Efrain e a beleza humana
Esta semana faleceu subitamente o lindo Efrain Almeida. Em Portugal, tinha o coração entregue a pessoas como as da Galeria Graça Brandão, com o José Mário Brandão a cuidar dos amores há décadas, as dos Maus Hábitos, Daniel Pires e Isaque Pinheiro ao comando, e tinha o coração às mãos do meu amigo Albuquerque Mendes.
Desde há uns poucos anos, o Efrain estava também nos meus mais sinceros afectos. Tive imediata noção de ser uma fortuna conhecê-lo, porque quaisquer cinco minutos na sua presença resultavam na evidência de uma alegria muito poética, muito carinhosa, que na verdade estava em toda a sua obra: a necessidade de sacralizar o Mundo, de o sanar, de pertencer ao Mundo criando uma cidadania do bem e do amor. Efrain era o próprio colibri. Beijava as dores, todas as dores, mudava o que era triste para belo e importante, para conhecimento e maravilha.
Estava apenas com 60 anos de idade e eu contava com ele para mais mil voltas ao sol. Íamos ter encontros e viagens, íamos ao Cariri ver as pessoas, as paisagens e os bichos. E queríamos encontrar o senhor que fez o fantasminha que hoje tenho no quarto. Ainda combinávamos acerca do quadro do Tomás e das carteiras da Vivienne Westwood que pareciam piratas mas eram mesmo verdadeiras. Aliás, o nosso plano era multiplicar tudo quanto fosse verdadeiro, sobretudo aquilo que trazia aspecto de deitado por fruto, coisa de tronco, de chão, de dente caído, de pena encontrada, de semente que empederniu, de pedra que se pode embelezar. O Efrain esculpia sobretudo sua própria vida, ele fazia de qualquer coisa um pouco de sua natureza, de sua própria beleza e desse sorriso fácil que oferecia pura simpatia.
O Brasil e o Mundo perderam um dos seus maiores artistas. E eu vi como se distribuiu o choro pelos amigos. Com a chegada do Outono, justamente quando chegava nosso Outono, chegando a Primavera ao Brasil, o Efrain levantou como um pouco de orvalho, a simples humidade que evapora, sem aviso, sem alarde, só graça e ternura. De algum modo, por poesia, espero que volte a aparecer nas neblinas, pousado nas pétalas, criando cintilações, milagres por toda a parte, como olhos de Santa Luzia acendendo pelas mãos de toda a gente.
A extrema beleza humana. Efrain Almeida perdura em sua obra, que é a extrema beleza humana.
*O autor escreve de acordo com a anterior ortografia