Lições sobre o amor
Uma das maiores lições que recebi do meu filho Lourenço aconteceu quando não tinha ainda três anos e fez um trabalho de colagens na escola cujo tema era o amor. Na capa de cartolina de cada criança, a educadora escreveu a resposta à pergunta o que é o amor. O Lourenço disse: o amor é casar, e quando não resulta, é carregar os sacos de compras da mãe que é fraquinha.
Vivemos num terceiro andar alugado sem elevador durante os seus primeiros anos da sua vida. Quando consegui comprar o meu primeiro apartamento, escolhi um prédio que tinha dois elevadores. Lembro-me de chegar ao patamar da minha nova morada no dia da mudança e de chorar de alegria. Uma parte do meu quotidiano iria melhorar significativamente. Terminara a Via Crúcis de subir escadas com uma criança pequena, uma cadeirinha, as tralhas, os sacos das compras e o diabo a quatro. Era fundamental aliviar a carga que carregava diariamente, ou pelo menos parte dela, já que a emocional é invisível, existindo e pesando apenas dentro do coração ou da consciência de cada um.
Há várias décadas que cogito sobre a fórmula do amor. Faço-o nos meus romances, nas minhas crónicas, através das minhas leituras e de intermináveis conversas com homens e mulheres sobre o tema. Na teoria está tudo bastante claro, mas é na prática que se alcançam resultados, e o erro é o melhor professor. Aprendi que o amor imediato, impensado e descontrolado se chama paixão. Uma paixão pode sobreviver ao longo de anos ou até décadas, pode respirar dedicação e empenho, pode até parecer consistente e séria, mas é apenas uma imitação do amor. Vivemos rodeados de imagens que nos apelam para cenários perfeitos, casais apaixonados, comédias românticas em que o amor vence sempre a vida, ou amores perdidos que nos roubaram o coração em canções eternas e inesquecíveis. Numa era de tirania da imagem da perfeição, a parte do amor que dá trabalho é negligenciada. E o amor dá mesmo muito trabalho, porque é uma espécie de full-time job sem folgas aos fins de semana sem remuneração, isento de segurança social, de férias pagas e de subsídio de Natal. Precisamente por ser impossível atribuir-lhe um preço, o seu valor é incalculável. Mais importante do que o amor é o verbo amar: estar disponível para o outro, tanto nos dias em que nos sentimos com a maior sorte do mundo por ter encontrado aquela pessoa, como nos dias em que estamos fartos dela. O amor não é feito de palavras, nem de grandes gestos românticos, mas de provas quotidianas, visíveis e indivisíveis, de amor.
Não existe amor sem o labor árduo e consistente que leva à construção amorosa. Não basta sonhar e planear, é preciso trabalhar em conjunto para que os planos e os sonhos se realizem. É preciso carregar os sacos, os traumas, os medos. O amor deve servir, entre outras coisas, para tornar a vida mais fácil e mais leve. Qualquer peso se torna mais fácil de levar se for a quatro mãos.