Maria Luís Albuquerque, ter a polémica como companhia

Foi o rosto da aplicação do programa da troika e protagonista de casos que encheram páginas de jornais. Ex-vice-presidente do PSD, foi com o PS que teve a primeira experiência direta num Governo.

Esteve pertíssimo de ser indicada comissária europeia em 2015, mas acabou preterida por Carlos Moedas, atual presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Pedro Passos Coelho, então primeiro-ministro, entendeu que seria mais útil para o país tê-la por perto no Governo e no PSD do que em Bruxelas. O destino cumpriu-se agora, nove anos depois, por sugestão de Luís Montenegro.

Apesar de ter nascido em Braga de pais com raízes ribatejanas e beirãs, a juventude de Maria Luís Albuquerque foi nómada. Acompanhava o pai, militar da GNR, pelo país e em 1982, com apenas nove anos, mudou-se com a família para Moçambique, onde permaneceu até aos 15, enquanto o progenitor trabalhava na imponente barragem de Cahora Bassa.

Ficou-lhe a repulsa pelo regime de partido único que então vigorava no jovem país independente. “Sempre me recusei a acatar as regras, a cantar o hino, a adoração ao líder [Samora Machel]. Não aceitava que limitassem as liberdades individuais”, disse em entrevista ao site Rostos.pt.

Regressada a Portugal, foi viver para Armamar, nas margens do rio Douro. Mudou-se depois sozinha para Lisboa, concluindo a licenciatura em Economia na Universidade Lusíada, a mesma instituição onde seria mais tarde professora de Pedro Passos Coelho.

Apesar de se sentir próxima do PSD, o primeiro contacto direto com um Governo deu-se pela mão do socialista António Guterres, quando foi assessora do então secretário de Estado do Tesouro e das Finanças, Rodolfo Vasco Lavrador.

Saiu para a iniciativa privada, nomeadamente para a Rede Ferroviária Nacional – REFER, que acumulou com a docência. Em 2011, Pedro Passos Coelho chamou-a para secretária de Estado do Tesouro. E em 2013 foi por ele elevada a ministra de Estado e das Finanças, provocando um autêntico terramoto. Paulo Portas, que liderava os Negócios Estrangeiros e o CDS, ficou desagradado por não ter sido consultado e emitiu uma mensagem pública que ficou para os anais da história política de Portugal. “Com apresentação do meu pedido de demissão, que é irrevogável, obedeço à minha consciência e mais não posso fazer”, alegou Portas. Passos recusou a saída e reforçou a confiança em Maria Luís Albuquerque.

“Pedro Passos Coelho sempre a viu como uma das pessoas mais competentes dentro do PSD, daí a ter protegido e dado todo o respaldo político, mesmo nos momentos mais delicados em que esteve debaixo de fogo”, explica à NM um antigo dirigente do partido que trabalhou de perto com ambos. “O contrário também é evidente. A consideração política e pessoal da Maria Luís para com ele é elevadíssima”, acrescenta.

Não foram poucos os momentos em que o escândalo rondou a sua atuação pública. Como no caso dos swaps, delicados contratos financeiros de empresas do Estado destinados a precaver mudanças nas taxas de juro, ou quando foi responsável pela aplicação de algumas das medidas mais rigorosas do programa da troika.

Mãe de três filhos, dois deles gémeos, é casada com o ex-jornalista António Albuquerque, nomeado consultor da EDP – em cujo processo de privatização Maria Luís esteve diretamente envolvida –, protagonista de trocas acaloradas de mensagens ameaçadoras a jornalistas que abordavam noticiário relacionado com o Ministério das Finanças. “Tira a minha mulher da equação senão vou-te aos cornos”, escreveu a um profissional do “Diário Económico”, acabando condenado por coação.

Após abandonar o Executivo, Maria Luís Albuquerque respondeu no Parlamento às comissões de inquérito sobre a Caixa Geral de Depósitos e a venda do Novo Banco (entidade que resultou dos escombros do falido BES). Viu o Ministério Público iniciar diligências sobre o desaparecimento de ficheiros sobre transferências para paraísos fiscais de 10 mil milhões de euros entre 2011 e 2014 sem passarem pelo Fisco. “Foi uma má decisão política, assumo a responsabilidade”, confessou.

Com a subida à liderança de Rui Rio no PSD, Maria Luís Albuquerque, que chegara a ser vice-presidente social-democrata, afastou-se da primeira linha. Tornou-se consultora da financeira Morgan Stanley e saiu dos holofotes. Até agora.

Cargo Economista e ex-ministra das Finanças
Nascimento 16/09/1967 (56 anos)
Nacionalidade Portuguesa (Braga)