
Cantou na igreja, votou contra a descriminalização da homossexualidade, foi ministro, negociou o Brexit em nome da União Europeia. Michel Barnier é o novo inquilino do Matignon.
De um extremo ao outro. Em janeiro passado, Emmanuel Macron designou Gabriel Attal, 34 anos, o mais novo primeiro-ministro de sempre da V República francesa. Dia 5 deste mês, nomeou o mais velho, Michel Barnier, 73 anos. A escolha não se tornou polémica por questões etárias. Macron enfureceu parte da opinião pública por querer uma personalidade de direita, apesar de ter sido a coligação de esquerda a vencer a segunda volta das eleições legislativas de 7 de julho. Barnier é membro do Les Republicans (Os Republicanos), quarto partido mais votado (5,41%), que elegeu apenas 39 dos 501 deputados.
O presidente da República justificou a decisão com a convicção de que Michel Barnier “reúne condições para conseguir estabilidade política e para agregar tão amplamente quanto possível” uma França saída de uma consulta popular que não clarificou politicamente o país, pelo contrário. “Os franceses precisam e expressaram a sua necessidade de respeito, unidade e apaziguamento”, sublinhou, por sua vez, Barnier, na cerimónia que marcou a transmissão da pasta das mãos de Gabriel Attal realizada no Palácio Matignon, residência oficial do líder do Executivo, naquelas que foram as primeiras declarações no cargo de “um conservador patriota comprometido”, como o definiu a BBC.
Natural de uma pequena aldeia com pouco mais do que 5 mil habitantes encravada nas montanhas dos Alpes, Michel Barnier “exibe com orgulho as suas raízes”, lembrou o jornal “L’actualité”. Ainda hoje conserva a tradição de praticar esqui e de fazer longas caminhadas. Filho mais novo dos três de um industrial têxtil admirador de Charles de Gaulle e de uma cristã de esquerda que se destacou ao criar campanhas locais contra a sinistralidade rodoviária, dividiu a infância entre a escola, a igreja (onde foi acólito e cantou no coro) e os escuteiros. Fez os estudos secundários em Lyon e aos 18 anos partiu para Paris para se licenciar na prestigiada Escola Superior de Comércio, onde conheceu figuras que, como ele, viriam a figurar no topo da política.
Gaulista como o pai, cedo aderiu à União dos Democratas pela República, partido que representava os valores do antigo chefe de Estado, e pelo qual se tornou o mais jovem deputado da história francesa, aos 27 anos. Antes, aos 22, fora conselheiro departamental da região da Saboia, que viria a presidir e cujo mandato ficou marcado pelo lançamento vitorioso da candidatura de Albertville à organização dos Jogos Olímpicos de Inverno de 1992, depois de ter passado pelo gabinete de vários ministros e secretários de Estado.
No parlamento nacional, destacou-se ao votar contra duas propostas de lei que previam a descriminalização da homossexualidade, em 1980 e 1981. Quatro décadas depois, o assunto não foi esquecido e voltou à tona, agora que foi indicado primeiro-ministro.
Subiu a pulso na corrente política francesa e chegou a ministro do Ambiente em 1993, lançando um imposto ecológico que ainda hoje carrega o seu nome. Um par de anos depois, foi-lhe atribuída a pasta dos Assuntos Europeus, durante a qual começou a granjear estatuto em Bruxelas, ao ponto de ter sido nomeado comissário europeu para a Política Regional e Coesão, em 1999.
Em 2004, regressou a França por um breve período, ao ser escolhido para ministro dos Negócios Estrangeiros pelo primeiro-ministro e seu ex-colega de faculdade Jean-Pierre Raffarin e, posteriormente, da Agricultura, desta vez sob as ordens de François Fillon.
O retorno à política europeia deu-se em 2010. Foi novamente comissário, também conselheiro especial. E o principal rosto das negociações com o Reino Unido para o Brexit.
Casado desde 1982 com a advogada e diretora de comunicação Isabelle Altmayer, Barnier tem três filhos: Nicolas (37 anos) e os gémeos Benjamin e Laetitia (34).
Em 2022, tentou ser candidato presidencial pelo Les Republicans, propondo suspender a imigração na Europa por um período de três a cinco anos. Não passou do terceiro lugar nas primárias do partido. Ironia do destino, é agora primeiro-ministro graças a Emmanuel Macron, o presidente que quis destronar.
Cargo Primeiro-ministro de França
Nascimento 09/01/1951 (73 anos)
Nacionalidade Francesa