Filho de agricultores, François Bayrou é um orgulhoso homem do campo. Venceu a gaguez, especializou-se em Literatura Clássica, tem 21 netos. Falhado o sonho maior, Macron concedeu-lhe outro.
“Finalmente, os problemas começam.” Esta foi uma das primeiras frases ouvidas a François Bayrou, pouco depois de se ficar a saber que é o terceiro líder do Governo francês em menos de um ano, depois de Gabriel Attal e Michel Barnier. A citação não é original, pertence a François Mitterrand, o socialista que guiou a França entre 1981 e 1996 e que anteviu que Bayrou poderia ser seu sucessor. “Tenham atenção a este homem, um dia será Presidente da República”, avisou.
A premonição não se revelou acertada, embora não tivessem faltado oportunidades ao visado. Concorreu a três escrutínios presidenciais e perdeu todos. Em 2002, não passou de um modesto quarto lugar (6,8%), depois de, durante essa campanha eleitoral, ter sido surpreendido a dar uma bofetada a um jovem que, alegadamente, lhe tentou roubar a carteira durante uma arruada em Estrasburgo. Em 2007, foi terceiro (18,5%) e ficou perto de um lugar na segunda volta. Em 2012, não passou do quinto candidato mais votado (9,1%). Ainda assim, nunca desistiu da política e era autarca de Pau, cidade de 77 mil habitantes no sul de França, quando Emmanuel Macron o chamou para liderar o Governo.
Filho de agricultores – o pai morreu num dramático acidente de trator –, François Bayrou é casado há 53 anos com Élisabeth Perlant, com quem raramente aparece em público. “O que me lembro, em primeiro lugar, são das pernas dela, retas, lindos laços finos. Além do seu rosto. Então, disse a mim mesmo: esta menina é para mim”, descreveu, no livro biográfico “Bayrou, o obstinado”, o dia em que a conheceu num restaurante.
Com seis filhos, nenhum deles político, e 21 netos, divide os dias entre um modesto apartamento T2 em Paris e a pequena aldeia de Bordères, com apenas 700 habitantes e não muito longe dos Pirenéus, a terra natal onde manteve sempre casa e se dedica à criação de cavalos. É lá o refúgio para onde se desloca sempre que a agenda o permite.
As origens modestas de Bayrou levaram a que até hoje continue a ser considerado um “homem do campo”, designação a que não se furta e da qual se orgulha. Fala béarnais, língua tradicional da região de Béarn, de onde é natural, que foi aprendendo em criança, ao mesmo tempo que lutava contra um problema de gaguez que só em adulto conseguiu debelar.
Simultaneamente, ajudou sempre os pais na lavoura. Ainda assim, foi aluno brilhante, o que o levou à Universidade de Bordéus, onde concluiu licenciatura e mestrado em Literatura Clássica, área em que se especializou, vindo mesmo a tornar-se um sucesso o seu livro sobre a vida do rei Henrique IV. Tomou contacto com movimentos pacifistas, próximos da filosofia do indiano Ghandi, mas o seu percurso político haveria de não passar pela Esquerda.
Depois de cinco anos como professor, em 1979 foi chamado a colaborar com o então ministro da Educação, Pierre Méhaignerie, de quem se tornou próximo. Foi depois conselheiro do Parlamento Europeu, cargo que manteve até conseguir a eleição pela primeira vez como deputado nacional, em 1986, pela UDF, então importante formação de centro-direita em França, que congregava vários partidos desta área política, como o CDS, de que Bayrou era militante e chegaria a ser líder.
Foi o início de uma escalada rápida que o posicionou entre as figuras mais relevantes da Direita francesa, apesar de não se assumir como tal. “Sou um democrata, um homem da terceira via”, assim se definiu em entrevista ao jornal “The New York Times”, em 2007, ano em que fundou o partido Movimento Democrático, que nunca atingiu projeção de maior e que hoje está incluído na coligação Ensemble, de Emmanuel Macron, o chefe de Estado que sempre apoiou e que 2017 o indicara ministro da Justiça, cargo que deixou ao ser acusado de peculato com dinheiros do seu partido.
O caso arrastou-se e só veio a ser concluído em fevereiro deste ano, quando um tribunal declarou Bayrou inocente. Foi o levantar das cinzas do homem que sempre conciliou as suas raízes rurais com ambições de poder central. E que chega agora a primeiro-ministro, num dos momentos mais conturbados da história política de França.
Cargo: Primeiro-ministro de França
Nascimento: 25/05/1951 (73 anos)
Nacionalidade: Francesa (Bordères)