Eleições de outubro acenderam o rastilho de uma revolta que há muito fervilhava em silêncio - e que se tem revelado impossível de travar.
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de outubro foi o dia em que se realizaram as eleições em Moçambique. Marcado por alegações de fraude eleitoral – o resultado oficialmente anunciado manteve a FRELIMO no poder, supostamente com 70% dos votos, apesar de nas ruas ser percetível o forte apoio popular a Venâncio Mondlane, candidato da oposição -, o sufrágio serviu de rastilho à indignação.
O domínio da FRELIMO
A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) foi criada em 1962, com o objetivo de lutar pela independência de Moçambique face ao domínio colonial português. Está no poder desde 1975, ano da independência, mas de forma cada vez menos consensual. As últimas eleições foram a gota de água, com o partido a ser acusado de manipular os resultados.
Fúria crescente
A suspeita de manipulação levou à revolta popular e a uma vaga de protestos, protagonizada sobretudo por jovens, descontentes com a falta de alternância no poder, a censura, a pobreza e as desigualdades. A indignação subiu de tom após 18 de outubro, quando dois apoiantes de Mondlane foram mortos a tiro, no centro de Maputo, o que foi visto como um homicídio político.
Repressão feroz
Os protestos terão começado de forma pacífica, mas a repressão foi brutal, com inúmeros relatos que dão conta do uso, por parte das forças de segurança, de gás lacrimogéneo, balas de borracha e munições letais. Terão mesmo sido usado helicópteros para lançar gás lacrimogéneo sobre bairros residenciais, atingindo pessoas que não participavam nas manifestações. O Governo iniciou ainda bloqueios à Internet e restringiu o envio de mensagens de texto e chamadas de voz.
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O número estimado de mortes registadas entre 21 de outubro e 21 de novembro, segundo estimativa da ONG moçambicana “Plataforma Eleitoral Decide”. A mesma ONG aponta para mais de 200 pessoas baleadas. A “Human Rights Watch” fala em dez crianças mortas. E as detenções são já mais de mil.