Diz ter crescido num bairro violento, mas tem um apartamento de luxo oferecido pelo pai. Aponta o dedo aos imigrantes e é filho de pais com origens na Argélia e em Itália.
Tem apenas 28 anos e poderá entrar nos livros de França a dobrar. Jordan Bardella está um passo de se tornar o primeiro-ministro gaulês mais jovem de sempre e de levar pela primeira vez a extrema-direita à liderança do Governo desde a II Guerra Mundial. A segunda volta das eleições parlamentares, que se disputa neste domingo, dará o seu veredito.
“Estou preparado”, disse Bardella, quando os resultados do primeiro turno das legislativas confirmaram o Rassemblement National (Reunião Nacional, em tradução livre para português) como o partido mais votado (33,1%), superando a aliança de Esquerda Nouveau Front Populair (Nova Frente Popular), que não passou dos 28%, e o Ensemble (Juntos), inspirado pelo presidente da República, Emmanuel Macron (20%). Um resultado que não foi surpreendente, tendo em conta o sentido de todas as sondagens e do expressivo triunfo do RN nas europeias de junho, que levou Macron a antecipar as eleições.
Bardella mostrou desde cedo simpatia pelas ideias da direita radical e não demorou até integrar a então Front National (Frente Nacional, denominação da RN até 2018) como militante dos mais ativos. Com curtos 20 anos, tornou-se assessor parlamentar e conselheiro regional de Paris. Subiu a vice-presidente, deu o salto para a liderança da estrutura juvenil do partido e foi eleito eurodeputado como cabeça de lista com 23 anos, em 2019, vencendo o pleito por somente 200 mil votos de diferença em relação ao Ensemble. Nessa altura, já tinha deixado para trás o curso de Geografia na Universidade de Sorbonne, que nunca chegou a completar, depois de se ter destacado no Ensino Secundário como um dos melhores alunos em Economia e Ciências Sociais num reputado colégio privado. Em 2022, sucedeu a Le Pen, de quem recebe elogios amiúde e a quem nunca escondeu apoio e admiração. “Ele foi uma criação de Marine Le Pen e é-lhe extremamente leal”, definiu Cécile Alduy, professora na Universidade de Stanford, à agência Associated Press.
Nascido em Drancy, subúrbio pobre de Paris, no seio do que apelida de “família modesta”, Jordan Bardella lembrou várias vezes o passado difícil num bairro onde predominavam a criminalidade e a toxicodependência. “Fui confrontado com a violência”, garantiu, sem concretizar se alguma vez a sofreu na pele ou se dela se limitou a ser testemunha. Pierre Stéphane Fort, autor de uma biografia sobre Bardella, desmente a narrativa e assegura que as suas origens são outras. “Frequentou escolas particulares católicas. Quando tinha 19 anos, o pai comprou-lhe um carro Smart e quando tinha 20 deu-lhe um apartamento em Val d’Oise, zona rica nas proximidades de Paris”, revelou Fort à televisão Euronews.
Apesar da retórica anti-imigração a que frequentemente recorre – “a França será submersa em migrantes que mudarão os nossos costumes, cultura e modo de vida irreversivelmente”, disse em campanha -, é filho de pai de origem argelina e de mãe com raízes italianas, que se separaram pouco depois de nascer. Sem irmãos, passou a infância entre a rica casa paterna e o apartamento modesto da mãe. Jogava jogos de consola, especialmente Call of Duty, chegando mesmo a criar uma página no YouTube especialmente dedicada a mostrar ao Mundo as suas proezas online.
Foi então que começou a perceber as potencialidades do universo virtual, que continuou a utilizar com frequência a partir do momento em que entrou na política. Catapultou o discurso fácil e populista nas redes sociais, sobretudo no TikTok – com 1,2 milhões de seguidores, a sua conta é das mais vistas em França – e foi angariando proximidade com várias gerações de eleitorado, em particular o mais jovem. Raramente viu o nome envolvido em polémicas, exceto quando, recentemente, foi denunciado que havia partilhado mensagens racistas no X (ex-Twitter), o que negou, alegando que as publicações em questão não eram suas.
Bardella, que jamais dispensa a indumentária formal e se apresenta em público de fato e gravata de tons sóbrios, tem agora o cargo de primeiro-ministro (quase) nas mãos. A palavra será dada pelos franceses nas urnas.
Cargo: líder do partido francês Rassemblement National (extrema-direita)
Nascimento: 13/09/1995 (28 anos)
Nacionalidade: Francesa