Cresceu em Angola e envolveu-se com o sindicalismo quando trabalhava para o BES. Persistente, ascendeu à liderança da UGT. Encara como parceiros quem outros gostam de olhar como adversários.
Aumentos de 4,7% para os setores público e privado, garantia de que os trabalhadores recebem uma parte equitativa dos ganhos de produtividade, subida do salário mínimo de 820 para 870 euros, atualização dos escalões do IRS, mais dias de férias, maior oferta do parque público de habitação. Em linhas gerais, estas são as principais propostas do caderno reivindicativo da União Geral dos Trabalhadores (UGT) para 2025. “É consensual que temos um país de salários baixos, temos de inverter isso”, foi claro Mário Mourão, secretário-geral da central sindical desde 2022, antes da apresentação do documento.
“É um sindicalista muito determinado, leva as lutas até ao fim”, define João Proença, responsável máximo da UGT entre 1995 e 2013. Durante esse período, conviveu de perto com o agora líder e encontrou nele características raras que o pareciam preparar para outros voos. “Sempre o conheci como homem de muitas batalhas, que não desistia facilmente, mesmo depois de ter concorrido e perdido várias vezes em eleições para corpos gerentes de sindicatos. Foi crescendo dentro da UGT e tornando possível a ideia de que um dia poderia vir a ser secretário-geral”, descreve Proença.
A vida de Mário Mourão praticamente se confunde com o sindicalismo. Nasceu no Porto, mas pouco tempo lá viveu. Deu os primeiros passos na vida e nos estudos em Angola, para onde a família se mudara e de onde regressou após o 25 de Abril de 1974. Em liberdade e longe das convulsões nacionalistas africanas, fixou-se novamente no norte do país e não demorou a encetar carreira no setor bancário, que o viria a marcar para sempre.
Em 1976, com apenas 18 anos, ingressou nos quadros do Banco Espírito Santo e cedo progrediu na carreira. Começou a interessar-se pelos problemas da classe, ao ponto de se envolver a fundo nas questões sindicais a partir de 1988. Entrou para o Sindicato dos Bancários do Norte, atualmente Sindicato dos Trabalhadores do Setor Financeiro de Portugal, e nunca mais parou. Em 2005, tornou-se presidente daquela estrutura e em 2013 foi apontado como um dos vices da UGT. “A primeira vez que participei na concertação social, uma das coisas que disse para todos os que estavam à minha frente foi que não via ali inimigos, nem adversários, via parceiros e esperava que nas empresas deles também se construísse esse clima com os sindicatos”, assinalou Mário Mourão, em entrevista conjunta à TSF e ao “Diário de Notícias”, em maio deste ano.
Pelo meio, fez parte do Conselho Permanente de Concertação Social e do Conselho Económico e Social. “Sempre encontrei nele uma forte preocupação de objetividade com os trabalhadores, seja em que circunstância for”, refere João Dias da Silva, atual vice-presidente da UGT. “É uma pessoa disponível, nunca tem objeção em tentar a aproximação a quem pensa diferente”, acrescenta.
Militante do PS, foi eleito deputado em 2009, durante o segundo Governo de José Sócrates. Fez ouvir a sua voz quando divergiu com o partido aquando da votação para o Orçamento do Estado de 2011 e nunca mais regressou ao Parlamento. Nas eleições internas realizadas no final do ano passado foi apoiante convicto de Pedro Nuno Santos.
Reconhece que há dificuldades de comunicação a ultrapassar em tempos em que as relações laborais se vão alterando significativamente. “O tipo de linguagem que se utilizava nos anos 1970, 1980, não pode ser o mesmo tipo de linguagem nem de comunicação para as novas gerações”, enfatizou na mesma entrevista. “Tem de se criar nos sindicatos outros benefícios a quem é sindicalizado para que se possam sentir atraídos e até se revejam naquilo que é o seu sindicato. Não é só na luta da rua”, traçou.
Residente em São Romão do Coronado, freguesia do concelho da Trofa, Mário Mourão viu a autarquia conceder-lhe a Medalha de Ouro – Grau Honra pouco depois de ser eleito secretário-geral da UGT. Distinção que ganhou sabor diferente por ter sido atribuída por um Executivo liderado pelo PSD em dia de feriado municipal. Uma forma de agraciar alguém que “personifica o orgulho trofense”, como exaltou Sérgio Humberto, o então edil local.
Cargo Secretário-geral da UGT
Nascimento 14/04/1958 (66 anos)
Nacionalidade Portuguesa (Porto)