O "Consultório de sustentabilidade" desta semana, por Joana Guerra Tadeu.
Qual é a dieta mais amiga do ambiente?
Ana Almeida
A comida é a mais forte alavanca para otimizar a saúde humana e a sustentabilidade ambiental na Terra, e será impossível manter as temperaturas globais em níveis seguros, a menos que haja uma profunda transformação na maneira como o Mundo produz alimentos e gere os solos.
Medir o impacto de uma dieta é complexo, porque muda para cada produto, é cumulativo ao longo de uma cadeia de valor que inclui várias fases – produção, transformação, armazenamento, embalagem, distribuição, consumo e descarte -, sendo, por isso, diferente de país para país, consoante a economia, as condições de vida da população e a cultura alimentar e, ainda, envolvendo trabalhadores.
Tudo isto é ainda agravado por questões éticas e morais, uma vez que desperdiçamos um terço dos alimentos produzidos no Mundo, quatro vezes a quantidade necessária para alimentar os 821 milhões de pessoas que enfrentam privação crónica de alimentos, e o suficiente para contribuir, através da decomposição, para 8% das emissões de gases com efeito de estufa globais; isto com o hemisfério Norte a consumir muito mais do que necessita (alguns países têm dietas com ingestões calóricas muito acima das recomendáveis, e todos desperdiçam por excesso de encomendas para venda e excesso de consumo) e o hemisfério Sul a consumir menos do que necessita; para não falar do bem-estar dos animais.
Mas não faltam propostas de dietas sustentáveis discrepantes apresentadas como perfeitas, ideais e indiscutíveis. Ora, a maior parte da mitigação deste problema é responsabilidade dos produtores e distribuidores de bens agrícolas e alimentares, mas há dois pontos em que cientistas e instituições concordam que as escolhas dos consumidores dos países mais desenvolvidos, como Portugal, podem fazer uma enorme diferença: temos de consumir menos carne e desperdiçar menos alimentos.
É que a enorme e crescente procura de carne levou a uma enorme e crescente produção de gado, o que impacta o clima e a biodiversidade por duas razões: devido à produção de metano e óxido nitroso resultante do estrume e da produção entérica de gases característica dos animais ruminantes (gases libertados pelas fezes, os arrotos e os traques da exagerada população de gado existente na Terra) e devido aos impactos da produção da alimentação para estes animais (utilização e degradação do solo, utilização de fertilizantes e químicos, e emissões de carbono associadas às operações agrícolas, ao processamento dos produtos e ao transporte).
Para contribuirmos, individualmente, para um sistema alimentar mais amigo do ambiente, devemos comprometer-nos com uma dieta nutritiva, equilibrada e com um consumo calórico apropriado à nossa saúde e estilo de vida, preferindo produtos frescos e sazonais (reduzindo o impacto do transporte e da energia utilizada em estufas e sistemas de congelamento e refrigeração), recusando embalagens sempre que possível, reutilizando e reciclando as que não pudermos evitar. Bom apetite!
*A NM tem um espaço para questões dos leitores nas áreas de Direito, jardinagem, Saúde, finanças pessoais, sustentabilidade e sexualidade. As perguntas para o Consultório devem ser enviadas para o email [email protected]