em 2008/09 e lá ficou até 2014/15, com dois empréstimos ao Sp. Braga pelo meio. Pendurou as botas no Al-Wakrah, do Catar, clube no qual incitou a uma pequena rebelião interna. “Disse a colegas que tinham salários em atraso que parassem de treinar, em protesto.” No Médio Oriente, sentiu falta dos pratos favoritos: cozido à portuguesa, feijoada e massa no forno com carne picada.

Casado há uma década e com dois filhos, assumiu a carreira de treinador ao serviço do Casa Pia, como estagiário, por não ter habilitação para exercer tais funções, em 2018/19, no terceiro escalão. Na época seguinte assumiu o Sp. Braga B e deixou bem presente a sua impressão digital. “Na apresentação, disse logo que seria o nosso melhor amigo. Mas não deixava ninguém abusar da sua confiança. Era diferenciado, notou-se desde logo”, relembra Nuno Santos, defesa-central que teve Rúben Amorim como técnico no Minho.

Demorou poucos meses até ser chamado a substituir Ricardo Sá Pinto na equipa principal bracarense, ganhou uma Taça da Liga e ao fim de 13 jogos viu o Sporting pagar dez milhões de euros (mais quase cinco milhões de juros) pela cláusula de rescisão. O resto foi História.

Cargo Novo treinador do Manchester United
Nascimento 27/01/1985 (39 anos)
Nacionalidade Portuguesa (Lisboa)