Português desenvolve vacinas a partir do Canadá

Mário Monteiro tem dedicado a vida a combater bactérias causadoras de doenças gastrointestinais, mas não esquece as raízes em Portugal.

Mário Monteiro tem sobressaído na comunidade científica pelo seu trabalho no desenvolvimento de vacinas, ajudando na luta contra problemas gastrointestinais que podem ter repercussões graves. Radicado no Canadá, não esquece, no entanto, a “fundação” em Gouveia e o “brio” que sempre o tem acompanhado.

A vida deste cientista tem sido dedicada ao desenvolvimento de novas vacinas baseadas em carboidratos, destacando-se as que atuam contra bactérias causadoras de doenças gastrointestinais, como diarreia. Contribuiu, por exemplo, para criar uma vacina contra a bactéria intestinal Clostridium difficile, que causa grande preocupação nos hospitais.

Atualmente, o cientista debruça-se sobre bactérias que são comuns nos intestinos de algumas pessoas e estão associadas ao autismo. Desenvolver uma vacina que “consiga baixar o número de colónias de bactérias prejudiciais no sistema gastrointestinal das crianças com autismo” permitirá melhorar a sua condição de vida. O trabalho tem atraído muita atenção, mas o cientista quer evitar equívocos ou falsas expectativas, pelo que faz questão de frisar que “não se trata de uma vacina contra o autismo”.

Nasceu em Lisboa, mas a família rumou à serra da Estrela quando era ainda bebé. Cresceu numa aldeia do concelho de Gouveia, onde observava a Natureza e obteve o que ainda hoje recorda como uma “boa fundação”. No entanto, o declínio do setor têxtil naquela região levou os pais a procurarem uma vida melhor no Canadá e Mário Monteiro seguiu-os aos 14 anos.

“Curioso” por natureza, conseguiu adaptar-se. Doutorou-se com um trabalho sobre “uma bactéria importante, que causa cancro no estômago”. Depois, trabalhou como investigador no National Research Council of Canada em Ottawa e, depois, na Wyeth (que, entretanto, foi integrada na Pfizer), nos EUA. Há cerca de duas décadas regressou ao Canadá, assumindo atualmente funções como investigador e professor catedrático no departamento de Química da Universidade de Guelph.

Mantém ligação com Portugal, participando em conferências e ações em universidades. Em agosto, promoveu, em Gouveia, a conferência LUSOciência.

Ao longo da vida, o “brio” tem sido uma constante na sua atuação. “Tem de haver brio no que se faz, seja o que for”, diz, defendendo que em Portugal se cultive mais este valor. O cientista considera, ainda, que o país tem, “na camada jovem, dos melhores cientistas” do Mundo, mas é preciso definir estratégias de longo prazo e “remarmos todos para o mesmo lado”. “Na ciência, e em tudo, temos de estar focados em objetivos que sejam palpáveis.”

Mário Monteiro
Localização Guelph, Canadá
Profissão Professor e investigador
Idade 57 anos