Entrou cedo para a política, foi polémica ministra da Saúde, atiraram o seu nome para presidente da República. Lidera a Fundação Champalimaud e é agora vice-presidente do PSD.
No primeiro congresso do então PPD, realizado em novembro de 1974, Leonor Beleza, com apenas 25 anos, foi a única mulher eleita para os órgãos nacionais do partido. Cinco décadas volvidas, e, depois de um longo período de autoafastamento, viu outro congresso do agora PSD, o 42.º, consagrá-la como vice-presidente da Comissão Política Nacional.
“Aceitei por respeito ao presidente do partido [Luís Montenegro] e ao trabalho que está a fazer no Governo”, justificou a militante número 5458 dos sociais-democratas, cuja última participação em atividades políticas datava de 2005, quando deixou o cargo de deputada à Assembleia da República, órgão do qual também foi vice-presidente em duas ocasiões. De então para cá, assumiu a liderança da Fundação Champalimaud, por pedido expresso deixado em testamento pelo multimilionário António Champalimaud.
O primeiro sinal de possível reaproximação à vida política ativa aconteceu em janeiro deste ano. Preparavam-se as eleições legislativas de 10 de março, quando a AD – coligação que junta PSD, CDS e PPM – realizou a sua convenção. Inesperadamente, marcou presença e deixou marca. “Resolvi vir, ninguém me convidou. Este não é um tempo de cerimónias”, justificou.
O seu nome voltou à baila em agosto. Ao semanário “Expresso”, Hugo Soares colocou-a como potencial presidenciável para 2025. “Seria uma excelente candidata”, argumentou o líder parlamentar do PSD. A própria prontificou-se a negar tal aventura: “Não sinto nenhum impulso nesse sentido”.
Não foi a primeira vez que aventaram o seu nome como potencial ocupante do Palácio de Belém. O próprio Marcelo Rebelo de Sousa, amigo de mais de meio século e companheiro de curso na Faculdade de Direito, sugeriu o mesmo. “Poderia ter sido uma das primeiras mulheres presidentes da República, num Portugal tão arredio de caminhos fulminantemente ascensionais de mulheres no espaço público”, elogiou o chefe de Estado em setembro de 2021, durante a cerimónia em que Leonor Beleza recebeu o título de doutora Honoris Causa pela Universidade de Lisboa, instituição onde foi a primeira mulher convidada a dar aulas sem ter concluído o doutoramento, na década de 1970. “Não me senti confortável, sobretudo com os alunos mais novos. Não estavam habituados a ver uma rapariga jovem”, confessou em entrevista ao “Diário de Notícias”.
Adepta do F. C. Porto, era ministra da Saúde quando hasteou a bandeira do clube na inauguração da casa dos dragões em Lisboa, em 1989. Foi apenas a segunda mulher ministra do pós-25 de Abril, após Maria de Lurdes Pintassilgo ter liderado um curto Governo, em 1979. Ocupou a pasta durante cinco anos, em dois Executivos de Cavaco Silva, já depois de ter sido secretária de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, com Francisco Pinto Balsemão, entre 1982 e 1983, e secretária de Estado da Segurança Social, no Bloco Central liderado por Mário Soares, de 1983 a 1985.
Saiu com estrondo em 1990, depois da descoberta da utilização em transfusões de sangue infetado com o vírus da sida, polémica maior que se seguiu a outras, como a do saco azul do seu ministério, a qual levou à detenção de Costa Freire, secretário de Estado da Saúde, e de Zezé Beleza, um dos dois irmãos – o outro, Miguel, falecido em 2017, foi também ministro de Cavaco, nas Finanças; tem ainda uma irmã, Teresa, pioneira, igualmente, da luta pelos direitos da mulher.
“É um vulcão contido, que só não foi mais longe em todas as vertentes da sua vida porque chegou quase sempre antes do tempo”, continuou Marcelo Rebelo de Sousa no elogio público à amiga. “Invulgar na personalidade, concebida e formada para mandar, ouvindo o essencial e precavendo-se contra as armadilhas”, prosseguiu.
Apesar de filha de um subsecretário de Estado do Orçamento de Salazar, durante a ditadura integrou o movimento SEDES, que juntava personalidades que lutavam pela democracia, como Francisco Sá Carneiro ou António Guterres. Foi o primeiro passo para uma caminhada pública que apenas deixou a espaços. E à qual agora regressa de forma ativa.
Cargo Vice-presidente do PSD
Nascimento 23/11/1948 (75 anos)
Nacionalidade Portuguesa (Porto)