João Almeida, o “Duro das Caldas” que quer a imortalidade

João Almeida é ciclista profissional

Quis ser futebolista, mas cedo percebeu que eram as bicicletas a grande paixão. Adora Fórmula 1 e jogos de computador. Vive em Andorra com a namorada, mas sempre que pode visita a aldeia natal.

À primeira participação na Volta a França, João Almeida terminou em quarto lugar. Só um português fizera melhor, o mítico Joaquim Agostinho, único a conseguir o pódio. A melhor prestação lusa no Tour desde 1979 mereceu palavras exclusivas do presidente da República e do primeiro-ministro. “Um novo ponto alto do ciclismo nacional”, destacou Marcelo Rebelo de Sousa. “Grande resultado de um campeão de quem continuamos a esperar muito”, escreveu Luís Montenegro na rede social X. Ele, João Almeida, garante que não quer ficar por aqui. “No Tour, fui o primeiro mortal atrás dos deuses. Espero um dia vir a ser um dos imortais”, disse, citado pelo Sapo Desporto, à chegada ao Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, o homem da UAE Team Emirates que apenas foi ultrapassado na classificação geral pelos ultraconsagrados Tadej Pogacar, Jonas Vingegaard e Remco Evenepoel naquela que é considerada a maior prova velocipédica do Mundo: 3498 quilómetros divididos por 21 etapas durante três longas semanas.

Foi o ponto alto da carreira do menino nascido na pequena freguesia de A dos Francos, concelho das Caldas da Rainha, onde começou por se apaixonar pelo futebol e pela natação, mas em que cedo percebeu que era em cima de uma bicicleta que se sentia realmente feliz. Dário e Patrícia, os pais, não lhe contrariaram a vontade e cedo se habituaram a ter lá em casa um filho vencedor. Com apenas 15 anos foi campeão nacional de cadetes, depois conquistou o título de juniores. “Nessa altura já possuía um potencial enorme”, constata João Correia, o agente de longa data.

Aos 19, arrisca a sorte no pelotão internacional ao serviço da Unieuro Trevigiani-Hemus 1896, formação ítalo-búlgara que lhe dá visibilidade. Bastou uma época para saltar para a norte-americana Hagens Berman-Axeon, onde brilhou ao conquistar a Liège-Bastogne-Liège, em esperanças, e o prémio de melhor jovem da Volta a Itália na mesma categoria.

Em 2020, assina pela Quick-Step, uma das melhores equipas do pelotão internacional, e faz quarto lugar no Giro italiano, depois de ter andado 15 dias consecutivos de camisola rosa, símbolo da liderança, o mais novo de sempre a consegui-lo. No ano seguinte, conquista as voltas à Polónia e ao Luxemburgo, em 2022 faz um quinto lugar na Vuelta. Já é então carinhosamente chamado pelos fãs de “Bota Lume” ou o “Duro das Caldas”.

Nos tempos livres, gosta de assistir a corridas de Fórmula 1. “Adora jogar computador durante os estágios da equipa”, partilha Ivo Oliveira, companheiro de João Almeida na UAE Team Emirates. “Ninguém pode ter razões de queixa dele. Como profissional, é exemplar. Nos treinos, completa ao milímetro tudo o que lhe pedem, o que depois se traduz em resultados excelentes durante as competições. Trabalha sempre mais para os colegas do que para ele próprio”, caracteriza.

Tímido, João Almeida raramente dá entrevistas. Gosta de se refugiar na família sempre que regressa de uma prova importante. Foi o que aconteceu depois do Tour. Voltou a casa, a A dos Francos, para sentir o carinho dos pais e respirar o ar que fez a sua infância. “É lá que se sente realmente bem”, considera João Correia. “Continua a mesma pessoa humilde. A subida ao mais alto patamar do ciclismo não o mudou em nada”, acrescenta.

A viver em Andorra durante grande parte do ano com Rita, a namorada, escolheu os Pirenéus a pensar no trabalho, de forma a poder treinar em altitude. “O João tem uma característica rara. Passa despercebido, mas nos momentos decisivos está sempre no sítio certo”, elogia João Correia. “Combina garra com uma capacidade incrível de superação. É essa mistura que, certamente, o vai levar a ganhar grandes voltas”, profetiza o agente. Quem sabe se tal não acontecerá já na próxima edição da Vuelta, que percorrerá as estradas de Espanha de 17 de agosto a 8 de setembro, com as três etapas iniciais a disputarem-se em Portugal. Ou então no Giro 2025, prova em relação à qual João Almeida disse ter “assuntos pendentes para tratar”.

Cargo: ciclista profissional
Nascimento: 05/08/1998 (25 anos)
Nacionalidade: Portuguesa (A dos Francos – Caldas da Rainha)