Susana Romana

A polémica hilariante com as aulas de Cidadania

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Muito se discutiu por estes dias a disciplina de Cidadania. Eu, que tenho um filho na escola pública, fiquei confusa. É que ele nunca chegou a casa vestido de drag queen e a cantar Elton John. Andará a baldar-se às aulas?

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Dizem vozes mais conservadoras que os pais devem poder opinar sobre o que os filhos dão na escola. Concordo. Gostava, por exemplo, que ensinassem ao meu menos matemática. É que ele já sabe mais do que eu e depois o ambiente lá em casa fica desconfortável. A tabuada dos sete é contra o meu estilo de vida, sabem?

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Paulo Núncio foi à SIC dizer que nas salas de Cidadania desenhavam bigodes às raparigas e pintavam os lábios aos rapazes. Gravíssimo. Na escola do meu, obrigaram-no a identificar-se como uma árvore: vestiram-no de pinheirinho para a festa de Natal.

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Aliás, toda esta discussão sobre se estaremos a conversar com crianças sobre sexualidade demasiado cedo é hilariante para quem cresceu com a Ana Malhoa de minissaia a fazer o “Buéréré” ou com o canal 18 ainda descodificado.

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O ministro da Educação foi chamado a comentar sobre quais conteúdos de Cidadania são problemáticos. Não conseguiu dar um exemplo. Pelos vistos, o PSD fez como eu antes de alguns testes: não estudou e esperou que encher as respostas de palha ajudasse a passar.

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Esta discussão começou porque Montenegro disse no discurso de encerramento do congresso do PSD que ia mudar a disciplina. Andam preocupados que os rapazes apareçam em casa a dizer que agora são raparigas, mas não se ralam que o PSD apareça nos telejornais a dizer que agora é o Chega.

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Enquanto isso, milhares de fotografias íntimas de mulheres são trocadas sem consentimento num canal do Telegram com quase 70 mil utilizadores. Assim é que deve ser a sexualidade, pequenitos: às escondidas, desrespeitosa e criminosa. E aprende-se na net e não na escola, como Deus quer.

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Elon Musk prometeu sortear por dia um milhão de dólares a quem assinar a sua petição para apoiar Donald Trump. É tipo concurso, portanto. E o que está na montra final? Uma máquina de lavar roupa, um espremedor, um ditador e um bilionário que não foi abraçado em criança.

[Artigo publicado originalmente na edição do dia 27de outubro da “Notícias Magazine”]