![Imagem Imagem Abu Mohammed al-Jolani](https://www.noticiasmagazine.pt/files/2024/12/Imagem-Imagem-Abu-Mohammed-al-Jolani-1200x675.jpg)
Os EUA ofereceram dez milhões de dólares pela sua cabeça quando esteve ao lado de radicais islâmicos. Moderou-se e colocou ponto final no pesadelo da Síria.
Pode cair em menos de uma semana um regime ditatorial de cinco décadas e terminar uma terrível guerra civil de 14 anos que causou quase 600 mil mortos – números da ONU? A história recente da Síria comprovou que sim. E com uma figura principal à cabeça: Abu Mohammed al-Jolani, o homem que liderou a caminhada triunfante até Damasco, a capital, derrubou Bashar al-Assad e fez sair às ruas em júbilo uma população sedenta de liberdade.
A história de al-Jolani é, porém, um labirinto de mistérios, que ele próprio não ajuda a dissipar, tão poucas são as suas declarações públicas. Numa das poucas aparições perante as câmaras, em 2021, foi entrevistado pela PBS, a estação pública dos EUA. Revelou que adotou o nome Jolani como homenagem aos Montes Golã, território historicamente disputado entre Israel e a Síria e de onde é proveniente a sua família, de lá expulsa aquando da Guerra dos Seis Dias, em 1967.
Na mesma entrevista, adiantou que o seu passado de radical islâmico tinha ficado para trás e mostrou-se convicto que a sua missão à frente da Organização pela Libertação do Levante (OLL)era apenas uma: derrubar o poder vigente na Síria. “Há um ponto em comum entre os EUA e a OLL: a luta contra Assad, os seus aliados russos e iranianos, e o ISIS”, disse então. “Esta região não representa uma ameaça à segurança da Europa e da América, nem é um local de preparação para executar uma jihad [guerra santa]”, assegurou.
Parecia longe o passado radical de Abu Mohammed al-Jolani, que, em 2003, lutara contra os EUA na Guerra do Iraque, integrara as fileiras da Al-Qaeda, de Osama Bin Laden, e ajudara a formar o Estado Islâmico. Pertenceu à chamada Frente Nusra, defendeu a aplicação da sharia (a lei islâmica) em todos os territórios conquistados na Síria, foi acusado de crimes. “A guerra da al-Nusra é contra pessoas que mataram, torturaram e estupraram sunitas”, explicou em declarações à televisão Al-Jazeera, em 2015.
Teve a cabeça a prémio pelos EUA, que ofereceram uma recompensa de até dez milhões de dólares a quem oferecesse informações que levassem à sua captura. “Sob a liderança de al-Jolani, foram realizados vários ataques terroristas por toda a Síria, frequentemente visando civis, nomeadamente o massacre de 20 moradores na vila de Qalb Lawzeh, na província de Idlib”, descreveu o Departamento de Estado dos EUA.
A transição para uma postura pessoal e militar ocorreu a partir de 2016, quando cortou todos os laços com a Al-Qaeda, com a qual entrou em conflito. A drástica mudança de Jolani percebeu-se, também, na alteração física e de indumentária. Abandonou a barba comprida, associada aos radicais islâmicos, e o turbante, adotando um rosto menos preenchido a encimar uniforme militar ou, mais raramente, roupa civil. Ainda assim, as aparições públicas continuaram escassas.
À frente da OLL, em 2017 começou por criar uma frente civil que viria a estabelecer as bases para a conquista de território e de poder na Síria. Estabeleceu um Governo sombra, cuja estrutura integrava primeiro-ministro e ministérios, e passou a coordenar equipas de apoio nas zonas afetadas pela guerra que a OLL controlava. Simultaneamente, integrou outros grupos de combate a Assad e procurou cativar a população civil. “Colocou em movimento uma transformação que poucos poderiam ter imaginado, começando a clamar por tolerância religiosa e pluralismo”, resumiu a agência AFP. “Um homem designado como terrorista pelas capitais ocidentais e, ao mesmo tempo, o arquiteto por trás da criação de instituições dotadas de rara eficácia”, notou o jornal francês “Le Monde”.
Filho de uma professora de Geografia e de um reputado engenheiro de petróleo que na juventude foi detido e preso até conseguir fugir para o Iraque e depois para a Jordânia, Jolani, registado originalmente como Ahmad Hossein al-Shara, nasceu e viveu na Arábia Saudita até aos sete anos, enquanto o pai trabalhava no país. A família foi depois autorizada a regressar à Síria, nunca esquecendo o passado difícil. Agora, ele tem o futuro da Síria em mãos.
Cargo: Líder da Organização pela Libertação do Levante
Nascimento: 1982 (42 anos)
Nacionalidade: Síria (Riade, Arábia Saudita)