Dos mais conceituados árbitros portugueses, Artur Soares Dias quis sempre ser o que foi. Inspirou-se no pai, já falecido, formou-se nos bancos da universidade e cresceu no futebol, de onde não deverá sair tão cedo.
Aos 45 anos e mais de 700 jogos depois, 298 dos quais no principal escalão português, Artur Soares Dias despediu-se da arbitragem. A decisão estava tomada há um ano, só agora a revelou. Não da forma que imaginou. No mesmo dia em que o fez, um vídeo nas redes sociais mostrava a sua presença numa festa em casa do médico e amigo Fernando Póvoas, na qual também constava, entre outros, Jorge Nuno Pinto da Costa, ex-presidente do F. C. Porto. “Se soubesse que ele lá estava, não iria. Temos de nos proteger muito porque a sociedade não vê isto com bons olhos. Nunca privei com dirigentes de clubes, não era agora que teria necessidade disso”, defendeu-se, em entrevista ao jornal “A Bola”.
A arbitragem está-lhe no sangue desde as raízes. Natural de Vila Nova de Gaia, acompanhou de perto a carreira do pai, o também árbitro de primeira categoria Soares Dias (1951-2019), de quem herdou, além do apelido, o prazer de dirigir partidas de futebol. Acompanhava-o de perto pelos estádios, treinava com ele durante a semana. “Muitas vezes o vi a correr e a fazer exercícios com o pai nas sessões que decorriam no Estádio do INATEL, no Porto, ou na Maia. Não era de ficar só a assistir desde a bancada, gostava de executar na prática”, recorda o ex-juiz José Leirós. “Nessa altura já dizia que queria ser árbitro”, rebobina no tempo.
Sentiu o frenesim do futebol pela primeira vez nas bancadas do Estádio da Luz ao assistir a uma partida dirigida pelo progenitor e marcou em si mesmo a sentença de futuro. “O pai ficou muito feliz com a decisão do Artur de lhe seguir as pisadas”, garante José Leirós.
A passagem de testemunho deu-se a 15 de junho de 1997, no Estádio dos Barreiros, no Funchal, onde Soares Dias se despediu do apito num Marítimo-União de Leiria (2-0) e simbolicamente entregou ao filho em pleno relvado a sua camisola de árbitro. A partir daí foi sempre a subir.
Ao mesmo tempo que concluía a licenciatura em Recursos Humanos pelo Instituto Politécnico de Gestão e Tecnologia, depois de um percurso exemplar como estudante na Escola Secundária Almeida Garrett, em Gaia, dava passos sólidos no futebol. A estreia na Liga aconteceu a 23 de outubro de 2004, num Moreirense-Rio Ave (0-0), tinha apenas 25 anos. Nunca mais parou.
Nomeado internacional em 2010, tornou-se Árbitro de Elite da UEFA em 2018. Este ano, foi o quarto português a dirigir uma final europeia, depois de António Garrido, Vítor Pereira e Pedro Proença, ao estar presente no decisivo Olympiacos-Fiorentina (1-0), da Liga Conferência, em Atenas. Fez depois o Euro 2024, na Alemanha, que juntou no currículo ao Euro 2020, aos Jogos Olímpicos também de 2020, e ao Mundial de 2018, este como VAR.
“É um líder, tem personalidade forte e em campo soube sempre colocar os limites exatos até onde os jogadores poderiam ir. Conquistava o respeito dos atletas com naturalidade e por mérito próprio”, define Rui Licínio, árbitro assistente que acompanhou Artur Soares Dias durante 17 anos. “Além disso, é capaz de defender os amigos até ao limite”, acrescenta.
Dos primeiros árbitros a abraçar o profissionalismo, trabalhou antes em várias empresas, designadamente multinacionais, e tirou um MBA em Administração e Gestão na Universidade Lusíada de Lisboa. Deu aulas como professor convidado na Universidade Lusófona e na Coimbra Business School. Ainda o faz no Instituto Universitário da Maia, convidado por José Neto, que trabalhou na equipa técnica de José Maria Pedroto no F. C. Porto. “Foi o aproveitar das mestrias específicas de alguém com coragem, abnegação e competência”, salienta o docente e investigador.
Casado e com dois filhos, Artur Soares Dias sempre protegeu o lado familiar. Adora jogar golfe e perde-se por um bom sushi, a comida favorita. Apesar de não ser um bom garfo, não resiste a todo o tipo de doces. “É a perdição dele”, afiança Rui Licínio.
Fechada a carreira na arbitragem, promete não ficar por aí. Que é como quem diz, no futebol, onde já lhe apontam a presidência da Liga de Clubes. “Felizmente, posso ser qualquer coisa, mas não é qualquer coisa que eu vou ser”, assegura, enigmático.
Cargo Ex-árbitro de futebol
Nascimento 14/07/1979 (45 anos)
Nacionalidade Portuguesa (Vila Nova de Gaia)