Reeleito para um terceiro mandato, numa eleição polémica, político é visto como um presidente autoritário. De motorista de autocarros a dirigente sindical, não tem limites para se agarrar ao poder.
Num ato eleitoral que está a ser contestado pelo povo, pela Oposição e pela maioria da comunidade internacional, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Nicolás Maduro foi anunciado como vencedor das eleições presidenciais na República Bolivariana da Venezuela. Com 80% das urnas apuradas (até ao fecho desta edição), Maduro recebeu 51,2% dos votos e declarou-se vencedor. Em segundo lugar ficou Edmundo González Urrutia, com 44,2%. A posse está marcada para 10 de janeiro de 2025, se nada mudar, pois cresce a tensão em todo o território, sendo iminente um golpe de Estado. A Oposição também não desarma, esgrimindo fortes indícios de fraude eleitoral. Nas ruas há manifestações, panelas, mortes e repressão.
Para os portugueses na Venezuela e venezuelanos em Portugal, a reeleição do líder chavista hipotecou a esperança num futuro democrático. “Derrotar o fascismo, os demónios, as demónias, é um feito histórico e o nosso povo conseguiu, o nosso povo conseguiu de novo”, sublinhou Maduro. Nas mãos, tinha já a credencial que lhe permitirá continuar governar o país até 2031.
A imprensa internacional destaca que “os venezuelanos foram vítimas de uma fraude grotesca nas eleições presidenciais”, notando que foram violados os princípios mais básicos da democracia, como o livre exercício do voto e o respeito pelos resultados. Nicolás Maduro não vacila perante o escrutínio que o compromete. Igual a si próprio.
Curiosamente, ele chegou ao poder sem intervenção popular, em 2012. Enquanto vice-presidente, assumiu interinamente a presidência em 2012, após a vitória de Hugo Chávez, que, por estar gravemente doente, não podia governar. Acabaria por falecer a 5 de março de 2013. A 14 de abril de 2013 foram convocadas novas eleições que ditaram Nicolás Maduro como 57.º presidente da Venezuela, por uma pequena margem de votos, derrotando o opositor Henrique Capriles. Durante a presidência de Maduro, iniciou-se na Venezuela a maior recessão económica da história do país.
Reconhecido como herdeiro do chavismo, ao longo dos últimos 11 anos, liderou um Governo marcado por crises económicas, perseguição a opositores e muita controvérsia e polémicas. Tal como um presidente autoritário.
A sede de poder fez-se notar cedo, mal terminou o ensino médio e começou a trabalhar como motorista de autocarro. Não tardou a fundar um novo sindicato para representar os trabalhadores do Metro de Caracas, no final dos anos 1970. A partir daí, foi uma questão de tempo até se fazer militante do Movimento Bolivariano Revolucionário 200 (MBR-200), liderado por Hugo Chávez. Em 1992, após uma tentativa de golpe de Estado gorada e consequente prisão de Chávez, Maduro promoveu-se pela iniciativa em prol da libertação do líder revolucionário e nunca mais parou. Nos anos seguintes, foi eleito deputado, nomeado chanceler e acabou na Presidência. Sem nunca agradar ao próprio povo.
A repressão foi sempre a estratégia para silenciar quem se manifeste contra o seu Governo, com especial incidência em 2014 e 2019. Segundo o Observatório Venezuelano de Conflito Social, em 2019, 67 pessoas morreram.
Maduro fez questão de se colar à imagem de Hugo Chávez, um líder carismático, próximo das pessoas comuns, apreciado pela curiosidade intelectual e por citar Friedrich Nietzsche e Mario Benedetti no mesmo discurso, sabendo do que falava. No entanto, Nicolás nunca alcançou o desejado carisma, muito pela postura oposta, inclusive ao nível da capacidade de oratória, vista como limitada.
A ferro e fogo, Nicolás Maduro prepara-se para mais seis anos de mandato, mesmo sem consenso dentro e fora de portas. De alta estatura e bigode farto, prima pelo discurso populista, assente nos estereótipos de “presidente trabalhador” e “homem do povo”. Num estilo que os especialistas descrevem como manipulador, gosta de recordar um passado humilde e as noites em frente à televisão com a mulher, Cilia Flores. Apelidada de “primeira combatente”, atualmente, além de primeira-dama, é deputada na Assembleia Nacional da Venezuela e exerce muita influência sobre o marido. Do casamento, nasceu Nicolás Maduro Guerra. Com 34 anos, ele também está na política e sempre acreditou na vitória do pai, mesmo pondo o poder à disposição em caso de derrota.
Cargo: Presidente da Venezuela
Nascimento: 23/11/1962 (61 anos)
Nacionalidade: Venezuelana (Caracas)