O Consultório de Sexualidade por Mafalda Cruz, radioncologista e sexóloga.
Há uns tempos encontrei a minha filha adolescente a tocar-se. Fiquei sem saber o que fazer. Devemos ignorar ou falar sobre o assunto com os filhos?
Maria S.
Vamos por partes. Primeiro, falemos das crianças. As crianças exploram os seus genitais desde muito cedo, por volta dos dois anos de idade. É algo normal no seu desenvolvimento e é também uma forma de autodescoberta. Quando o fazem, embora lhes seja prazeroso, não está associado a nenhum cariz sexual. No caso de esta exploração acontecer em sítios públicos, é importante não julgar. Em vez de recriminar, deve interromper e redirigir a atenção da criança, explicando que é normal tocar no próprio corpo, mas que o deve fazer num local privado. Deverá também estar atento e partilhar a situação com um profissional de saúde no caso de estes comportamentos acontecerem de forma repetitiva ou de não ser possível redirigir a atenção da criança.
Em relação aos adolescentes, caso encontre o seu filho ou filha a masturbar-se, o que deve fazer é manter a calma e respeitar a sua privacidade. Depois de passar a fase do embaraço, quando todos se acalmarem, poderão tentar conversar sobre algumas questões relacionadas com a sexualidade. Lembre-se: sexualidade não é só sexo. São muitos os assuntos que podemos explorar com os nossos filhos e que farão deles cidadãos mais informados, inclusivos e empoderados. Podem conversar sobre questões como intimidade, prazer, diversidade, consentimento ou como navegar no mundo digital em segurança.
É normal que este seja um tema desconfortável para ambos, por isso uma ideia será oferecer aos filhos livros sobre sexualidade para completar as conversas. Mas há uma coisa que considero mesmo muito importante: é fundamental que não envergonhe o seu filho por se estar a masturbar e nunca o ameace com coisas que podem correr mal caso o faça muitas vezes (sim, isto acontece). A punição destes comportamentos é confusa e pode trazer várias consequências negativas na forma como as crianças e adolescentes vão viver a sua sexualidade daqui para a frente. E no que toca aos nossos filhos, o que queremos é que eles vivam de forma livre, segura e feliz. Concorda?
(*A NM tem um espaço para questões dos leitores nas áreas de Direito, jardinagem, Saúde, finanças pessoais, sustentabilidade e sexualidade. As perguntas para o Consultório devem ser enviadas para o email [email protected])