Desde cedo que Orlando Carvalho vive por dentro a realidade das cadeias portuguesas. Faz agora história ao tornar-se no primeiro diretor de uma prisão a ser apontado líder do setor.
Para chegar à nomeação de Orlando Carvalho como novo responsável máximo da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) é preciso recuar cerca de dois meses e às palavras duras da ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice, na reação à espetacular fuga de cinco perigosos reclusos da cadeia de alta segurança de Vale de Judeus. Corria o dia 7 de setembro quando o país ficou a conhecer uma ação digna de filme. A governante denunciou “erros, desleixo, facilidade e irresponsabilidade”, entre outros epítetos pouco abonatórios para o sucedido. E demorou pouco mais do que uma semana até aceitar a demissão de Rui Abrunhosa Gonçalves, então à frente da DGRSP, que não resistiu ao relatório preliminar que apontava “falhas graves de segurança” conducentes àquela que foi a mais espetacular evasão em Portugal nos últimos anos.
A designação de Orlando Carvalho surgiu pela boca da mesma Rita Alarcão Júdice, em pleno Parlamento, durante a discussão na especialidade do Orçamento do Estado para 2025, no passado dia 13. Na altura, a ministra admitiu ter mantido conversas profundas com o novo líder da DGRSP, nomeadamente no que diz respeito ao reforço de segurança nas cadeias, com a introdução de bloqueadores de sinal móvel. “Têm que ser reforçados os mecanismos, é um dos temas que, aliás, já falámos com o futuro diretor-geral”, reconheceu, citada pela Agência Lusa.
A escolha de Orlando Carvalho não foi recebida com surpresa. Com uma vida ligada ao setor, está (ainda) à frente do Estabelecimento Prisional (EP) de Coimbra, cargo que ocupa desde agosto de 2013. Antes, tinha cumprido a mesma missão precisamente em Vale de Judeus, de 2007 até à ida para Coimbra, além de ter dirigido o EP de Aveiro, entre 2004 e 2007.
Um percurso rico que suscitou reações positivas. “É uma pessoa com experiência e conhecimento suficientes para que a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais retome o caminho perdido há alguns anos”, considerou, ao “Jornal de Notícias”, Luís Couto, presidente da Associação de Diretores e Adjuntos de Estabelecimentos Prisionais. “Uma escolha acertada de alguém com conhecimento do que é o sistema”, disse Frederico Morais, do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, em declarações à “Antena 1”. A exceção que furou o otimismo veio de Hermínio Barradas, da Associação Sindical das Chefias do Corpo da Guarda Prisional, que não antecipa “mudanças estruturais profundas”, mesmo apesar de estar perante o primeiro diretor de cadeia indicado para liderar as… cadeias.
Orlando Carvalho nasceu e cresceu em Amoreira da Gândara, freguesia com pouco mais do que mil almas pertencente ao concelho de Anadia, distrito de Aveiro. Brincou naquelas ruas empedradas, muito antes de imaginar que a pequena aldeia viria a albergar, a partir de 2001, a fábrica da Nexxpro, que viria a tornar-se famosa por produzir os capacetes Nexx.
O sonho de um curso universitário chegou em 1984, com a licenciatura em Serviço Social concluída no Instituto Superior de Serviço Social, em Coimbra. Uma década mais tarde, e já após ter tido o primeiro contacto direto com um estabelecimento prisional, em Leiria, numa curta experiência como técnico superior de reeducação, função que também viria a desempenhar em Aveiro, realizou uma pós-graduação em Criminologia na Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto. Antes, no final dos anos 1980, integrara uma equipa destinada a recuperar e reintegrar socialmente menores inadaptados da ilha da Madeira.
O primeiro cargo de direção numa prisão surgiu no EP de Aveiro, como adjunto e substituto do diretor, de 2001 a 2004. Foi o arranque para uma carreira de dirigismo que jamais parou de subir em escalada, coordenada com a participação assídua em palestras da especialidade e em dezenas de grupos de trabalho, nomeadamente relacionados com o estudo de medidas para a vida dos reclusos no interior das cadeias, o sistema de comunicações com o exterior ou o aumento de presos em regime aberto. Agora, vem o topo da hierarquia das prisões, o passo maior da vida profissional de Orlando Carvalho.
Cargo Diretor da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais
Nascimento 16/09/1960 (64 anos)
Nacionalidade Portuguesa (Anadia)