O meu objeto: a máquina fotográfica de António Homem Cardoso

António Homem Cardoso acaba de lançar o livro “Alter Ego”, obra em que revela o lado oculto das grandes estrelas. De Ruy de Carvalho a Simone de Oliveira ou Herman José (Foto Rita Chantre)

O objeto escolhido pelo fotógrafo.

“Era verão, o calendário marcava 1959, eu ia em 14 anos. Regressava a casa, em Algés, vindo da praia, quando, ao dobrar da esquina, me deparei com potentes projetores de luz. Cheio de fé na minha curiosidade, aproximei-me e fui espreitar no óculo de uma máquina montada numa tripeça de madeira. Ainda não tinha visto o que por ali se veria quando um berro seguido de um empurrão me orientaram no sentido do olho da rua. Cá fora, já nos meus domínios, fixei um deles com uma cara escalavrada de mau e um sorriso de homem bom. ‘Marcelin, Marcelin’, chamou ele, enquanto vinha ao meu encontro.

Quem me chamava era o ator e cantor Eddie Constantine, que ali estava a rodar um filme que em Portugal se intitulou ‘Eddie em Lisboa’ e o Marcelin por quem ele chamava era eu, transvertido aos seus olhos no personagem do filme ‘Marcelino pão e vinho’.

Deixei-me ficar perdido de amores pela vida que me tinha levado para lá, um dia, outro, mais outro, semanas, mascote e figurante, às vezes fotógrafo de cena, mas sempre Marcelin, Marcelin até que o ‘The End’ surgiu em forma de despedida. E agora, António? E este agora, de há tantos anos, ainda me parece parado no tempo. O ator abriu a bagagem de mão, de onde tirou a minha amada e mágica Voigtlander com que tinha feito algumas imagens e, com o sorriso do primeiro dia, disse de mão estendida: ‘C’est pour toi!’. E aquela máquina foi muito mais do que uma prenda. Foi o início de outro filme que ainda está em rodagem.”

Fotógrafo
79 anos