O Consultório de Sustentabilidade por Joana Guerra Tadeu, ativista pela justiça climática e autora de "Ambientalista Imperfeita".
Parece-me que o Planeta não tem recursos nem capacidade para albergar tantos humanos. Será preciso controlar o crescimento da população?
João Vieira
Um dos números mais importantes da equação da sustentabilidade é a população humana, mas a solução não está num ajuste na quantidade de pessoas; está na forma como utilizamos e distribuímos os recursos do Planeta.
A teoria da sobrepopulação, desenvolvida pelo economista britânico Thomas Malthus, no final do século XVIII, defendia que a população crescia em progressão geométrica (1, 2, 4, 8…), enquanto a produção de recursos crescia em progressão aritmética (1, 2, 3, 4…) o que, a longo prazo, acarretaria uma drástica escassez de alimentos e, como consequência, a fome. Malthus apontava as guerras, as epidemias e os desastres naturais como fatores controladores deste crescimento, defendendo que, sem controlo de natalidade, a Natureza acabaria por corrigir esse desequilíbrio de forma calamitosa.
Mas Malthus não imaginava o progresso que viria a acontecer: a invenção e disseminação de novas sementes e práticas agrícolas que permitiram um aumento exponencial da produção agrícola a partir da década de 1960 nos EUA, as políticas de bem-estar social implementadas nos países europeus que ajudaram milhões de pessoas a sair de situações de pobreza extrema e, assim, a decidir ter menos filhos por já não ser necessário o trabalho infantil para a subsistência da família, e a emancipação da mulher que ingressa no mercado de trabalho e toma as rédeas no controlo da fertilidade.
Somos mais de oito mil milhões de pessoas no Mundo e a ONU prevê que cheguemos aos 11 mil milhões até 2100. Mas, o crescimento da população mundial está a desacelerar e a transição para um novo equilíbrio populacional é evidente: em vez de os pais terem seis filhos, dos quais quatro morriam antes de se tornarem pais eles próprios – o trágico equilíbrio em que vivemos até 1800 –, os pais típicos têm agora dois filhos e nenhum deles morre.
O crescimento desequilibrado da população a que assistimos a partir dos anos 1960 é resultado de um período de transição único na história humana em que dois progenitores produziam mais de dois filhos e todos sobreviviam até se tornarem pais na geração seguinte. Estas crianças, que já existem, são os três mil milhões de adultos que preencherão o diagrama da população mundial nos próximos 80 anos. Hoje, o número de nascimentos já não está a crescer, a pobreza extrema continua a cair e o acesso a educação sexual e a contraceção continua a aumentar. Por isso, a ONU prevê que o crescimento da população desacelere assim que este efeito de preenchimento, que leva três gerações, termine.
A teoria malthusiana subestimou o poder da inovação e o impacto da melhoria das condições de vida na redução da natalidade. Em vez de tomar medidas de controlo da população, que serão coercivas, e, não raras vezes, racistas e classistas, é fundamental implementar políticas que promovam um uso mais equitativo e sustentável dos recursos disponíveis.