Nova embaixadora de Portugal em Israel nasceu e exerceu funções no continente africano. Mas tem muito Mundo. A sua nomeação não está isenta de mistério.
Quase 30 anos depois, Helena Paiva está de regresso a uma região onde fez história como observadora especial em nome da União Europeia. Deixou este ano a embaixada na Grécia e foi agora nomeada para a de Israel. Não sem alguma polémica pelo meio, sobretudo devido à saída abrupta do antecessor.
O anúncio da substituição do anterior representante diplomático de Lisboa em Telavive foi surpreendente. Luís Barros encontrava-se em funções há apenas oito meses e tudo parecia indicar que reunia condições para se manter no cargo. O Governo não pensou assim e exonerou-o no passado dia 18. A confirmação surgiu seca em “Diário da República”, oficialmente não foi dada qualquer justificação. Ao jornal online “Eco”, fonte próxima de Paulo Rangel, ministro dos Negócios Estrangeiros, referiu que era necessário um “embaixador com outro perfil”, acrescentando que “o momento atual do relacionamento bilateral com Israel e a conjuntura geopolítica e mundial levaram a que fosse feita uma reavaliação das necessidades do posto”.
A mudança ocorreu na mesma semana dos inéditos ataques israelitas contra elementos do Hezbollah através da explosão de pagers e de outros equipamentos eletrónicos, pouco antes do início da pesada ofensiva em território do Líbano, o que levou especialistas internacionais a falarem de uma escalada militar de consequências imprevisíveis no Médio Oriente. E também numa altura em que levantou polémica um navio de bandeira portuguesa alegadamente carregado com material de guerra em trânsito para Israel, além de notícias sobre um avião proveniente dos EUA que terá sobrevoado território nacional também transportando armas israelitas.
À escolha de Helena Paiva não terá sido alheia a sua experiência na região onde esteve presente como observadora eleitoral designada pela União Europeia nas primeiras eleições democráticas realizadas na Palestina, em 1996. Então, acompanhou de perto todo o processo na cidade de Hebron, a maior da Cisjordânia. Em Portugal, destacou-se mais tarde como diretora-adjunta do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), entre 2008 e 2010. Recebeu um louvor do Governo, que destacou as “elevadas qualidades de caráter, competência, lealdade e dedicação” colocadas ao serviço “na salvaguarda da independência nacional, da proteção dos interesses nacionais e da segurança externa do Estado português”.
Diplomata de carreira, Helena Paiva nasceu em Moçambique, onde passou parte da sua infância. Formou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, mas é na diplomacia que tem feito escola. Especializou-se em técnicas negociais e formação diplomática, participou em seminários internacionais. África, porém, nunca lhe saiu do caminho. A primeira experiência teve-a enquanto adida na Direção de Serviços da África Subsariana, de 1992 a 1996, a que se seguiu o cargo de segunda-secretária na embaixada de Portugal em Maputo, de onde saiu para primeira-secretária na Missão de Portugal junto das Nações Unidas, em Nova Iorque (EUA).
Irá ter a sua quarta experiência como embaixadora, a primeira num território marcado pela tensão permanente. Estreou-se enquanto tal na quase omnipresente África, mais propriamente na Namíbia, onde trabalhou de 2014 a 2016, de onde foi transferida para Cabo Verde – outra vez o continente africano na vida de Helena Paiva –, aí se mantendo quatro anos, até 2020. Mudou-se depois para a Grécia, que deixou em junho passado. Na despedida, escreveu na página de Instagram da embaixada de Portugal na Grécia um longo depoimento, no qual expressou palavras emotivas sobre a experiência. “O meu sentimento predominante é de gratidão, por isso, um grande obrigado a todos aqueles que tornaram a nossa estadia neste magnífico país tão frutuosa e agradável”, sublinhou a diplomata.
“Foram anos plenos e gratificantes”, continuou, antes de elencar alguns dos feitos conseguidos durante o mandato, como “a promoção da língua portuguesa na Grécia, as atividades culturais diversificadas e a partilha cultural com os artistas gregos”. Também não esqueceu um agradecimento especial à sua equipa, que mencionou várias vezes com carinho.
Cargo Embaixadora de Portugal em Israel
Nascimento 29/10/1966 (57 anos)
Nacionalidade Portuguesa (Moçambique)